Capítulo 2

423 11 3
                                    


- Prazer, Sara. -disse ao esticar minha mão direita para cumprimentá-lo. O toque de Javier foi gentil e doce ao mesmo tempo. Naquele instante parece que o tempo congelou por alguns minutos, meus olhos fixados nos dele e nossas mãos juntas. Pode parecer coisa da minha cabeça, mas senti naquele olhar algo diferente também, não sei se ele sentiu o mesmo que eu, mas acho que sentiu algo também. Javier deve ter saído dos meus sonhos, fisicamente ele era tudo o que sempre sonhei. Alto, olhos marcantes, um cabelo lindo, mãos firmes e dono de um sorriso contagiante que me deu vontade de sorrir também. Ele vestia uma calça social preta e uma camisa com as mangas dobradas até os cotovelos, de cor azul bebê. Simplesmente maravilhoso. Sabe quando você imagina um homem perfeito, sob medida pra você? E um dia você o encontra e se espanta ao saber que ele existe, que está bem ali na sua frente. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo, afinal, ele era meu tio. Meus devaneios estavam indo cada vez mais longe até que meu pai nos interrompeu dizendo:

- Essa é a Sara, minha filha.

- Seu pai falou muito sobre você, meus parabéns por ter passado na Universidade Federal. -ele disse enquanto abria aquele lindo sorriso.

- Obrigada! -agradeci enquanto voltava pra realidade.

- Vamos para a sala de jantar? Não sabia do que você gostava irmão, então temos peixe, carne vermelha e frango. -disse meu pai.

- Agradeço a preocupação, mas pode ficar tranquilo porque eu como de tudo. Aliás, trouxe dois tipos de vinho também porque não sabia a preferência de vocês. -disse Javier enquanto tirava duas garrafas de uma sacola.

- Eu bebo de tudo! Não tenho nenhum problema com isso! -exclamou meu pai enquanto os dois caíram na risada.

Fomos até sala de jantar e ajudei minha mãe a colocar as comidas na mesa, eu sentei de frente para Javier e minha mãe ao meu lado, sentando-se de frente para meu pai. Mas a minha vontade era de sentar ao lado dele e perguntar tudo sobre sua vida, seu trabalho e principalmente se ele estava solteiro. Eu preciso parar de pensar nesse tipo de coisa, ele é meu tio. 

- O Javier me contou que trabalha na Fender Solutions, é uma ótima empresa. -afirmou meu pai.

- Nossa! Essa empresa é excelente. O que você faz lá? -perguntou minha mãe enquanto colocava comida nos pratos.

- Eu sou gerente de recursos humanos. Trabalho lá há doze anos já. Realmente é um ótimo lugar para fazer uma carreira. -contou.

Uau! Ele tem uma carreira em uma das melhores empresas do país. Não é um qualquer como nós pensávamos e muito menos um ladrão ou assassino como disse minha mãe. Eu estava torcendo para perguntaram mais sobre a vida dele, até que ele me olha novamente e pergunta:

- E você Sara? Pretende ser veterinária né? 

- Sim,  eu amo os animais. Pretendo trabalhar em uma clínica e depois quem sabe abrir meu próprio consultório. -respondi.

- Perfeito! Tenho certeza que você vai conseguir! Sabia que a sua Universidade fica perto do meu trabalho?

- Não sabia. Eu não conheço muito aquela região. -disse imaginando o porque ele me deu essa informação do nada. 

- Tem um restaurante maravilhoso naquela avenida. Fica a dica caso você queira comer bem e economizar ao mesmo tempo. -contou Javier enquanto tomava um gole de vinho.

Então era isso, ele só estava dando uma dica de economia e eu aqui me iludindo achando que ele queria marcar um encontro comigo. Fala sério Sara. Se controla. Para com isso.

O jantar foi longo, meu pai não parava de falar da sua infância e do meu avô, que Javier nem chegou a conhecer. Ele também contou suas histórias, na maioria das vezes muito engraçadas, me hipnotizando com aquele sorriso lindo. Acho que ficamos na mesa umas duas horas. Até que tomei a iniciativa de recolher todos os pratos e levar para a cozinha. 

- Eu te ajudo. -disse Javier enquanto pegava alguns pratos da minha mão.

- Não precisa, pode deixar que eu dou conta deles. -respondi abrindo um sorriso gentil pra ele que retribuiu fazendo o mesmo.

- Eu moro sozinho, estou acostumado com os pratos e tarefas domésticas. -afirmou.

Era essa informação que eu queria. Se ele mora sozinho, não tem esposa, então pode estar solteiro. Eu ainda tenho uma chance! 

- Magina Javier! Deixa esses pratos aí! Você é nosso convidado. -pediu meu pai.

- Só deixo com uma condição. O próximo jantar tem que ser no meu apartamento. Quero que vocês conheçam lá também. O que acham? -perguntou.

- Por mim já está combinado! Né querida? -perguntou meu pai enquanto olhava pra minha mãe.

- Claro! Combinado. -ela respondeu.

- Sara? Combinado? -perguntou Javier enquanto me olhava com aqueles belos olhos que seria impossível negar qualquer coisa que ele me pedisse.

- Com certeza tio! -respondi.

Tio. Essa palavra saiu da minha boca com um peso enorme, acho que era por causa da culpa que eu estava sentindo por desejar tanto aquele homem que estava totalmente fora do meu alcance. Mas ele realmente era meu tio. Não tinha como mudar isso.

Caminhei até a cozinha e ajudei minha mãe com a louça enquanto os dois foram para a sala conversar mais um pouco. Estavam tão empolgados na companhia um do outro que pareciam duas crianças. Afinal, cresceram separados, com vidas diferentes. Comecei a pensar que se eles tivessem se conhecido antes de eu nascer, ou até mesmo durante a minha infância, talvez eu não estivesse passando por essa situação, porque iria crescer com a presença dele e seria só mais um tio e uma sobrinha no mundo. Ou não. Não tenho como saber. O importante é que ele está aqui agora. 

 - Marcos, o jantar estava ótimo, eu adorei te conhecer, mas preciso ir embora. -ouvi a voz de Javier vindo da sala. 

- Que pena irmão! Mas nunca mais vamos perder o contato hein! Aliás, o que você costuma fazer no final de ano? Natal e ano novo? -perguntou meu pai.

- Geralmente fico no meu apartamento mesmo, não comemoro muito essas datas. -respondeu.

- Não acredito! Você tem que vir com a gente pra casa de campo. Tem piscina, churrasqueira, é um lugar um pouco afastado, mas você vai gostar. 

- Não sei irmão... -começou Javier com certo desconforto.

- Vamos! Vai ser legal! -exclamei enquanto entrava na sala ainda com o pano de prato nas mãos interrompendo a justificativa dele.

- Não vai negar um convite do seu irmão e da sua sobrinha né? Vou te passar o endereço certinho por mensagem. -afirmou meu pai.

 - Tudo bem, eu vou. Deixa eu só confirmar as datas que vou estar de folga lá no meu trabalho e te aviso. -disse Javier enquanto sorria para nós.

Essa seria a oportunidade perfeita para eu me aproximar dele, conhecê-lo um pouco mais e... E mais nada! O que eu acho que vai acontecer? Não estamos de lua de mel e muito menos somos um casal. Ele é seu tio Sara. Tinha essa voz na minha cabeça que ficava dizendo: ele é seu tio!

Mas eu decidi que iria ignorá-la.

Meu tio, minha paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora