Javier ficou sem palavras, minhas mãos estavam suadas e trêmulas. Será que ela ouviu toda a conversa? Pensei.
- Estou atrapalhando? -perguntou enquanto abria um sorriso no canto da boca.
- Não meu amor, claro que não. -respondeu Javier.
Um silêncio perturbador tomou conta do ambiente, foi quando decidi falar a única coisa que me veio a cabeça:
- Ele veio me perguntar aonde comprei meu vestido, estava pensando em te dar um igual. -completei.
- Isso mesmo! Mas agora você já descobriu a surpresa. -ele falou enquanto fazia uma expressão de alívio.
- Ah, meu amor! Que atencioso! Obrigada, mas não precisava... -disse Patrícia enquanto os dois se abraçaram.
Acabei de ajudar a unir ainda mais eles dois. O homem que eu amo, que por acaso é meu tio, e sua namorada. Não sei o que me deu, mas foi a única desculpa que passou pela minha mente e pelo jeito, fiz certo.
O casal feliz se foi e fiquei sozinha em meu quarto pensando no quanto era perigoso ficarmos de conversas pela casa. Então, tomei uma decisão: não vou mais falar com ele, não vou provocá-lo e muito menos procurá-lo. Essa relação não iria dar em nada mesmo, posso guardar esse sentimento lindo e nossos pequenos momentos de felicidade plena aqui dentro de mim, foi bom enquanto durou.
Peguei meu celular, os fones de ouvido, coloquei a música que dançamos juntos no natal e comecei a refletir sobre um artigo que li na internet uma vez: a teoria dos três amores. Dizem que ao longo da vida, nos apaixonamos apenas três vezes. Tem o primeiro amor que geralmente acontece na adolescência, aquela descoberta da paixão, das sensações e dos primeiros sofrimentos, que acreditamos durar para sempre. Já passei por isso!
O segundo amor é o mais difícil, avassalador, costuma ser uma relação de muito aprendizado, de muita dor, aquele que tem tudo para dar errado, mas você insiste mesmo assim. O famoso amor impossível. Acho que me encontro nessa fase.
E o terceiro amor, que simplesmente acontece, é mais fácil, te acolhe como um cobertor macio e cheiroso em um dia terrível de inverno. Dizem que esse é o nosso verdadeiro amor. Definitivamente não é o meu caso.
Infelizmente me encontro na segunda fase: a dor e o impossível. Devido a isso, guardarei todas as nossas lembranças com todo carinho em meu peito, sou grata por ter conhecido Javier, sou extremamente grata por todos os nossos momentos que sempre irão ficar eternizados em minha memória. Mas vou tentar tirar algum aprendizado disso tudo, algum dia, porque agora dói demais.
Deitada de lado em minha cama, com uma brisa suave balançando lentamente as cortinas e ouvindo a nossa música, me debulhei em lágrimas até pegar no sono.
- Filha, acorda! Já são quase onze da manhã, está um dia lindo! Daqui a pouco a Angela vem pra gente passar o dia na piscina! -informou minha mãe enquanto sacudia meu braço.
- Vou me trocar e já desço. -afirmei com voz sonolenta.
- Seu pai já está preparando as coisas para o churrasco! -exclamou.
Assim que ela saiu do quarto levantei-me esfregando os olhos e fui em direção ao banheiro. Esbarrei em uma silhueta masculina.
- Bom dia! -escutei Javier dizer.
- Bom dia tio! -respondi enquanto me virava para encarar os olhos dele.
- Seus olhos estão muito vermelhos! Você estava chorando? -perguntou tocando suavemente minha face.
- Estava! Afinal, estou vivendo um amor impossível! -exclamei indo em direção ao banheiro e batendo a porta.
Não queria que desse tempo dele dizer nada. Tudo o que eu mais queria naquele momento era ficar longe, se pudesse, pegaria o carro do meu pai e sairia sem rumo. Mas ainda bem que tenho minha melhor amiga para suportar esse churrasco comigo, com certeza não iria conseguir passar por isso sozinha.
Assim que ela chegou fomos direto pra piscina, estava muito calor mesmo, um sol escaldante. O Paulinho não compareceu porque ficou ajudando seu pai com algumas papeladas do serviço, mas disse que iria aparecer mais tarde.
- Cadê sua mãe? -perguntou Angela.
- É mesmo! Vou atrás dela pra ver se precisa de ajuda com alguma coisa. -respondi.
Me sequei rapidamente e fui atrás dela, olhei todo o andar debaixo e não a encontrei. Pensei que estaria na cozinha preparando algo, mas estava vazia. Então fui até seu quarto e encontrei a porta entreaberta. Sem fazer barulho, fiquei espiando e a vi em frente ao espelho passando maquiagem no corpo, mais especificamente a base que ela sempre usava no rosto. Sem entender nada, abri a porta e entrei.
- Mãe! O que você está fazendo?
- Nada filha, nada. -respondeu enquanto vestia seu roupão tentando esconder algo.
- Mãe, porque você estava passando base no corpo? -perguntei seriamente.
Ela me encarou por alguns segundos e depois começou a chorar. Eu não sabia o que fazer, então a envolvi em meus braços como uma criança. Pouco a pouco, fui abaixando o roupão de seus ombros e então comecei a ver algumas manchas roxas, outras um pouco mais escuras e amareladas.
- Você caiu? Mãe! Me fala o que aconteceu! -pedi em tom de desespero.
Ela não dizia nada, apenas balançava a cabeça negativamente e chorava cada vez mais, me deixando ainda mais agoniada.
- Seu pai... -sussurrou.
- O quê? Meu pai o quê? -gritei enquanto segurava seu rosto.
- Foi seu pai quem fez isso comigo. Mas não conta pra ninguém, por favor...
Confesso que foi um choque! O casal que sempre foi meu exemplo de família perfeita, de amor e respeito, agora tinha desmoronado. Por um instante, não conseguia acreditar.
Meu pai bate na minha mãe? Desde quando está acontecendo isso? Como eu nunca percebi?
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Meu tio, minha paixão
Romansa"Ele é o homem com quem sempre sonhei, seu sorriso, sua voz, seus olhos... A cada toque meu corpo arrepia, só de estarmos no mesmo ambiente eu já fico tomada de um desejo que jamais senti. Seria normal dizer essas palavras sobre qualquer um, mas...