Capítulo 7

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Minhas cartas se tornaram rotineiras. Eu as enviava todos os dias para Sunoo. Mais de uma vez. Sempre. Ele respondia os meus anônimos todas as vezes. A garota de confiança, que geralmente as entregava pelo colégio, me repassava as cartas discretamente, e eu ia até o banheiro para ler. Então, sem que Sunoo visse ou estivesse por perto, eu escrevia novos bilhetes.

À princípio, eu apenas queria retribui-lo pela carta que enviou para mim. Mas, desde que ele respondeu meu bilhete - que, diferente dos que recebia, continha sentimentos bons e únicos -, não parava de responder. E confesso que não deixei de enviá-las à cada hora do turno escolar.

Sunoo não fazia a menor ideia de que eu era o anônimo de suas cartas. E, por mim, nunca descobriria. Era bom poder fingir ser uma pessoa perfeita que não tinha medo, inseguranças ou falhas na voz. Eu poderia fingir pra sempre que era um garoto lindo e sem defeitos.

- Aposto que a pessoa que me envia as cartas é... - suspira. - Perfeita.

Voilà.

Sunoo apoia a cabeça em meu ombro, tirando o boné. Jake segura e o põe na própria cabeça, virado para trás. Ellie me suga pelo olhar, com os braços cruzados atrás da nuca, como se julgasse meu comportamento.

Ela é a única que sabe a verdade.

Sunoo continua:

- Ela não quer dizer quem é. Já insisti um bilhão de vezes. Estou com medo que a Semana dos Anônimos acabe e nós nunca nos vejamos.

- Talvez seja apenas alguém zoando você. - Yerin diz. - Quer dizer, tipo, você já demonstrou interesse, então por quê não dizer quem é? As pessoas usam o anônimo justamente para evitar a vergonha de levar um fora.

- Também acho. - Jungwon concordou, inocentemente, enquanto arqueava os ombros. - Alguém deve estar fazendo alguma brincadeira. Baek, talvez?

Meus olhos desesperaram-se. Eu não queria que Sunoo pensasse que minhas cartas eram falsas, pois todos os meus sentimentos eram verdadeiros. Até demais, eu diria.

- O que geralmente ela escreve? - Jake pergunta.

- Ele. - Sunoo o corrige. - Não sabemos se é uma menina.

- Tem razão. - Ellie diz, pela primeira vez. Ela me encara, insinuante, levantando as sobrancelhas. - Pode ser um garoto muito perfeito, também. Não acha, Kim?

- Eu acho. - sorri. Não um sorriso de quando alguém conta uma piada muito engraçado, mas, sim, quando se menciona alguém muito importante; um amor.

- Oh-oh. - Jungwon se alarma. - Você está apaixonado. Conheço o seu coração.

Todos encaram Sunoo, inclusive eu. Meus olhos passam de desespero, para incrédulo. Sunoo sustenta sério nossos olhares, mantendo-se firme. E, de repente, tampa o rosto e abaixa a cabeça, sorrindo ainda mais bobo.

- Eu estou!

Jungwon bate na mesa, animado.

- Isso é tão épico! - exclama. - Isso nunca aconteceu. Quer dizer, quem se apaixona por cartas? Vocês nunca se viram na vida! E se ela, ou ele, for feio? E se tiver, sei lá, um sorriso estranho?

Meu sorriso não é estranho.

- É amor de verdade. - Ellie instiga o assunto, rindo disfarçadamente da careta que eu estava fazendo. - Sunoo se apaixonou pelo coração puro que essa pessoa tem. Isso é tão lindo, que me enjoa.

- Não me importo com a aparência. - Sunoo diz. - E também não estou dizendo que quero casar com essa pessoa. Eu só quero ser... Amigo. Conhecer, conversar, sair.

Amor Não É Uma PalavraOnde histórias criam vida. Descubra agora