Estávamos tão próximos, que podíamos escutar claramente a respiração um do outro. Eu não me atrevia a olhar nos olhos de Eddie, mas sabia que ele procurava os meus a cada instante. Talvez para saber se ele deveria fazer aquilo ou não. Então, eu o olhei nos olhos. Talvez o garoto ache algo que nem eu achei. Não sei se deveria beijá-lo. Nem sei se quero. E, aparentemente, Eddie também não achou nada em meus olhos. Ele se aproximou mais e, agora, nossos lábios já se esbarravam.
- Isso é um jogo? - Perguntei.
- Somos nós que decidimos.
- E qual decisão vamos tomar?
- Eu não sei.
Aquilo já estava demorando tanto, que eu resolvi acabar com a demora. Juntei de vez os nossos lábios, que estavam em perfeita sincronia. Agora, com os olhos fechados, nós não víamos nada. Apenas sentíamos o beijo e o momento. Nada nos impediria de viver aquilo, porque já estava feito. Não tinha mais como voltar atrás.
Sentir os lábios daquele garoto sob os meus de novo, era como quebrar uma dieta e se arrepender depois. Mas, nesse momento, não dá pra se arrepender. Nós nunca nos arrependemos de comer um doce, até ele acabar. Porque é tão bom. É tão bom, que nem pensamos nas consequências que teremos. Não há consequências, até aquilo acabar. E eu não queria que acabasse.
Nossas mãos, eventualmente, se soltaram. As de Eddie estavam em meu cabelo e em minha cintura. As minhas, estavam em seu peito. E as carícias não paravam. Aparentemente, aquele beijo de "despedida" na noite do término, não foi o último. E, provavelmente, esse também não seria.
A grande questão, é que nós nunca saberemos quando irá ser a última vez de alguma coisa.
Depois de alguns minutos nos beijando como loucos, ele separou nossos lábios e encostou nossas testas. Nossas respirações estavam sincronizadas e havia começado a chover. Parecia cena de filme. Filme adolescente clichê.
- Eu...
Eddie procurava palavras que não conseguia achar. O olhei nos olhos e levei meu dedo indicador aos seus lábios, fazendo ele também me olhar.
- Não precisa dizer nada. - Susurrei.
- Me desculpa. - Susurrou, abaixando os olhos novamente.
- Ei, olha pra mim. - Eddie olhou. - Está tudo bem. Nós dois sabíamos que iria acontecer uma hora ou outra.
- Sério?
- É.
- Então posso dizer que mal podia esperar por essa hora?
- Já disse, não é? - Rimos.
Nos abraçamos carinhosamente. Eu havia esquecido totalmente que os abraços e os beijos de Eddie me faziam ir ao céu. Não sei como ele fazia isso, mas eram perfeitos. Tanto, que eu não queria mais sair deles.
- Não vai ficar aí pra sempre, vai? - Perguntou, com ironia.
- Vou.
Inesperadamente, Eddie segurou em minhas pernas e as puxou. Como uma criança que quer se proteger de um inseto no chão, meus braços estavam em volta de seu pescoço e, minhas pernas, em volta de sua cintura. O garoto continuou andando até um banco que tinha uma cobertura para nos proteger da chuva, onde se sentou, me fazendo ficar em seu colo. Foi só aí que eu saí e sentei ao seu lado. Ficamos ali por um tempo, sem dirigir nenhuma palavra um ao outro, só vendo a chuva cair e aproveitando o vento.
Sem que eu possa dizer o porquê, lágrimas começaram a rolar sobre meu rosto. Abracei minhas pernas e abaixei minha cabeça ali. Não queria que Eddie me visse chorando. Mas é claro que ele percebeu, mesmo sem ver as lágrimas.
- Ei, você está bem? - Perguntou.
Levantei minha cabeça, sequei as lágrimas e respirei fundo. Não adiantou muito, já que mais lágrimas começaram a descer. Eu nem precisei dizer algo. Eddie me acolheu com outro abraço e susurrou palavras como "vai ficar tudo bem" ou "eu estou aqui". Eu me sentia muito mais segura do que eu me senti nos últimos mêses. E isso porque eu nem sabia o motivo de estar chorando.
