Não haviam mais bilhetes, nem cartas.
A semana dos namorados passou, e consigo, todo o suspense amoroso do colégio foi embora. À essa altura, pelo menos metade dos anônimos secretos já não são mais secretos. E apesar de ter sido apenas um entretenimento com empreendedorismo por trás, a semana dos Anônimos dos Namorados rendeu muitos casais. Rivalidades e desavenças também foram iniciadas, mas nada grave o suficiente para ser uma situação considerada preocupante.
Eu fazia parte da outra metade que se manteve nas sombras. Sunoo era o dos que pareciam desesperados para descobrir a identidade de seus anônimos. Ellie era aquela pequena parte que fazia nossa consciência pesar, que aconselhavam os amigos anônimos à se revelarem.
– Ela mandou boa noite com um coração rosa. – Sunoo suspira.
– E...? – Ellie arquea a sobrancelha.
– É a minha cor preferida.
Ellie olha para mim, acusadora, e escondo um sorriso contra o peito de Sunoo.
– O Coisinha deve saber muitas coisas sobre você. – argumenta. – Já parou pra pensar que, de repente, ele ou ela, pode ser um stalker? Dúvido se, no refeitório, não senta por perto, e nos corredores esbarra "acidentalmente" em você.
– Eu também já pensei nisso. – Sunoo faz um bico. – Eu já devo ter conversado com ele. Tipo, "desculpa" ou "que horas são?"
Ellie concorda com a cabeça.
– Já pensou que louco se você já beijou ele? Tipo, ter ficado?
– Não sei. – ajeita os óculos sem lentes no nariz. – O número de parceiros que já tive aqui, no colégio, é bem curto. Tenho certeza que não.
– Ah, foda-se. Cansei de falar disso.
Ele abaixa a cabeça até esbarrar seus olhos em mim. Sinto sua perna, folgadamente, se estender por cima do meu quadril. Estamos deitados na grama falsa da parte detrás do colégio, apenas nós três. Ellie está com um dos lados do fone na orelha e riscando o meu caderno de comunicação, enquanto discute sobre as mensagens que Sunoo e o Coisinha vem trocando nas últimas semanas.
– Você não vai argumentar? – ele pergunta para mim. Nego, e sinto seus ombros se balançarem para que minha cabeça saia de si. – Sai daqui. Preciso de um amigo que me ouça, e você só está brizando para dormir. Ellie só quer saber das músicas estranhas. Obrigado, viu?
– N-não... – reclamo quando ele tira os dedos de meu couro cabeludo e, consequentemente, finaliza o carinho.
Posso sentir Sunoo se derreter ao ouvir minha voz, que muito raramente uso.
– Você está me ouvindo? – posiciona-se de frente para mim. Suspiro, cansado, e assinto. Sunoo sempre repete o mesmo assunto. – O Coisinha me mandou um coração rosa. Você acha que é coisa da minha cabeça ou ele sabe que é a minha cor preferida.
Em resposta, levanto dois dedos.
A segunda opção.
Desde que comecei a conversar com Sunoo como Coisinha, me convenço à nunca mudar minha personalidade ou mentir. Me convenço de que não seria tão ruim se ele descobrisse. Talvez ele apenas risse e esquecesse.
– Ele disse que hoje estaria usando meias azuis. – fecha os olhos, aproveitando o clima fresco. – Cinco garotas e dois garotos estão usando meias azuis. Decorei o primeiro nome desses sete suspeitos. Um deles tem que ser o Coisinha.
– Ou ele mentiu pra você. – Ellie interrompe. – Quem garante que ele veio com essas meias azuis? Pode ser que tenha vindo com, sei lá, meias verdes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Não É Uma Palavra
FanficRiki é um garoto gago que odeia a própria voz, comunicando-se com todos através de um simples caderno de anotações. Sunoo é o líder do time de futebol, o garoto mais bagunceiro, sociável e popular do colégio. Sunoo só quer mais um amigo, e Riki terá...