• Capítulo Dois

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Minha mãe fez um escândalo por causa do nariz, mas não deixei que ela fosse arrumar algum tipo de confusão na escola por causa disso, meu nariz nem sequer quebrou, sabe? E além do mais, aquela garota parece já ter muitas outras coisas pra lidar. De qualquer forma, ela comprou uns 15 remédios diferentes, sem nenhuma ironia, ela exagera.

Eu recebi atestado pra ficar fora da escola por pelo menos dois dias, isso foi o cúmulo. Eu não queria me atrasar nas matérias e muito menos perder os primeiros dias de aula, que são os mais interessantes na minha opinião. Cinco minutos perdidos e você já não sabe o que pode tá acontecendo naquela escola.

Já que não tinha muitas opções do que fazer, resolvi atormentar Sam com uma ligação as oito e meia da manhã:

— Bom dia!

— Hm, talvez pra quem não acordou OITO HORAS DA MANHÃ com uma ligação que suponho que seja irrelevante.

— Que mal humor, eu hein. Só liguei pra saber como você tá, já que esqueci de perguntar ontem...

— É, percebi mesmo que você estava focada em outras coisas. – Ele percebe que fico em silêncio. – Anyways, desculpa, só tive uma péssima noite de sono. Eu não tô me sentindo "as mil maravilhas", mas tô melhor.

Sam tem ansiedade e esses dias a situação tá um pouco pior que a normal. Os pais dele estão procurando o divórcio e andam discutindo muito ultimamente. Eles passaram uma boa parte das férias numa casa de praia, que é onde o pai de Sam e Liz está agora, enquanto a mãe deles voltou para casa junto com eles. Até eu que não estou envolvida consigo sentir o estresse que eles estão passando.

— Isso já é alguma coisa.

Me sinto mal por ter acordado Sam, eu devia ter pensado melhor antes de ligar.

— Desculpe ter ligado essa hora. – Continuo.

— Relaxa. – Ouço barulho de água e vidro. – Enfim, vem hoje?

Abro um sorriso.

— Vou! Demorou um tempão pra que minha mãe deixasse, mas consegui apelar pra umas coisinhas.

— Me pergunto se esse esforço todo é por mim.

— Cala a boca, você sabe que é!

Eu gosto muito de Liz, mas Sam sempre vai ser minha prioridade. É difícil o fazer acreditar nisso.

— Não sei de mais nada depois de ontem. – Ele dá uma gargalhada.

Fico repassando as cenas de ontem na minha cabeça. Que dia.

— Ela vem? – Ouço um sussurro do outro lado da linha. Preciso especificar?

— Sim, Liz! A Kristen vem pra cá mais tarde, viu?! – Ele aumenta bastante o tom da voz, suponho que pra provoca-la e me fazer escutar.

— Idiota, vai se fuder. – Ela diz, um pouco alto dessa vez.

Tento disfarçar o sorriso mas lembro que eles não conseguem me ver, então não me contenho. Cara, é surreal o que ela consegue fazer comigo e é estranho que não tenha a mínima noção disso. Quer dizer... talvez tenha.

*

Agnes apareceu na minha casa depois da escola pra almoçar e me trouxe uns bolinhos de framboesa, já que sabe que são meus favoritos. Sabe, ela pode ser uma boa amiga quando quer... na verdade, ela sempre foi, mas paramos de nos falar tão frequentemente por conta de seu relacionamento. Digamos que no momento, ela sabe o mínimo sobre o que tá rolando na minha vida.

Quando subimos pro meu quarto, ela pediu desculpas por ontem, mas não vi necessidade, já que fui eu a péssima amiga.

— Eu tenho que te contar uma coisa, mas quero que prometa que vai tentar sentir o mínimo de compaixão por mim, tá? – Agnes diz, enquanto para de folhear uma revista, que eu não faço a menor ideia de onde saiu.

Pós-VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora