Capítulo XI

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Cinco horas se passaram e eu entrei na UTI. Sete horas depois estou com meu olho parcialmente recuperado; inconsciente e dopado, desperto apenas às quatro horas da tarde, dois dias após o ataque à Giovanna.

Meu rosto lateja, ainda ouço a risada metálica de uma garota que não reconheço mais, não tenho imagens nítidas de nenhuma daquelas pessoas, nada é claro até ver o rosto de minha mãe, pálida, chorosa e cansada, então me dei ao luxo de lágrimas; nada fazia sentido, tudo parecia um louco sonho alucinógeno, mas o talho em meu rosto e o meu olho tampado por gases desmentiam meu devaneio; lágrimas agora fluidas só me permitiam uma pergunta

- Estou cego?!

Em meio a soluços e a um fraco sorriso, uma mãe angustiada mas aliviada, agradece a Deus volta de seu pequenino e responde

- Não filho, eu não permitiria isso.

Então com o olho que ainda me pertencia vejo que ela está de jaleco hospitalar também, e assim como eu, com algo tampando seu olho esquerdo, nada mais precisou ser dito.


***

Três dias após a cirurgia levamos alta, minha irmãzinha em meu colo, calada, observadora, minha mãe guiada pelo meu braço, se adapitando a nova forma de ver, e eu... Com meu olho dolorido, sou obrigado a cobri-lo e sob os óculos escuros, consigo ver, mesmo em verde e preto, a cor tão bela dos olhos de minha mãe agora em mim, porém, o meu não me expressava mais beleza, mas sim uma sede insaciável por vingança.


***


Três dias de repouso em casa, e uma semana inteira de aula perdida desperto depois de mais uma noite mal dormida. Levanto, escovo os dentes. Me sentindo angustiado pela falta de atividades, lembro-me do colégio e logo me angustio novamente, e jogando-me sob minha cama penso

- Como os veria de novo? - pensava indignado no meu quarto, nenhum deles deram sinal de vida, nem G nem ninguém.

- Estou sozinho, e uma das poucas pessoas que eu amava... Me traiu... Giovanna... Por quê?

Pela primeira vez em casa depois do incidente pude derramar meus prantos; meu novo olho, ardia conforme eu o esfregava para tirar as lágrimas, então pensei

- Hora de botar pra fora.

Me levantei e limpei a mesa do meu quarto, peguei um caderno velho e preto que estava no armário e iniciei a arquitetura do grupo que fui designado a fazer.

Iniciei estipulando quais seriam as pessoas que fariam parte do G.I.M., então inicei os relatórios e, tendo em mente que ninguém aqui em casa deveria saber, decidi começar pelo G:

Nome: Giovanni Ricetto Nunes
Idade: 16 anos
Experiências úteis: observador; habilidades em computação.
Atuação: ...

Neste momento cogitocolocá-lo como assistente de rádio, mas penso

- Já chega de se esconder atrás de câmeras meu caro.

Atuação: Investigador de Campo

***


Despois de terminar as características físicas de G e as minhas habilidades, fecho o caderno e começo a pensar em todos os detalhes das últimas lembranças, mas nada é muito claro. Muitas dúvidas ainda restavam: por que Giovanna parecia tão estranha?
Por que de tudo isso?
Quem é aquele garoto estranho de tridente nas mãos?

Muitas dúvidas e nenhuma resposta. Me sinto sufocado por tudo isso, Precisando de ar e de tempo para ponderar penso em pegar meu skate, mas depois de todas as dores e lágrimas, decidi dar somente olá ao mundo novamente, e assim, ver minha mãe, em seu sorriso tímido na cozinha ouvindo suas músicas, em minha irmã na sala comendo o seu velho cereal e vendo o mesmo desenho, e por elas, não por mim, decidi tratar tudo com naturalidade, então como se fosse um sábado qualquer me espreguiço desleixadamente no pé da escada e grito alto, surpreendendo as duas

- Mãããããe, to morto de fome, o que tem para o café?

E em uma mistura de emoção e determinação ouço uma resposta firme de uma nova mulher.

- Teremos uma surpresa!

E mesmo não gostando de surpresa apenas levanto os ombros e vou em direção ao sofá para assistir TV com a Annie.

- As decisões que tomo a partir de hoje são por elas - penso sozinho, chegando a conclusão que somente eu mereço sofrer nessa casa. Chega de causar dor aos amores que me restam.

***


Na segunda feira, decido levantar cedo, não gasto energia suficiente desde sábado então preciso extravasar, optando por não pegar o busão da escola, vou de skate, passando pela Praça de Inspiração e o Parque dos Punkers.

Faltando 15 minutos para começar a primeira aula, atravesso o portão voando com o skateantes que qualquer monitor ou coordenador reclame.

Por algum motivo eles param o sermão e simplesmente acenam com a cabeça, não sei se por respeito ou pena mas isso pouco importa agora, desacelero no meio do corredor e vou em direção ao meu armário, e para minha surpresa, ele está lotada de cartas.

- Mas que merda é essa?

- Você recebeu muitas fãs só por estar vivo, apesar de você não ter perdido muito: um olho, uma namorada serial Killer... Hmmm... talvez tenha perdido um pouco sim.

Uma voz estranhamente fina e estridente responde, e independente de quem fosse, grudo na gola da sua camisa e o jogo contra o armário, levanto-o do chão, e olho em seus olhos para que ele veja através dos meus óculos escuros a multi-cor mutada que aquilo tudo deixou em mim.

Mas no instante que analiso aquele garoto, pequeno, magro mas ainda sim com um porte forte, reconheço-o

- É você!

- Olá K, é um prazer rev-

Ele não teve a chance de terminar a frase, com um soco certeiro, ele tomba para a direita, e com a mesma velocidade que caiu se levanta e se prepara para outro ataque.

- Entendo querer descontar em mim quando não há respostas mas eu as tenho!

- CALE A BOCA!!!

Tomado por ódio, avanço sobre ele mas para meu azar - ou sorte dele - alguém tinha chamado os monitores e mesmo quase arastando-os sou levado à diretoria, para longe do único culpado que tinha de tudo isso... Por enquanto.


***


Arrastado à força e muito irado, sou mandado para a sala dos professores e lá começo loucamente a gritar com os funcionários

- Me soltem, aquele maldito fez algo com a minha namorada!

Eles somente me observam, logo em seguida, abrem caminho e Andrade aparece na porta e dispensa todos

- K, meu caro, não pode se irritar tão facilmente assim, claro considerando que é o líder do G.I.M., você precisa manter a calma com seus aliados.

Ele dá dois toques leves na porta, ela se abre e dela vem duas pessoas

- Bom, K, vou oficialmente apresentar seus aliados:

- Fizzy - ele entra com uma bolsa de gelo no rosto, visivelmente inchado, mas ainda sorri. Sinto um certo remorso por tê-lo socado.

- E Nathalia Belmont, sua assistente principal.

Abismado, comprimento-os, mas uma única pergunta resta na minha cabeça

- Onde está o G?!


***

Diários de um Poeta (W.I.P)Onde histórias criam vida. Descubra agora