7 de agosto de 1986
Eu admito que isso não parece o tipo de coisa que eu faria. Simplesmente esquecer de um dever de casa e matar aula pra não precisar dar explicações do porque eu não fiz. Depois, era só dizer que eu passei mal ou algo do tipo. Ninguém iria descobrir.
Eu estava sentada em uma mesa na floresta, sentindo a brisa suave corroer pelos meus cabelos. Em meus fones, tocava "Everybody wants to rule the world". O barulho de alguns animais nas árvores era nítido, mesmo que longe. Geralmente, eu presto muita atenção nos barulhos. É viciante refletir em tudo o que eu ouço, mas escolho só ignorar por ser normal.
O que é ser normal? Eu não sei. Talvez ser igual a todo mundo, mas eu não quero isso. Hoje em dia, não acontece muito das pessoas me chamarem de estranha, mas quando chamavam, eu encarava como um elogio. Se ser diferente dessas pessoas significava ser estranha, então eu queria. Queria que todos me chamassem dessa forma.
Começaram a parar de me chamar assim quando eu parei de sair com Eddie. Ele era e é, o maior estranho da escola. Essa coroa ninguém tira dele. Agora, o porque, eu não sei.
Escutei passos fundos nas folhas secas ao longe. Olhei para a direção em que eles vinham e, falando nele...
- Becky? O que está fazendo aqui?
- Oi Eddie. Não tenho mais o direito de ir para onde eu quiser?
- Tem, claro. A questão é que está tendo aula. Sabe disso? Ou perdeu o horário?
- Eu sei, idiota.
- Espera aí. Então você está matando aula.
- Você também.
- É, mas isso não é grande surpresa. Você deve ter feito algo muito errado pra estar fora da sala de aula agora.
- Esqueci o dever de casa. Você?
- Nada. Só não estou afim de ficar ouvindo o professor falando ladainha no meu ouvido.
- Você disse que estava se esforçando pra tirar nota alta e a diretora sair do seu pé.
- É, eu disse.
- E então?
- O que?
- Por que está matando aula? Não vai me dizer que você mentiu pra mim. Porque se mentiu, eu juro que quebro a tua cara.
- Não menti!
O olhei desconfiada e ficamos em alguns segundos de silêncio apenas se encarando. Até que Eddie se entregou quando retraiu os lábios, como ele sempre fazia involuntariamente quando mentia.
- Você mentiu! Desgraçado. Por que mentiu?
- Não! Eu menti sobre eu estar matando aula. Não sobre a diretora.
E mais uma vez, os lábios foram retraidos. Ele nem tentou disfarçar.
- Filho da mãe. Eu vou te matar.
Me levantei rapidamente indo em direção à ele. O garoto se assustou e foi para o lado contrário da mesa de onde eu estava. Ficamos correndo dando voltas na mesa. Até que eu o puxei pelos cabelos e ele caiu sobre a grama molhada. O segurei pela gola da camisa e fiquei por cima dele.
- Tá bom. Desculpa! Desculpa. Você me pegou.
- O que passou na sua cabeça pra fazer isso, Munson?
- 40 dólares apostados pelo pestinha do Henderson de que eu não iria conseguir ficar mais próximo de você. Aparentemente, eu ganhei, não é?
O garoto me olhou maliciosamente e eu rapidamente o soltei, com nojo. Que idiota.
- Eu vou matar o Dustin.
- Pelo menos eu vou ganhar meu dinheiro.
- E vai entregar ele pra mim.
- O que?
- Como um pedido de desculpas. Quero 40 dólares até amanhã, ou eu vou invadir sua casa pra jogar gliter rosa até nas suas cuecas, Munson.
- Qual é? Você não pode simplesmente esquecer que eu joguei esse gliter no seu armário?
- Não. E se me entregar fora do prazo, vou cobrar juros também.
- Você não pode me obrigar a te pagar.
- Eu posso e você sabe que sim. Até amanhã, Eddie. Ou sua guitarra também não vai escapar do gliter.
- Não! Espera.
Eu peguei minhas coisas para sair dali, mas o garoto segurou meu braço, me fazendo ficar frente a frente com ele. Estávamos próximos e ele travou por alguns instantes.
- Me solta, idiota.
Eddie tirou suas mãos de minha pele e limpou-as na calça. O olhei de cima a baixo, confusa. Como ele ousava? Passei minha mão sobre meu braço, o limpando também.
- Desculpa. Olha, podemos resolver de outro jeito.
- Qual?
- Te pago 20 dólares.
- Nem ferrando. O que eu ganho com isso?
- Eu sei que você adorou ter passado aquela tarde toda no meu quarto, comigo. Eu acho uma troca justa.
- Só nos seus sonhos, Eddie.
- Não desperdiço meus sonhos com você.
- Nós sonhamos com o que mais pensamos durante o dia. E você parece obcecado por mim.
- Obcecado em te ver brava.
- Talvez. Mas continua tendo ligação à mim.
- Você é muito chata.
- E você é insuportável. Nós não temos um trato. Ou me paga os 40 dólares até amanhã, ou vamos resolver isso na base da violência.
- Por que não briga com o Dustin? Foi ele que teve a ideia.
- Por que acha que eu quero sair daqui? Eu vou matar aquela criança. Torça pra ele não aparecer na minha frente hoje. Se eu o ver na rua...
- Você o mata. Eu entendi. Você ameaça matar muitas pessoas.
- E se essa ameaça tá dando certo até agora, é melhor não bater de frente.
- Mas nunca te vi matando ninguém.
- Não quer ser o primeiro, quer?
O garoto revirou os olhos e respirou fundo, procurando paciência do além. Ele balançou a cabeça negativamente, olhando para baixo e eu saí dali. Pude escutar ele murmurando alguns xingamentos, mas não liguei para isso.
Ele quer me xingar? Que faça. Não vai mudar nada na minha decisão. Por mais que eu amasse aquela guitarra, ela realmente não sairia ilesa caso ele não me pagasse. Ele apostou na minha vida. Tenho todo o direito desse dinheiro. Todo o direito.

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The Annoying Freak Munson
FanfictionBecky Moore. Uma garota de 17 anos que mora em Hawkins. O tipo de pessoa que não quer briga com ninguém. Só com uma pessoa... Edward Munson. Um metaleiro despreocupado que mestra um grupo de RPG na escola. O esquisito irritante, para muitos. Os dois...