Capítulo 1

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- Sara!!! -exclamou minha mãe enquanto puxava meu cobertor para me acordar.

- O que foi mãe? -perguntei ainda bocejando.

- Vamos descer logo pra tomar café! Seu pai tem uma notícia pra gente!

- Calma Dona Carmen, deixa eu escovar os dentes que já desço. -disse enquanto dava um sorriso de canto de boca. Minha mãe odiava quando alguém a chamava de Dona Carmen. Por isso, me deu um tapinha no braço e fez cara de brava.

Escovei os dentes com calma, ainda sonolenta porque tinha dormido tarde na noite anterior, mas eu estou de férias! Assim, férias até o ano que vem né? Passei na Universidade Federal e vou cursar Medicina Veterinária, sempre foi meu sonho cuidar dos animais. Então só terei esse mês de dezembro e um pouco de janeiro para descansar, serão cinco longos anos pela frente. Mas vai dar tudo certo! Eu sei que vai.

- Bom dia! O que foi dessa vez pai? -perguntei enquanto descia as escadas em direção a cozinha.

- Bom dia dorminhoca! Senta aí que lá vem bomba! -exclamou enquanto soltava uma gargalhada. Fazia um bom tempo que não via meu pai tão feliz daquele jeito, com um brilho nos olhos que nem imaginava que ele tinha. 

Meu pai se chama Marcos, é advogado e trabalha demais, só tem tempo pra gente no final do ano mesmo. Mas é graças ao trabalho dele ao longo de todos esses anos que temos uma excelente condição financeira. 

- Lembram de quando o meu pai morreu? Tem uns dois anos já. Ele disse que teve um filho fora do casamento e me passou algumas informações para encontrá-lo. -começou.

- Claro que lembro querido! E desde então você ficou obcecado com esse seu irmão perdido. -minha mãe continuou.

- A notícia é que eu encontrei ele Carmen! EU ENCONTREI MEU IRMÃO! -exclamou enquanto comemorava com as mãos para cima.

- Jura? -perguntei surpresa.

- Demorou, mas encontrei. O nome dele é Javier e ele mora aqui na cidade, acredita? Passei o nosso endereço e disse pra ele vir aqui jantar conosco essa noite. -respondeu.

- Mas assim? Nem conhecemos esse homem, ele pode ser um ladrão, um assassino, sei lá. E você chamou ele pra nossa casa? -perguntou minha mãe furiosa.

- Calma querida. Vamos fazer assim então, eu vou marcar com ele um pouco mais cedo num bar aqui perto pra termos um momento só de irmãos, nos conhecermos um pouco e depois venho com ele pra cá. Pode ser? 

- Tudo bem. Fico mais tranquila dessa forma. -assentiu. 

- Tudo bem pra você filha? 

- Por mim tudo bem pai. Fico feliz por ter encontrado seu irmão. -respondi enquanto segurava sua mão na mesa.

Terminamos de tomar nosso belo café da manhã, com muita fartura como sempre e então meu celular tocou:

- Oi gata! -exclamei enquanto subia pro meu quarto.

- Oi lindona! -respondeu Angela Heyes, minha melhor amiga desde a infância. 

O pai dela é promotor de justiça, então já imaginou que meu pai adora ele né? Nossas famílias sempre foram muito unidas. Temos uma casa de campo aonde passamos as férias no mesmo condomínio dos Heyes. Inclusive, foi lá onde conheci a Angela e o Paulinho, seu irmão.

- Vamos no cinema hoje a noite? -perguntou.

- Ai amiga, não posso. -respondi.

- Porquê? Você adora um cineminha. 

- O meu pai encontrou aquele tal irmão perdido dele e marcou um jantar hoje a noite aqui em casa. -expliquei.

- Sério? Que droga! -disse Angela em tom de tristeza.

- Nem me fale! Mais um parente chato pra aturar. -respondi dando uma gargalhada.

Ficamos rindo muito no telefone e comentando sobre como seria esse meu tio. Foi cada ideia louca que criamos na cabeça, cada bobagem! Até que desligamos e segui com minhas pesquisas na internet sobre como seria a minha vida acadêmica ano que vem. Pesquisei todos os livros de todos os semestres, não parava de olhar minha grade curricular imaginando como seria mágico estudar aquelas matérias, andar pelos corredores, conhecer gente nova e talvez quem sabe conhecer um rapaz legal. Todas as minhas experiências com homens até então foram ruins, tanto em namoro quanto no sexo. Não sei se ás vezes eu que sou exigente demais ou as pessoas que não entregam o que eu espero delas sabe? Enfim, melhor focar na minha carreira de futura Doutora Sara do que em relacionamentos complicados.

- Vai vestir o que pro jantar filha? -perguntou minha mãe enquanto me afastava do computador.

- Pijama. -respondi em tom de provocação.

- Muito engraçadinha você Sara. Estou falando sério, o que vai vestir?

- Mãe, você liga muito pra roupa. Não vamos receber o presidente da república não. -falei.

- Temos que passar uma boa impressão né filha? Uma casa desse tamanho, com dois carrões na garagem e com pessoas mal vestidas morando nela? Não combina. -afirmou.

- Que tal aquele vestidinho verde escuro que compramos no shopping? Ainda não usei. Pode ser? -perguntei.

- Ótima ideia! Tenho certeza que você vai ficar linda! -exclamou.

Minha mãe sempre diz que é melhor estar linda e arrumada para qualquer ocasião. Mesmo que ás vezes a ocasião não precise disso. Quando meu avô morreu, ela fez todos nós trocarmos de roupa antes de ir para o cemitério. Acredita? Meu pai estava chorando e trocando de roupa ao mesmo tempo porque não poderia ir de "qualquer jeito" no velório. Bizarro.

Logo após passar a tarde colocando minhas séries em dia, fui tomar banho e me arrumar para fazer sala pro parente novo. Coloquei o bendito vestido, uma sandália, deixei meus cabelos soltos e passei um batom cor nude. Não vou gastar minha maquiagem boa pra receber uma pessoa que eu nem conheço, desse jeito está bom demais. 

 - Está pronta? -gritou minha mãe lá da cozinha.

- Já vou! -respondi.

- Desce logo porque seu pai já foi buscá-lo. -pediu.

No exato momento que minha mãe terminou a frase, escutei a porta da sala abrindo e a voz do meu pai ecoando pela casa: OLHA QUEM CHEGOU!

Terminei de retocar o batom, apaguei a luz do quarto e fui descendo as escadas. Meus pais estavam perto do sofá fazendo as apresentações e minha mãe estava na frente deles, impedindo a minha total visão do homem. 

- Sara, vem conhecer seu tio! -exclamou meu pai.

Foi quando meus olhos se fixaram nos olhos de Javier e senti algo inexplicável que nunca havia sentido na vida. Meu corpo todo foi tomado por um nervosismo incontrolável, coração acelerado, pernas trêmulas, fiquei sem fala e fui caminhando lentamente até eles. 

O que estava acontecendo comigo? 

Só lembro que parei em sua frente, então ele esticou a mão para me cumprimentar e disse:

- Prazer, Javier. 

E foi ali que começou a nossa história.

Meu tio, minha paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora