Capítulo Nove

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SETEMBRO

Mary Ann Nichols era seu nome. Ela fora encontrada por volta das 3:40h da manhã do dia 31 de Agosto, na Buck's Row em Whitechapel. Sua garganta fora grosseiramente cortada duas vezes, seu tronco fora inúmeras vezes esfaqueado e a parte inferior de seu abdômen fora aberto, expondo seus órgãos.

A polícia estava tratando do homicídio como sendo mais uma das horrendas fatalidades que se poderia encontrar no East End. Não fazia tanto tempo assim que o corpo de uma outra mulher havia sido encontrado praticamente todo esvaído de sangue naquela mesma região, uma vítima de estupro. O agressor fora criativamente perverso o bastante para utilizar uma faca em suas partes íntimas. Mary Ann, portanto, não parecera tão diferente dos outros casos para o Departamento de Investigação Criminal.

Então o corpo de Annie Chapman fora achado por volta das 6:00h da manhã num sábado, oito dias depois. Dois cortes na garganta, várias perfurações no tronco e uma abertura de fora a fora no abdômen. Ela fora deixada na porta de um quintal residencial na Harbury Street em Spitafields com a mesma brutalidade que assolara Nichols. A polícia teve de fazer a constatação mais óbvia.

Mesma causa mortis, mesmo assassino.

Os moradores de Whitechapel foram entrevistados, como era de costume. Mas com um novo corpo em um outro bairro do East End, inspetores da Interpol foram envolvidos em ambos os casos, que passaram a ser investigados em conjunto e analisados sobre semelhante escrutínio pela justiça.

As notícias nos jornais corriam soltas e não apenas a população leste da cidade passara a temer as noites que se seguiram após os chocantes ataques. A Condessa Styles detrás dos muros de sua mansão em Mayfair, no West End, também se arrepiava ao ler as notas no London Gazette, não importava o quão distante a ameaça desoladora parecesse estar de tocá-la.

Ela nunca tivera o hábito de ler o jornal, preferia ouvir as notícias da boca das pessoas, por mais que um detalhe ou outro pudesse ser aumentado aqui e ali. Mas aqueles assassinatos manejaram impressioná-la tanto que a moça desenvolvera o costume de apanhar as páginas grossas do jornal matinal para si assim que o marido realizava a própria leitura.

O Conde, por sua vez, não apreciou aquele novo hábito da esposa. Ele achava descabido da parte dela ansiar daquela maneira pelo consumo do horror durante o desjejum e por isso passou a adiar sua leitura para quando se ausentava para o escritório, na esperança de que a mulher se desvinculasse de tal inclinação. Para sua infelicidade, aquela artimanha de nada adiantou e como se portasse um relógio dentro de si, a Sra. Styles continuava a retirar o London Gazette das mãos dele assim que o jornal lhe descobria o rosto.

Estavam no décimo quinto dia do mês e pela primeira vez desde que as violentas notícias haviam preenchido a impressa, Raven ocupava-se com preocupações outras que não as atualizações investigativas da polícia. Ela iria almoçar com as ladies Abbey e Kline, juntamente da senhora Hale, e não conseguia se decidir entre dois de seus chapéus. Na companhia de tais mulheres, a Condessa sentia a necessidade de estar absolutamente perfeita e portanto tal dúvida, embora supérflua, a estava inquietando tremendamente.

― Vamos, Frances. Escolha.

Os ombros da criada tensionaram na mesma hora com a passada daquela responsabilidade. Ela respirou fundo e se aproximou de sua senhora, que estava diante do espelho já vestida e penteada.

― Este ― Raven posicionou um chapéu azul marinho sobre a cabeça, com flores brancas e vermelhas ornamentadas no topo. ― ou este. ― ela mostrou então um modelo preto com penas cinzas, um pouco menor e mais discreto que o anterior.

Seu vestido era vinho, mas a capa que colocaria por cima seria um azul quase negro. Ela estava certa de que ambos combinavam muito bem com sua roupa, mas ainda assim o medo de escolher errado a estava cegando.

𝐑𝐢𝐩𝐩𝐞𝐝 • H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora