Entro rasgando e nem ligo em fechar a porta; ela está na cozinha e mal percebe o meu barulho.
- Pode me explicar o que é isso? - jogo o diário sobre a mesa da cozinha com tanta força que ela balança e derruba um copo de plástico.
- Seu diário... - disse ela com um olhar brando, quase psicótico. Isso me irrita tanto quanto me assusta e perdendo o controle, grito.
- Exatamente, e o que raios ele fazia com a Maria?!
- Você precisa de alguém filho! - ela me responde também gritando.
Neste momento eu já estava estérico demais para notar o tom de voz.
- QUEM DECIDI ISSO SOU EU!!!
- MAS EU SOU A SUA MÃE, VOCÊ DEVE GOSTAR DELA, ELA É BOA PESSOA!
- EU... Eu... Gosto de outra pessoa... Eu acho.
Pego meu skate que estava ao lado do sofá e saio por aí, surtado, cansado, chorando, esfregando o talho em meu rosto...
Minhas bochechas estão vermelhas pelas lágrimas acumuladas.
***
Quando volto a mim, estou em soluços na praça onde vi Maria, e queria só apagar tudo isso da minha mente; me tornar invisível de novo, só eu e meus poemas, mas acho que isso não é mais possível. Minha boca está aberta, com o rosto vermelho e a garganta rígida como se estivesse gritando, mas não emito som algum, de repente ouço um skate, no meu estado de desespero nem me preocupo em ver quem é. Subitamente vejo duas pernas em calças jeans, subindo um pouco mais vejo uma camiseta preta... "Audácia"... Ouço o lema do dia do meu Blog, e vejo as mesmas mechas loiras somente nas pontas da...
- Mel... - enxugo mais algumas lágrimas para parecer forte.
- Kevin, meu Deus, o que houve? - ela diz assustada.
Estou com medo de falar... Mas eu preciso, eu devo isso a mim mesmo. Começo a chorar novamente, ela senta do meu lado e me abraça.
- Minha mãe... Quer... Que eu fique com a Maria, ela deu... -Exito por um momento, mas minha angustia é forte de mais para eu conseguir me aguentar - Meu diário para ela, como ela pôde... Se eu... Gosto tanto de outra pessoa, ela não me pergunta nada, não me consulta, nem se preocupa... Tudo é tão confuso... Só quero minha vida de volta...
Reclamo derrotado, sem forças para enfrentar tudo de novo.
Ela fica pasma, sei que está irritada pois seu aperto em meu ombro aumenta, tenho tensão nos ombros, então dói um pouco mas não digo nada.- Ei, Mel, está tudo bem, eu... Vou ficar bem.
- Mas eu não vou... Como ela pôde?
- Minha mãe só preocupada se demais...
- Estou falando da Maria! - diz Mel visivelmente irritada - Ela disse que convenceria a sua mãe a fazer isso jogando uma desculpa idiota... Ela é a garota que te manda as cartas, Kevin!
Eu paro, congelado no espaço e no impacto daquela informação
- ELA é a "A.B"?
Incrédulo, apenas a observo, então sinto a coragem de falar o que eu precisava falar.
- Desde o primeiro momento que nos vimos... Eu queria te conhecer, eu... Eu quero poder te conhecer, Melissa... Eu...
Ela me interrompe.
O beijo dela é leve e calmo, carinhoso e manso, e além de tudo... Delicioso, tudo escurece e o meus medos somem.***
Ela se afasta, eu não quero que ela se afaste, mantenho meus olhos fechados tentando capturar o que havia perdido, mas o beijo foi tão inesperado que eu nem lembro porque estava chorando, só sei que estava porque minhas bochechas ainda ardem. Ela se aproxima de novo me dando longos selinhos, me deita no banco e beija de novo, mais curto dessa vez, olha nos meus olhos e diz
- Eu adoraria.
E com essa frase vejo-a levantando e acenando para mim do início da avenida e eu no banco... Não conseguindo pensar em mais nada.
***
Volto para casa e recapitulo tudo o que aconteceu, contei à minha mãe e ela sorriu, mas duvido que tenha gostado da ideia; não liguei para Maria, e a bloqueei de todas as formas possíveis. Quero que ela suma por um golpe tão baixo. Tudo, menos a minha mãe.
***
Acordo na terça, motivado e renovado, não sei se ela quer realmente ficar comigo, mas se é o caso, receberei mais um beijo hoje.
Depois de descer as escadas vejo Annie na sala, assistindo seus animes pela TV à cabo, a comprimento com um beijo na testa enquanto ela devora uma tigela de cereal; comprimento a minha mãe, e a dou um beijo no rosto, ela não faz pergunta alguma, acho que finalmente aprendeu a me deixar lidar com os problemas por conta própria. Como e me visto, arrumo minhas coisas, pronto para nenhuma carta surpresa e nem fãs desesperadas, só penso na Melissa.
***
Chego de carro na escola à tempo de presenciar uma cena realmente rara.
- Aquilo é uma rodinha de alunos, Kevin?
- É o que parece mãe, quero saber o que está acontecendo; pode voltar para casa mãe.
Ela contorna com o carro e some no final da rua, enquanto corro para a roda e saio abrindo espaço dizendo: "Deixe o coordenador do conselho passar!", após estar no meio da roda, algo me surpreende.
Maria e Mel estão em pleno confronto, e pelo posicionamento adequado de kickboxing da Melissa, duvido que Maria entenda quanto está apanhando. Corro em direção às duas a tempo de bloquear um cruzado que sem dúvida derrubaria Maria na lona sem chance de contagem.
- Parem as duas, o que vocês pensam que estão fazendo em frente ao colégio?!
- Ela veio aqui e começou a puxar briga, ela arrancou o meu colar!! - disse Mel visivelmente conturbada.
Olho para o chão, e vejo o colar. Será que as coisas não vão se normalizar nunca?
- Maria, o que faz aqui? Se o seu diretor souber que está arrumando briga em frente a outra escola será suspensa!
Ela apenas me encara, não sei se por ódio ou se por medo, mas ainda sim responde
- Não me importa, ela não tem o direito de ficar com o que não é dela, ela não tem.
Ela corre e pega o colar, arremessando em direção à Melissa, eu entro na frente e agarro o colar no ar, impedindo a sua trajetória. Maria sai andando com um chiado estranho vindo dela...
E essa foi a última vez que eu a vi.***
Três meses sem notícias de Maria, a minha vida estava se normalizando, e eu, conhecendo mais ainda a Melissa, saímos muito, e apesar de sermos de salas diferentes, fazemos quase tudo juntos. Até que um dia, eu a vejo chegando, ela me agarra e chora. Vendo a sua cara inchada e cansada, temo por algo muito ruim.
- Bê, o que houve?
Ela gruda em mim em um abraço forte, e como se não bastasse os problemas daquele mês ela me vem com uma notícia urgente .
- A Maria está... Morta, ela foi encontrada em um beco perto da Avenida do Alfeneiros, ela simplesmente... - ela começa a chorar de novo, eu tento acalma-la enquanto penso no que faremos.
Enquanto a acaricio, pondero irritado, só coisas estavam começando a ficar mais calmas.
***
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Diários de um Poeta (W.I.P)
RomanceKevin, um adolescente de 16 anos que é entregue ao romantismo do século XVII e ao cavalheirismo, é um poeta habilidoso que se vê perdido dentro de seus sentimentos. Entregue a emoção, decide dedicar o seu tempo a apenas uma pessoa... Uma fã anônima...