Capítulo 2

1.8K 196 76
                                    

Esta casa se tornou minha prisão e meu refúgio.

Vagueio pelos corredores e espero que ele esteja no final de cada corredor, com uma garrafa aberta na mão e um sorriso malicioso no rosto que me lembra como ele era em sua juventude. Antes de seu inferno na terra começar, antes de os anos enrugarem e endurecerem suas feições, antes de ele ficar cinza de dor.

Deus, como eu o odeio por me deixar, e Deus, como sinto falta dele.

Ele nunca sabia quando estávamos na escola. Isso foi algo que nos fez rir nos últimos anos. Durante todo esse tempo, eu senti algo por ele, algo diferente do que ele sabia ou até mesmo suspeitava. Ele costumava balançar a cabeça e ficar maravilhado com isso; na minha própria constância e no seu próprio esquecimento. É claro que eu nunca poderia ter contado a ele enquanto ainda estávamos na escola, pois isso teria arruinado nossa amizade. Todas as nossas amizades. Não acho que James suspeitasse de nada. E Peter...

Não vou pensar nele. Agora não, não tenho luxo no momento. Mas, apenas uma vez na vida, posso imaginar como seria rasgar a garganta de alguém e não sentir um único pingo de arrependimento. E no dia em que isso acontecer, meu uivo será de liberdade.

Harry não sabe o que houve entre nós. Não sei como trazer isso à tona e acho que isso nem importa mais. O que devo dizer a ele?

Harry, eu amei seu padrinho.

Harry, seu padrinho me amava.

Harry, eu ainda o amo.

Ele se parece muito com seus pais. Tenho que me lembrar sempre de que ele não é eles, não é a soma de suas partes, mas algo novo e único. Ele parece um menino generoso, um menino muito gracioso, mas não somos tão próximos.

Harry, seu padrinho e eu éramos amantes.

Uma pequena parte de mim o culpou depois que Sirius morreu. Se ao menos...há tantos se ao menos. Se ao menos Harry tivesse se lembrado dos espelhos. Se ao menos ele tivesse bloqueado Voldemort. Se ao menos Severus o tivesse ajudado. Se ao menos Dumbledore tivesse protegido Sirius melhor. Se ao menos eu estivesse lá. Se ao menos Sirius não tivesse corrido para resgatá-lo.

Se ao menos eu estivesse lá.

Se ao menos Sirius tivesse ouvido.

Se ao menos Severus não o tivesse provocado.

Se ao menos Harry tivesse parado para pensar.

Se ao menos eu estivesse lá.

Harry, seu padrinho me amava.

Harry, eu ainda o amo.

.

Harry acordou naquela noite com gritos. Pela primeira vez, eles não eram dele.

— Severus, por favor, acalme-se. Eu não vou machucar você — Remus disse com exasperação e remorso. Ele lutou contra o corpo agitado de Snape, tentando conter o homem sem agravar seus ferimentos.

— Não faça isso — Snape gritou, petrificado.

Harry ficou parado na porta, sem jeito, com o cabelo e os óculos tortos.

— Professor?

— Harry, me ajude — Remus pediu, segurando os pulsos de Snape com força. Harry moveu-se lentamente em direção à cama e colocou as mãos cuidadosamente nos joelhos de Snape, empurrando-o para baixo para que o homem não pudesse mais chutar.

— Potter! — Snape exclamou, arrancando as mãos de Remus e agarrando Harry pela frente do pijama. — Você tem que detê-lo. Você tem que fazê-lo ouvir!

Aqua Fresca | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora