Dandara.
Domingo, 02h30 da manhã.
Era madrugada e eu já estava pronta, eu tinha contado ao Sebastião que eu iria vender bebidas durante do baile, o que era mentira, óbvio. Pra ele não desconfiar eu vim dormir na casa da Verena, trouxe todas as minhas coisas.
Durante a semana eu tinha feito sobrancelhas, unhas e depilação à cera. Eu deveria exatamente do jeito que o chefe desejava.
A calça leggin preta marcava o meu corpo, a melissa no pé ainda tinha cheiro de nova e a blusa polo branca me deixava um pouco diferente. A pedido do Índio eu e Verena fomos até o supermercado e preparamos uma refeição digna, quando arrumamos as sacolas nós colocamos alguns produtos de higiene e tiramos os doces e biscoitos da embalagem.
Verena - Você já está pronta? O índio já tá vindo - eu fiz que sim com a cabeça e ela se aproximou de mim - Amiga, você tem certeza disso? A gente pode desistir, eu posso fazer isso por você e depois você arranja um jeito de me pagar porquê eu sei que você não vai aceitar.
Dandara - Eu pensei milhares de vezes nisso, amiga - suspirei - Mas esse dinheiro que eu vou ganhar não paga nem metade do tratamento, eu não posso me endividar - ela assentiu.
Verena - Eu te entendo, estou com você - ela me abraçou - vou avisar que estamos prontas.
Verena vestia uma calça leggin preta que nem eu mas ao contrário de mim ela usava um top preto curto e por cima uma jaqueta jeans.
Às 03h00 da manhã nós já estávamos a caminho do presídio. Iríamos fazer parte de uma visita íntima, tínhamos recebidos documentos falsos, deveríamos fingir que éramos esposas dos dois homens que estavam lá dentro. Por mais nervosa que eu estivesse e envergonhada, por dentro eu orava para que esse homem gostasse de mim e desejasse que eu fosse vê-lo mais vezes.
Uma pessoa boa ele não era, se fosse não estaria lá dentro mas eu precisava do dinheiro dele, precisava que ele me desejasse. Era um dinheiro fácil e talvez um pouco sujo, eu não estava nem um pouco orgulhosa de mim mesma mas eu precisava fazer aquilo, não tinha mais nenhuma outra maneira.
Às 04h30 da manhã nós duas já estávamos na fila, Índio nós deu mais algumas instruções para que tudo ocorresse de maneira simples. De qualquer forma ainda sim haveria alguém lá dentro pra nós auxiliar, com certeza essa visita não estaria sendo barata, eu não era profissional mas também não podia decepcionar.
Verena - Fica tranquila - pegou na minha mão - Você é bonita e gostosa, tenho certeza que o Falcão vai ficar louco por você e quem sabe você vira amante fixa, vai ter dinheiro até pra jogar no lixo.
Falcão, eu conhecia esse nome mas não lembrava do rosto dele. Sabia quem ele era, a história da família dele mas não o conhecia.
Dandara - Você sabe que não é isso que eu quero, só quero ajudar o Tião, não tenho nenhuma ambição por essa merda.
Verena - Mas você sabe que vai precisar se esforçar pra conseguir esse dinheiro - eu assentir.
Algum tempo depois o portão foi aberto, eu olhei para trás e a fila estava enorme. Milhares de esposas, mães e filhos esperando ansiosos para visitar seu maridos, pais e filhos. Às vezes as pessoas esquecem que quem vive lá dentro também tem família, não consigo imaginar o sufoco que deve ser ter que se prestar à esse papel de estar aqui todo final de semana.
Ao entregarmos os documentos uma moça loira veio até nós, nos levou até uma sala privada e pegou o dinheiro que estava dentro da bolsa. Após isso ela nos encaminhou para as salas separadas sem mesmo ter nós revistado. O que é que o dinheiro não faz, né? A cada segundo meu coração batia mais forte, a ansiedade tomava conta de mim e eu pensava em desistir mas não tinha como, eu não podia voltar atrás, não era justo com o homem que me criou durante toda a vida.
Eu estava distraída quando a porta se abriu e eu me virei observando o semblante fechado daquele homem. O cabelo estava bem cortado pra um presidiário, as tatuagens por todo o corpo tomavam o espaço de algumas cicatrizes.
Falcão - Tu é muda? - quebrou o silêncio e eu o observei ele passar o olhar por todo o meu corpo.
Dandara - Não... - suspirei - Meu nome é Dandara.
Falcão - Sei muito bem qual é o seu nome - ele se aproximou de mim colocando as mãos no meu pescoço.
Falcão agia como um lobo faminto e ele realmente deveria estar, tanto tempo aqui dentro, pra um homem como ele deveria ser difícil ficar muito tempo sem uma mulher à disposição. Eu estava nervosa, não era fácil ter que me entregar à uma pessoa que eu não sentia nada e que não sentia nada por mim, eu não era acostumada com isso mas a partir de agora eu teria que me acostumar a agir assim, como uma puta.
Falcão - Qual é o seu problema, porra? - ele se afastou - tu tá sendo paga pra me satisfazer - ele pegou no meu cabelo.
Ele falou percebendo o meu nervosismo e desconforto mas logo tratei de contornar a situação.
Dandara - Não, nada - respirei fundo - me perdoe - dei um selinho nele que me pareceu ficar surpreso e me ajoelhei em sua frente começando o trabalho que eu tinha sido paga.
•••
Falcão - Você é bem tímida pra uma puta - ele fala rindo após eu entregar o cigarro de maconha em suas mãos.
Fingir não escutar aquela merda, eu precisava me controlar pra não falar nenhum tipo de besteira. Até porquê pra ele eu era exatamente isso, era desse jeito que ele me enxergava e na verdade era isso que eu havia me tornado.
Falcão - Uma puta tímida, essa é boa - riu.
Dandara - Eu não sou puta - falei firme já não aguentado mais.
Falcão - Não é puta? - ele arqueeou a sobrancelha - E por acaso você sentou pra mim de graça? Eu não te paguei?
Dandara - Pagou, mas... - ele me interrompeu.
Falcão - Então pronto, tô te pagando, tu tá aqui pelo meu dinheiro. É puta sim.
Dandara - Puta é a senhora que te pariu! - falei com raiva e foi aí que ele veio pra cima de mim.
Falcão - Quem tu acha que é pra falar da minha coroa? Tu cala essa tua boca imunda antes que eu mande encherem ela de bala pra tu acordar com a boca cheia de formiga, tô sendo até bem tolerável contigo, vagabunda. - me empurrou em cima da cama.
Dandara - Você é um assassino e nem por isso eu estou te tratando com um, eu exijo o mínimo de respeito da sua parte.
Falcão - Se quisesse ser respeitada não tinha virado puta, agora tu aguenta essa porra! Eu te pago e tu faz sua parte, sem muito papo. Não tô te pegando pra ser minha colega, tô te pegando pra tu me dar essa buceta.
Escroto, nojento!
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𝗖𝗼𝗺𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗩𝗲𝗿𝗺𝗲𝗹𝗵𝗼
Teen Fiction𝙈esmo quando os sonhos se perdem, é possível encontrar um futuro.