5 de agosto de 1986
O último sinal da escola tocou, fazendo os alunos saírem de suas salas correndo. Até parecia uma manada de elefantes loucos para sair daquele lugar. Isso porque hoje ainda é terça-feira. Nem dá para imaginar como vai ser na sexta.
Impressionantemente, Eddie não me encheu o saco hoje. Eu nem cheguei a vê-lo. Ou ele estava matando aula, ou hoje o mundo acaba. Eu precisava lhe entregar seu dever de matemática e procurar por minha barra de chocolate, então fui até seu trailer.
Chegando lá, notei que sua van estava estacionada em frente. Dei três batidas na porta, mas ninguém atendeu. Então, olhei em volta para ver se alguém estava olhando e peguei a chave reserva que estava sempre embaixo do tapete.
Entrei e pude ouvir o barulho do chuveiro ligado, junto com a voz do garoto cantando. É, ele só estava matando aula. Fui até seu quarto e mexi em algumas fitas de música, desorganizando tudo.
O quarto de Eddie nunca foi organizado, mas suas fitas sim. Ele ficaria por um bom tempo procurando as que ele queria e organizando novamente. Dei um sorriso travesso e fui procurar meu chocolate. Eu estava tão concentrada que nem percebi quando ele entrou no quarto.
- Está me assaltando, gatinha?
Levei um susto e voltei meus olhos assustados até ele. O garoto estava só com uma toalha na cintura e um sorriso irônico no rosto. Ele se virou até o armário pegando uma roupa para vestir.
- Não. Vim te entregar seu dever.
- Meu dever?
- É. Cadê meu chocolate?
- O trato era você compartilhar seu conhecimento comigo. Não simplesmente fazer meu dever. - Respondeu me olhando com uma expressão confusa.
- Eddie, veja bem. Eu nunca conseguiria passar mais de cinco minutos no mesmo cômodo que você tentando te explicar algo sem perder a paciência. E desde quando você se importa se aprende algo ou não?
- Eu me importo porque eu estou implorando pra tirar um D com a professora O'Donnels. E quem invadiu minha casa foi você. Dá pra se virar?
Ele fez um gesto com o dedo para eu me virar de costas para ele colocar sua roupa e assim eu fiz. Suspirei e revirei os olhos. Eu odiava o fato dele sempre ter um argumento na ponta da língua.
- Por que você não pode simplesmente aceitar o dever que eu fiz pra você ao invés de me encher o saco?
- Porque minha especialidade é te encher o saco.
- Você me ama.
- Não mesmo.
Desviei meu olhar que estava em um dos pôsteres colados em sua parede, para a cômoda e avistei duas barras de chocolate. Elas eram as minhas favoritas e Eddie não gostava delas, então logo peguei-as e coloquei em minha mochila.
Pude ouvir o garoto deitando na cama e presumi que ele já estava vestido, então me virei de novo, olhando em seus olhos seriamente.
- Não me dá trabalho, Eddie. Está aqui o caderno. Se não quiser, não é problema meu.
- Você é muito chata. Se não vai me ajudar, me devolve o chocolate.
- Você nem gosta desse chocolate. Cria vergonha na tua cara.
- Não gosto dele, mas eu ainda posso conseguir meu dinheiro de volta. Ou você acha que ele caiu do céu?
- Vamos ser sinceros? Por que quer tanto aprender matemática? Deve ter algo por trás disso.
- Não tem.
- Se não me falar, eu não vou te ajudar.
- Tá bom. A diretora disse que fecharia o Hellfire caso eu não tirasse uma nota boa. E eu não consigo aprender matemática só com livros.
- Espera aí. Você leu para entender as outras matérias?
- Você sabe que esse clube é importante pra mim.
Olhei para o chão e pensei um pouco sobre isso. O Hellfire era o único motivo de Eddie ainda estar na escola. Mesmo que eu o odiasse, não queria que ele repetisse de ano novamente. Voltei meu olhar até ele que me encarava esperançoso.
- Ok, eu te ajudo.
- Sério?
- É, mas na sua primeira gracinha, eu saio daqui no mesmo minuto.
O garoto levantou suas mãos em rendição e sorriu. Me sentei em sua cama também, espalhando alguns cadernos e livros nela.
Eddie realmente parecia interessado em aprender as coisas. As vezes, eu percebia ele me encarar com a cabeça voada, mas logo ele voltava para a terra. Lógico que eu consegui perder a paciência com ele mais de uma vez. Nós estávamos ali já fazia um bom tempo.
- Eu não consigo fazer essa. - Suplicou.
- Mas eu já te expliquei e você tinha falado que tinha entendido.
- Mas eu não entendi, Becky.
- Então por que falou que entendeu?
- Porque eu achei que tinha entendido.
- Então vamos lá de novo. Qual sua dúvida?
- Como fatora um trinômio quadrado perfeito?
- Comutamos os termos do polinômio, fatoramos cada termo para identificar o trinômio perfeito e fatoramos o polinômio escrevendo-o como o quadrado da soma de dois termos.
- Eu não sabia que você falava árabe.
- Eu tenho muitos talentos. Agora faz.
Eddie respirou fundo e tentou fazer mesmo sem ter entendido uma palavra minha. Eu estava deitada na cama olhando para o teto, com os pés em um dos travesseiros. Não acredito que eu realmente estou no quarto desse garoto, ensinando matemática para ele. Estou ridiculamente decepcionada comigo mesma.
Olhei para o cacheado que estava fazendo as contas nos dedos. Sua língua estava do lado de fora da boca, mostrando que ele estava concentrado. Admito que eu amava essa mania. Era engraçado. Não pude conter um pequeno sorriso quando o vi assim.
- Me admirando, Becky?
- Só nos seus sonhos.
- Então está pensando no que?
- Não te interessa, Eddie. Para de ser intrometido. Terminou aí?
- Acho que sim.
Me levantei e puxei o caderno para mim. Revisei a equação e notei que ele realmente tinha feito certo.
- Parabéns, você pegou o esquema.
- Sério?
Sorri e escrevi mais algumas equações aleatórias para ele fazer. Depois de lhe entregar o caderno, olhei para meu relógio de pulso e notei que já eram 18:32h.
- Eu tenho que ir. Está ficando tarde. Faz essas equações e me procura amanhã na escola pra eu corrigir.
- Espera. Você já vai?
- É. Eu tenho uma vida, Eddie. E já que eu já compartilhei meu conhecimento contigo, você não precisa mais da minha ajuda.
- Tem certeza?
Me levantei da cama e juntei todas minhas coisas que estavam espalhadas. O quarto dele tinha algumas latinhas de cerveja jogadas no chão, meias sujas em tudo quanto é canto, e eu nem queria saber o que tinha debaixo da cama. Ficava difícil até de encontrar as minhas coisas naquela bagunça.
- Tenho. Ah! Mais uma coisa. Se você contar para alguém que eu te ajudei ou que eu vim aqui em algum momento, você está morto.
Pude ouvir uma gargalhada vindo dele. Saí do seu quarto dando um tchauzinho sem olhar para trás e fui em direção à minha casa. Que humilhação. Nunca pensei em ter que passar por essa situação de novo.
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The Annoying Freak Munson
FanfictionBecky Moore. Uma garota de 17 anos que mora em Hawkins. O tipo de pessoa que não quer briga com ninguém. Só com uma pessoa... Edward Munson. Um metaleiro despreocupado que mestra um grupo de RPG na escola. O esquisito irritante, para muitos. Os dois...