Tensão

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Naquela véspera de natal, os flocos tímidos de neve caíam do lado de fora, pintando o deque da casa de Levi de branco. Estava anoitecendo e Levi estava bem agasalhado e debaixo das cobertas deitado na sua cama. Para ele, mesmo que fosse véspera de natal ou que o seu aniversário fosse chegar nas horas seguintes, era apenas mais um dia normal.

Talvez ele falasse isso para enganar a si mesmo, já que diziam que uma mentira contada várias vezes se torna uma verdade. Pegar o seu celular naquela hora e ver suas redes sociais era como pedir para se sentir mais sozinho, já que a maioria das pessoas estavam postando fotos e stories no Instagram com parentes, amigos e namorados. Ele ficava feliz por essas pessoas, mas ficava mais melancólico com a sua situação atual, mesmo que ela já fosse "normal".

A única coisa que havia progredido para melhor foi a sua "relação" com Eren. Depois do dia do deque que Psiquê havia tido filhotinhos, eles estavam se aproximando aos poucos. Não estavam brigando mais, o trabalho estava fluindo bem e um dia eles, Hanji e Petra saíram após o expediente como uma espécie de confraternização de fim de ano e tudo havia corrido bem, eles conversaram sobre várias coisas e era um dia legal para se lembrar.

Mas agora ele estava sozinho. Nesses dias ele sentia falta do seu avô, Kenny. O velho era animado nessas datas e, na época em que ele ainda era vivo, as coisas eram diferentes. Mesmo que sua mãe não ligasse para nada dessas coisas, apenas com o próprio casamento, seu avô ainda conseguia "suprir" a ausência de pais amorosos em um momento conturbado da sua vida, sempre fazendo questão ir visitá-lo, de montar árvore de natal e o parabenizava assim que o relógio batia meia-noite. Por vários anos passou sozinho com ele, mas essas eram as suas lembranças favoritas. Ele por muitas vezes o livrou das palavras doloridas da sua mãe e da solidão de ser filho único naquela família.

As lembranças o arrebataram quase que instantaneamente ao último natal que passou com ele.

Apesar da casa grande e luxuosa, uma árvore pequena e simples enfeitava o canto da sala. A neve caía lá fora naquela véspera de natal, no dia seguinte ele faria quinze anos. Ele estava com vontade de comer um doce e ponderou muito antes de parar em frente a sua mãe, mas não havia nada demais, seria apenas um pedido simples.

— Mãe — Levi chamou Kuchel, que mexia dentro da própria bolsa.

— O que foi? — respondeu sem encará-lo e sem muito ânimo.

— Estive pensando, será que amanhã você poderia comprar aquele bolo de chocolate e morangos para mim? É o meu aniversário e estou com vontade de comer.

Kuchel tirou os olhos azuis da bolsa, meio incrédula com o pedido.

— Levi, escuta — ela começou após um suspiro fundo. — Acho que você tem que começar a pensar mais na sua mãe. Eu me sacrifiquei por você por quinze anos e é assim que me retribui?

— Mas... — ele murmurou, se arrependendo de ter pedido aquilo. — Esquece, me desculpa.

— Você é muito egoísta, não vê a situação que eu e seu pai estamos? Estamos quase nos separando e você ainda quer pedir alguma coisa? Não vê a gravidade disso? — ela jogou a bolsa no sofá, cruzando os braços. — Minha cabeça está cheia de coisas, ainda tenho um monte de casos para terminar, mas você não pensa em nada disso.

— Certo, esquece.

— E ainda acha que está certo. Me pergunto onde foi que errei na sua criação.

— Kuchel, não desconte as suas frustrações no menino. Ele não tem nada a ver com a sua vida e seu casamento falido — a voz de Kenny soou do outro lado da sala, fazendo com que a mulher desse um pulo do sofá.

SETEMBROS ( ERERI - RIREN )Onde histórias criam vida. Descubra agora