Capítulo VII

43 1 1
                                    

Acordo em um solavanco do que me parece ser uma vã e penso no quão clichê é esta situação em que me encontro. Não enxergo nada, devo estar vendado ou algo parecido, e ainda sim, não sinto a textura de nenhum tecido com o meu nariz. De repente ouço uma voz familiar, apesar de ainda atordoado pelas horas inconsciente, reconheço o tom feminino:

- Como a cobaia número 7 está? - ouço logo em seguida uma voz rouca masculina, mas não consigo identificá-la.

- Inconsciente mas viva.

- Ótimo, precisamos dela em boa forma, afinal, é uma cobaia.

Ouço risos de todos os lados, aparentemente, são seis pessoas, mas só duas com sexo definido. Porém a pergunta mais importante é: onde estou? E para onde vou?

Depois de algumas horas de silêncio e somente o som de um motor bem leve - porém potente - sinto que estamos parando e enquanto tento entender o que realmente está acontecendo, três mãos gigantes me seguram pelos braços e me obrigam a levantar. Quando tento soltar as minhas mãos percebo que estão algemadas. "Ótimo, nada de fugas indesejadas", eles não querem que eu consiga sair tão fácil assim, e mesmo que por algum milagre eu consiga escapar, se correr com as mãos presas assim não irei muito longe.

Conforme descemos do veículo que estávamos, noto que o chão é de terra ou areia pelo som abafado, meu pensamento trava no momento que penso que eles vão me jogar no mar, mas então tomo consciência que se estivéssemos em uma praia ouviria o barulho do mar e sentiria o cheiro do mesmo, e ao invés disso o cheiro é de mata que me lembra algo, mas não consigo tomar forma por lembranças. Lembro também que aquela familiar voz feminina tinha dito que precisava de mim vivo... Ou será que tem outras cobaias comigo aqui e eu não sou útil?

Para não me desesperar, rapidamente tento contar quantos passos existem ao meu redor, mas eles andam no mesmo ritmo e velocidade, aparentando se tratar somente de um ser gigante me carregando e qualquer outra cobaia que esteja comigo, o que espero não ser possível. Ouço uma voz falando então me agarro a prestar atenção para me acalmar e descobrir mais alguma coisa.

- Nome por favor?

- Cib Walter.

- Acesso permitido.

Cib? O que seria isso? Algum codinome ou algo para se aparentarem?

Nada nesse sequestro faz sentido, mas enquanto ouço os barulhos se modificarem conforme entramos e quando o ar frio bate forte contra meu corpo, percebo somente uma coisa

- Esse chão é de metal.

- Sim cobaia sim, e essa será a sua nova casa depois "do transplante".

- Transplante?!! O que pensam que vão fazer comigo?!!

- A senhora G vai explicar tudo direitinho para você antes de iniciar os testes para ver se você é capaz de se tornar um de nós.

Essas palavras não me animam nem um pouco, e pela leveza dos meus bolsos estou sem meu celular... E meu canivete.

***

"COMO NÃO HÁ NADA?!!" - grito depois de duas horas sem ver nenhuma imagem das câmeras de segurança que realmente seja útil para encontrarmos o Kevin.

Nossa base, localizada na já abandonada casa de Nathalia, aparenta por fora ser somente isso, uma casa abandonada, porém, por dentro há sensores de movimento ligados à parte não usada da casa, colocados para nossa segurança. O sistema de energia ainda funciona, sendo que ele é pago graças aos esforços de G, e apesar da casa ser "abandonada" usamos a desculpa, caso formos pegos, de que a casa é apenas um lugar onde nos reunimos para jogar em paz, e para isso, usaríamos os computadores. Mas, na realidade, com estes computadores vasculhavámos tudo, desde câmeras de segurança do sistema público - das quais auxiliávamos anonimamente a Polícia - à pesquisas pessoais. Tudo isso só foi possível graças ao único adulto da equipe, o Cabo Andrade, que acoberta nossas operações, atuando como uma "mão amiga" dentro da Polícia.

Diários de um Poeta (W.I.P)Onde histórias criam vida. Descubra agora