O dia amanheceu pingando.
Era um ótimo clima para dormir, assim como também era ótimo para ir ao colégio. Eu gostava de estudar com o barulho da chuva batendo contra a janela de vidro. Era bom. Era gostoso de ouvir – apesar de, notoriamente, ser ainda melhor com uma cama macia e um lençol quentinho. Chuva era como música para os meus ouvidos, perfeita como um som de segundo plano.
Consegui pegar o primeiro ônibus da manhã, chegando relativamente cedo. Poucos alunos circulavam pelos corredores do colégio. Era provável que muitos faltassem para dormir até mais tarde. Se eu pudesse, faria isso. Mas, minha mãe, como uma boa japonesa, não gostava que eu perdesse as aulas de um colégio tão caro como esse. E eu concordava. Pagar as mensalidades não era nada fácil, ainda mais porque minha mãe era a única que estava trabalhando em casa. Meu irmão estava desempregado há uns meses. A situação estava apertada, mas como éramos muito unidos, dávamos um jeito.
Fazíamos funcionar.
Cheguei na sala e torci o nariz no mesmo instante. Kim Sunoo, além de estar adiantado, estava acomodado no meu lugar costumeiro.
Respirei fundo, e imediatamente fechei a cara. Abusado.
— Bom dia! — ele saudou.
Obviamente não respondi nada, mas acenei com a cabeça. Sentei no lugar atrás de si, e logo percebi como aquilo não seria nada bom. Sunoo se virou animado. Agora ele vai sempre se virar na direção da minha mesa, e eu não poderei simplesmente ignora-lo.
— Eu não disse que choveria? — sorriu, observando-me pôr os materiais necessários em cima da mesa. Seus olhos vacilaram, e ele pareceu lembrar de algo. — À propósito... Eu me chamo Sunoo. Kim Sunoo. Ontem eu não me apresentei, e por isso, talvez, eu tenha parecido mal educado. Sinto muito.
Não desviei o olhar do meu caderno, e talvez eu estivesse parecendo um mal educado agora.
Cocei a testa, indeciso no que fazer.
— Pode me dar o seu número? — quando me dei conta, ele já esticava o celular em minha direção. Segurei o aparelho, surpreso e assustado. Pra quê ele quer o meu número? — É para conversarmos por mensagem. Acho que você está muito tímido comigo. Eu fiz alguma coisa pra você?
Neguei com a cabeça, devolvendo o celular após digitar o meu contato.
— Como é o seu nome?
Bufei, pegando novamente o celular alheio e escrevendo "NMRK" para salvar. Ele assentiu incerto, tentando não rir do meu nome.
— Isso são siglas, não é? Porque, se não, seu nome é muito feio e estranho.
Completamente sem filtros e imprevisível.
Os alunos começaram a chegar, e pude ver alguns rirem de Sunoo por estar sentado em lugar tão longe do habitual. Os bagunceiros soltaram piadinhas, enquanto o garoto à minha frente soltou palavrões feios e mostrou dedos obscenos. Deixei minha incredulidade à amostra para que ele soubesse que eu não gostava desse tipo de coisa. Ele bufou e pôs um gorro na cabeça, virado para trás. A carranca logo subiu às feições do outro.
— Soube que ontem o professor Yoongi deu um sermão feio e uns cascudos em você. — Baek comentou alto nos fundos da sala.
— Mas é claro! — respondeu. — Um garoto inteligente e bonito como eu, não tem que andar com grandalhões feios e espinhentos como vocês.
A sala inteira riu.
Revirei os olhos com tanta bagunça. Algumas meninas conversavam alto, sentadas em cima da mesa. Uma garota ruiva, filha de uma cabeleireira, fazia tranças em um garoto de cabelo longo.
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Amor Não É Uma Palavra
FanfictionRiki é um garoto gago que odeia a própria voz, comunicando-se com todos através de um simples caderno de anotações. Sunoo é o líder do time de futebol, o garoto mais bagunceiro, sociável e popular do colégio. Sunoo só quer mais um amigo, e Riki terá...