Quando a chuva ficou menos forte, me separei do abraço, meio sem jeito.
- Me desculpa. Meio que acabou com o clima, né?
- Não. Relaxa. - Sorriu.
- Acho melhor irmos. Antes que a chuva fique pior de novo.
- Claro.
Nos levantamos e fomos caminhando de volta. Eu estava encolhida em meus braços, com frio. O tecido fino das mangas do vestido não esquentava tanto. Não o suficiente para aquela noite. Então, de repente, Eddie colocou sua jaqueta de couro sobre meus ombros. O olhei, confusa. Ele deu um sorriso para mim e continuou a andar.
- E você? - Perguntei.
- Eu estou bem, relaxa.
- Certeza?
- Absoluta.
- Então ok.
- Ok. - Repetiu.
Continuamos a andar em um silêncio agradável por um tempo, até chegarmos em sua van. Antes de entrarmos, puxei seu braço, chamando sua atenção.
- Está com frio? - Perguntei.
- Não. Por que? Você está?
- Não. - Sorri.
- Então o que foi?
Abri a porta do carro e liguei o rádio no volume máximo. Tocava "Highway to Hell". Eddie me olhou, confuso. Estendi minha mão e sorri mais ainda.
- Está afim de dançar na chuva?
O garoto também abriu um sorriso e segurou em minha mão. Nós fomos para o meio do estacionamento e começamos a dançar aleatoriamente ali. A chuva fraca, foi engrossando de acordo com quando o refrão da música ia chegando.
"Livin' easy
Lovin' free
Season ticket on a one way ride
Askin' nothin'
Leave me be
Takin' everythin' in my stride
Don't need reason
Don't need rhyme
Ain't nothin' that I'd rather do
Goin' down
Party time
My friends are gonna be there too"Nós cantávamos, giravamos e pulavamos. Eddie fingia tocar uma guitarra e eu fingia segurar um microfone. As pessoas passavam e nos achavam loucos. Qual é? Era só dois adolescentes curtindo a adolescência. O que havia de tão errado nisso?
"I'm on the highway to hell
On the highway to hell
Highway to hell
I'm on the highway to hell"A música terminou e nós voltamos para o carro correndo. Entramos e Eddie me entregou um cobertor. Abaixei o volume da música e nós nos olhamos mais uma vez, rindo. Eddie deu a partida e fomos para casa.
Agora, ao contrário da ida, estava um clima mais descontraído e agradável entre nós. Conversávamos em uma boa sobre qualquer assunto. Em certos momentos, até percebia Eddie pegando o caminho errado ou o mais longo só demorar mais. Não falei nada sobre isso. Mas é claro que eventualmente, eu chegaria em casa.
- Está entregue.
- Ah... valeu. Te vejo na escola, segunda-feira?
- Claro.
- Não morre de saudades até lá, Munson.
- Eu não me atreveria, Moore.
Sorri e abri a porta do carro. Quando iria descer, parei e pensei por um instante antes de fazer o que eu iria fazer. Olhei para Eddie e juntei nossos lábios mais uma vez em um selinho longo. O garoto colocou suas mãos em meu rosto, me puxando mais pra perto. Mas eu separei nossas bocas e saí do carro.
Quando fui abrir a porta da frente da minha casa, olhei para trás mais uma vez. E lá estava ele: Edward Munson me olhando de dentro da van, com uma expressão indecifrável. Mas que, com certeza, implorava pra que eu voltasse e o beijasse mais uma vez. Sorri e entrei em casa. Fechei a porta e sentei no chão, ainda sorrindo, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer. Eu beijei o Eddie de novo.
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The Annoying Freak Munson
Fiksi PenggemarBecky Moore. Uma garota de 17 anos que mora em Hawkins. O tipo de pessoa que não quer briga com ninguém. Só com uma pessoa... Edward Munson. Um metaleiro despreocupado que mestra um grupo de RPG na escola. O esquisito irritante, para muitos. Os dois...