Capítulo III

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Depois de passar o fim de semana inteiro falando com a Maria, finalmente chega a segunda-feira. E ela começa como sempre: minha irmã pulando em cima de mim para me acordar; e depois de descer, minha mãe me enchendo de perguntas.

- Então, dormiu bem? Sonhou com algo?

Franzo a testa e respondo enquanto como minha torrada.

- Não mãe, não sonhei com Maria.

- Não custa tentar meu filho, não custa tentar.

A casa fica silenciosa, e, estranhamente, imagino sempre que o motivo sou eu.

***

Depois de estar arrumado, com o material em mãos, estou pronto para ir à escola. Dentro do carro a minha mãe inusitadamente pergunta

- Você falou com a Maria ontem?

- Sim, mas não fiquei até tarde.

- Maninho - grita Annie do banco de trás - Por que a mamãe fala tanto da Maria?

Uma coisa que eu já deveria esperar da irmã mais nova de um poeta: perceber os detalhes nas coisas mais simples; mas dessa vez não a escondi nada, fui aberto pela primeira vez.

- Porque a mamãe acha que eu gosto dela.

- Mas você gosta? - me pergunta Annie.

- Claro que ele gosta filha, está na cara.

- Não me responsabilizo pelo o que você acha de mim - respondo levantando os ombros.

- Me respeite Kevin Willian Lancaster, o que seu pai diria se ouvisse isso?

- Ele diria "respeite o espaço sexual do garoto, Ellie" - digo imitando a rouquidão exagerada do meu velho.

E todos nós caímos na risada, apesar de eu saber o motivo da sua morte e sentir a falta do meu velho.

***

Chegando à escola, corro para meu armário, não crendo ser possível ter outra carta bizarra como aquela da semana passada. Mas para a minha decepção...

...Lá estava mais uma, com a mesma cor e tamanho

"Sempre há sacrifícios...

Estou te esperando, sua pequena A.B"

Pasmo, olho para a carta.

- Não é possível, essas cartas querem me dizer algo que ainda não consigo ver, vou pedir uma ajuda para o G, ele deve saber o que fazer.

Então pela segunda vez no mês decido acordar o grande G, de seu sono matinal...

...De antes das aulas.

***

Depois de uma longa explicação sobre o meu sábado e domingo, finalizo os contos do fim de semana e a carta para G. Ele me olha com um olhar sério, acredito que ele se interessou pelo clima de suspense de toda essa trama que essa garota misteriosa causa na minha vida.

- Então G, vai ficar me olhando com essa cara de mosca ou vai falar algo - digo irritado.

- Calma gafanhoto, estou pensando - responde ele.

- Percebi.

- Bem, essa garota é esperta mas nem tanto, ela esqueceu da câmera das salas dos professores.

Sorrio alegre, finalmente saberei quem é a pessoa que está me atormentando.

- Ótimo, estou correndo pra sala de aula antes que o rabugento me suspensa de vez, e aí no intervalo conversamos - digo-o recolhendo minha bolsa e abrindo a porta.

Diários de um Poeta (W.I.P)Onde histórias criam vida. Descubra agora