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18 de agosto de 1986

Acho que segunda-feira é um dia amaldiçoado. O relógio marca 00h e o inferno inicia. Até agora, nada de ruim aconteceu e isso é extremamente preocupante. Estou na aula de geografia, mais preocupada com o futuro da minha segunda, do que com os rios de outros países.

De repente, a porta se abriu e a face da diretora apareceu.
Por favor, não me chame.
Por favor, não me chame.

- Becky Moore, me acompanhe, por favor.

Merda. Juntei minhas coisas e fui atrás dela. Eu disse que a segunda-feira estava muito boa pra ser verdade. Eu disse. Do nada, paramos em frente à uma sala e a diretora abriu a porta, chamando alguém que eu não consegui escutar o nome. Olhei na placa em cima da porta da sala, que estava escrito "Espanhol, Professora O'Donnels". Essa é a turma do...?

Eddie apareceu com seu material e me olhou, confuso. Ergui meus ombros, mostrando que eu não sabia o motivo de estarmos ali. Seguimos a diretora até a sala dela, ainda confusos. Ela fez um sinal para nos sentarmos nas cadeiras em sua frente e assim fizemos. Estamos aqui novamente.

- Diretora, me desculpa, mas por que estamos aqui exatamente? - Eddie perguntou.

- Devem ter visto o que saiu no jornal da escola.

- Sim, claro. Inclusive, eu iria conversar com a senhora sobre isso. O que os jornalistas da escola tem a ver com nosso relacionamento? Tipo, sim, teve uma briga, mas por que colocar isso no jornal da escola? - Perguntei, com indignação.

- Acho que não me entenderam bem.

A diretora ergueu um papel de jornal e nos entregou. Eddie o pegou e eu cheguei perto dele para lermos juntos.

- Ah, que merda. - Murmurou.

Tomei o papel de sua mão, já que não consegui ler direito. E lá estava a foto tirada no corredor quando estávamos com os rostos próximos. Logo depois, uma foto de nós nos beijando na van, naquele dia.

"Eddie Munson e Becky Moore são pegos se beijando na escola e na van de Eddie. Será que depois das fofocas serem vazadas, os dois se deram uma segunda chance?"

- Quanta besteira! Isso é errado da mesma maneira. O jornal não serve pra falar sobre os jogos e os eventos? Por que falar sobre o relacionamento de dois alunos?

- Diretora, por que estamos aqui? - Perguntou, Eddie, calmamente.

- Preciso que me digam se isso é verdade.

- Me desculpa. Eu repito a minha pergunta: O que o jornal da escola tem a ver com isso?

- Senhorita Moore, precisamos manter uma boa relação com todos os alunos. E vocês sabem que se beijar na escola, é totalmente contra as regras. Se for verdade, precisarei tomar providências. Eu repito a minha pergunta: É verdade ou não?

- O quê? Claro que n...

Antes que eu pudesse terminar a minha frase, Eddie me interrompeu.

- É verdade.

Quase dei um pulo da cadeira quando ele disse isso. Por que mentir, afinal?

- Você ficou maluco? É claro que não! - Me virei para a diretora. - Não acredita nele. É tudo mentira!

- Qual é, Becky? Ela tem provas. Por que você ainda está mentindo?

- Eu estou mentindo? Vai se fuder, Eddie!

- Senhorita Moore! - Repreendeu, a diretora. - Certo. Eu dei a chance de vocês dois se explicarem. Já que não querem, vou ter que tomar providências da mesma maneira. Os dois estão de suspensão. Duas semanas.

- O quê? Não! Mas...

- Sem "mas", senhorita Moore! Podem se retirar, por favor.

Me levantei, pisando fundo. Bati a porta e ouvi Eddie me chamando, mas eu não queria ouvir. Saí da escola andando rapidamente e coloquei meus fones. Eu estava furiosa. O que se passava na mente daquele garoto para fazer uma coisa dessas? O senti puxando meu ombro, me fazendo ficar de frente para ele.

- O que foi? - Gritei.

- Me escuta!

Retirei meus fones, respirando fundo.

- Estou escutando. O que você tem na cabeça?

- Acha mesmo que ela iria acreditar na gente?

- É, eu achava, Eddie!

- Ela não ia! Tinha literalmente uma foto do beijo. Dentro da minha van! O que acha que ela estava pensando?

- É, mas não tinha provas de que nós nos beijamos na escola! Duas semanas de suspensão. Tem noção do que é isso? Estamos no último ano, Eddie! Você pode até não querer ter um futuro, mas eu quero! Eu quero entrar em uma faculdade. Quero me dar bem na vida!

- Eu sei disso.

- E por que mesmo assim você fez isso? Me desculpa, mas eu realmente não entendo!

- Eu fiz porque eu sabia que ela não acreditaria. Você está falando com um dos maiores encrenqueiros da escola. O que repetiu de ano três vezes e que vai pra diretoria toda semana.

- E eu sou uma aluna exemplar que tira nota alta em todas as provas e atividades. Ela acreditaria em mim.

- Sério, Becky? Você foi pra detenção comigo nos últimos dias, tem dormido nas aulas, matado as aulas. E não mente pra mim: eu sei que suas notas não são mais tão boas quanto eram.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Olhei para o chão enquanto Eddie me olhava esperançosamente. Minha respiração estava pesada e, meu coração, disparado.

- São duas semanas, Munson.

Me virei e voltei a andar. Quando fui colocar os fones novamente, Eddie segurou meus pulsos e entrou na minha frente.

- Você não pode fazer isso toda vez que brigamos! Colocar os fones e dar as costas pra mim. Não pode.

- Eu posso! E é o que eu vou fazer se você me der licença.

- Não, não vou. Não vou deixar você fazer isso de novo e de novo até ficarmos com o cabelo grisalho.

- Você não manda em mim, Munson.

- Olha, me desculpa! Tá bom? Mas...

- Eu não entendo.

- O que você não entende?

- Se realmente somos feitos um para o outro, por que continuamos a nos machucar?

- Porque somos idiotas. Adolescentes idiotas.

- Isso não é um jogo, Eddie.

- O que é, então?

- Eu não sei.

Fechei meus olhos com força, respirei fundo e contei até três para abri-los novamente. Eddie me olhava atentamente, esperando que eu dissesse mais alguma coisa, mas eu não o faria. E, aparentemente, ele também não. O garoto respirou fundo e soltou meus pulsos. Olhei para os mesmos, que estavam um pouco avermelhados. Quando Eddie percebeu isso, arregalou os olhos e começou a dizer "desculpa", descontroladamente.

- Não era a minha intenção! Me desculpa...

- Tá tudo bem. Eu sei que não. Você, mesmo que me odeie, não me bateria.

- Eu não te odeio.

- Tá bom. - Suspirei. - Acho melhor eu ir.

- Becky, espera!

Eu não o esperei. Nem olhei para trás ou parei para respirar fundo. Fui para minha casa, tomei um banho gelado, deitei na cama, chorei e dormi. E esse foi basicamente o resumo do que eu fiz nas duas semanas de suspensão.

The Annoying Freak MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora