Durante todo o caminho, Berg não disse uma palavra sequer. Não que Jimin estivesse esperando que o homem carrancudo a sua frente puxasse assunto, ou quisesse falar sobre agrotóxicos e plantações de rabanete como Sr. Mochibolala.
Eram assuntos que apenas o ursinho de pelúcia entenderia.
Contudo, o silêncio foi, de longe, confortável. Era como se houvesse uma sensação estranha no ar, um sentimento de que alguém sabia algo que Jimin estava perdendo. Pontas soltas, informações faltando. Toda aquela conversa no bar ficou vagueando pela sua mente e dando voltas e mais voltas, sem chegar a lugar nenhum.
Tentou se distrair com a paisagem lá fora. O sol estava prestes a se pôr, começando a pintar o céu com doce tom alaranjado. A estrada era um caminho longo de um mar agitado em verde, onde as montanhas se erguiam como ondas de variados tamanhos; os tons do campo iam se alternando com algumas árvores e flores.
Àquela altura, seu celular já não recebia sinal há algum tempo, então não via a hora de chegar ao castelo, se acomodar em seu confortável quarto e usar o wi-fi para conversar com Taemin. Sentia que já havia extrapolado seu limite em sair da zona de conforto naquele dia e precisava muito ver um rosto familiar para se sentir mais seguro. Claro que queria desfrutar ao máximo a experiência de estar num país diferente, mas sentia-se como uma criança que deu um grande pulo no mar, mas ainda estava aprendendo a nadar. Talvez o tempo de viagem no avião não tenha sido o suficiente para prepará-lo. Seus esforços para não sucumbir a uma crise de ansiedade, por exemplo, iriam sugar muito mais energia que o normal.
Mas estava confiante.
Estava tão submerso em seus pensamentos de confiança que não percebeu quando Berg estacionou à esquerda da estrada e desceu, começando a retirar as malas de Jimin do carro. Num susto, ele acordou para a realidade, saltando para fora do veículo.
— Ei, ei o que está fazendo?
— Só venho até aqui — o homem disse simples.
Jimin olhou de um lado para o outro e só viu estrada e mais estrada, sem fim.
— O QUE?! E-espera não pode me deixar aqui! — ele se desesperou quando o homem fechou o porta-malas. — Estamos no meio do nada!
— Seguir reto para lá. — Apontou para a direção indicada. — Vinte minutos. Virar à esquerda, caminho de terra. Eles vão chegar até você.
— Como assim? Quem vai chegar até mim?
— O povo.
— O povo? — Jimin segurou a ponta de seu sobretudo com força. — V-você quer dizer os funcionários do castelo?
Berg acendeu mais um cigarro, tragou, e soltou a fumaça na cara de Jimin.
— Chan eil searbhantan beò aig a' chaisteal, leanabh — ele disse com a voz rouca.
— Ah não, você não vai fazer isso comigo! — Jimin surtou agarrando o homem pelos ombros. — Não pode me deixar no meio do nada, em um país que desconheço, perto do anoitecer e ainda ficar falando coisas em uma língua que não entendo! Se tem algo que preciso saber, me diga de uma forma que eu compreenda!
Berg apenas encarou Jimin e tragou o cigarro, lentamente.
— Seguir reto. Vinte minutos. Virar à esquerda — Ele se soltou e andou em direção a porta do motorista. — Eles vão chegar até você. — E assim, ele partiu.
Jimin se arrependeu de tê-lo pago no bar.
Observou, desolado, o carro ir embora até virar um pontinho e sumir na estrada.
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Runas de Prata
RomancePark Jimin só queria uma coisa: sumir. O que ele menos esperava era se tornar um romancista frustrado, preso em um bloqueio criativo e com uma coleção de fracassos amorosos. Decidido a abandonar o romance, ele embarca em férias de dois meses para s...