Em um ato de desespero, fui correndo para o banheiro mais próximo. Meu estômago estava estranho, fiquei com uma certa ânsia, mas não vomitei. Com as mãos sob a pia, encarei meu reflexo no espelho por alguns segundos, tentando assimilar o que estava acontecendo, se a situação já era complicada, agora tinha se tornado impossível.
Lavei o rosto, respirei fundo e escutei minha mãe do lado de fora preocupada:
- Tudo bem filha?
- Tudo certo mãe! Só estou com muito calor e acho que minha pressão baixou um pouco. -respondi enquanto abria a porta.
- Quer ir lá fora tomar um ar fresco? -perguntou.
- Não mãe, estou bem. Tinha combinado de passar na casa da Angela, vou indo tá?
Precisava de qualquer desculpa para sair dali o mais rápido possível antes de cair em lágrimas. Somente minha amiga poderia me consolar.
Tentei passar pela sala sem fazer nenhum contato visual, foi quando senti o toque suave de sua mão direita em meu braço:
- Sara, você está bem?
O som de sua voz que me era tão agradável, agora tinha um certo tom de arrependimento e culpa. Afinal, ele sabe o que fez. Minha vontade era gritar e contar tudo para aquela tal namorada dele o que estava acontecendo entre nós. Ou melhor, o que aconteceu, porque a partir de hoje, não iria acontecer mais nada.
- Estou ótima tio! -respondi friamente enquanto caminhava até a saída.
Finalmente consegui sair daquele lugar e comecei a correr até a casa dos Heyes. Toquei a campainha repetidas vezes, até que Angela abriu a porta, dei um abraço nela e comecei a chorar igual a um bebê.
- O quê aconteceu? Pelo amor de Deus! Me fala! -pediu.
Indiquei com as mãos para irmos até o quintal, um lugar mais afastado.
- O Javier, ele tem... Uma namorada. -completei entre soluços enquanto limpava minhas lágrimas.
- O quê? Como assim? -perguntou indignada.
- Ela está lá na minha casa agora! Uma tal de Patrícia! Acabaram de chegar! -gritei.
- Calma, respira e me conta tudo.
Contei a ela sobre a noite passada no meu quarto, o quanto estava feliz e acordei radiante, pensando que ele estava sentindo o mesmo por mim e hoje simplesmente aparece com outra mulher, para passar o dia de natal na minha casa.
- Você fez muito bem em sair de lá. -comentou.
- E ele ainda teve a cara de pau de me tocar e perguntar se estou bem! -exclamei.
- Sinceramente, eu acho que você foi só uma diversão pra ele. Me desculpa amiga, mas se eu fosse você, desistia desse cara e começava a tratar ele apenas como um tio qualquer mesmo. -falou.
- Eu gosto tanto dele Angela! Tanto que não consigo nem explicar... -suspirei.
- Por favor Sara, esquece isso. Foi apenas um caso de fim de ano com um cara mais velho. Ele tem uma vida, uma namorada. Sei que você não quer ouvir isso, mas nunca iria dar certo!
Essas palavras ficaram ecoando na minha mente: nunca iria dar certo!
Talvez ela tenha razão, deixei o coração falar mais alto. É isso o que acontece quando deixamos os sentimentos falarem mais alto, sempre nos machucamos.
- Posso ficar um tempinho aqui? -pedi.
- Claro amiga! Pode ficar o tempo que você quiser.
Avisei meus pais que iria passar a tarde toda na casa dos Heyes, eles eram ótimos amigos e as únicas pessoas com quem eu podia contar naquela situação.
Paulinho foi ao nosso encontro também e ficou sabendo de tudo. Ele era da mesma opinião de Angela. No fim das contas, acho que eles tinham razão. Javier era apenas meu tio.
Por pior que tivesse sido aquele dia, o pôr do sol estava lá para me animar, do jeito que eu adorava: uma tarde de verão com um céu rosa-alaranjado, uma leve brisa refrescante e o canto dos pássaros em revoada. Tirei uma foto para registrar a beleza que me trazia uma pequena parcela de felicidade em meio ao caos interno que eu estava vivendo.
Agradeci a eles pela incrível hospitalidade de sempre e segui para casa.
Entrei e subi direto para meu quarto, sem falar com ninguém. Tomei um banho demorado, pensando em tudo que havia acontecido e principalmente em como controlar minhas emoções para enfrentar o jantar e os próximos dias. Coloquei o mesmo vestido que usei para ir com Javier ao shopping, quando fizemos sexo em seu carro. Propositalmente.
- Boa noite a todos! -disse enquanto entrava na sala de jantar.
- Boa noite filha! Está melhor? -perguntou meu pai.
- Estou pai. Foi só uma queda de pressão, coisa boba. -respondi enquanto olhava fixamente para Javier.
- Que vestido lindo! -comentou Patrícia.
- Obrigada! E você tio, o que achou do meu vestido? -perguntei encarando seus olhos nervosos que não sabiam mais para onde olhar.
- Bonito. -respondeu de forma rápida.
Minha mãe chegou com as travessas de vidro e começamos a comer. Tomei um pouco mais de vinho do que o habitual. Eu precisava.
Ninguém merece ouvir sóbrio o amor da sua vida contando como conheceu a então namorada dele. Eram colegas de trabalho, parece que a primeira investida foi dela e depois começaram a sair.
- Há quanto tempo estão namorando? -perguntei.
- Há oito meses. -Patrícia respondeu.
- Que legal! Espero que vocês sejam muito felizes!
Senti minhas bochechas um pouco quentes e já estava rindo a toa depois da quinta taça de vinho. No fim do jantar, ajudei com os pratos e fui para a sala. Meu pai estava no quintal atendendo uma ligação. Tentei subir as escadas, mas estava tudo embaçado.
- Parece que você bebeu demais, deixa que eu te ajudo. -disse Javier enquanto envolvia minha cintura.
- Não preciso da ajuda de ninguém, muito menos da sua. -sussurrei em seu ouvido.
- Precisamos conversar, vem!
Com certa facilidade, ele pegou-me no colo e subiu rapidamente. Entramos no meu quarto, fiz um gesto bruto para sair de seu colo e sentei na cama.
- Me desculpa. Eu não queria que ela viesse pra cá! Tentei te avisar, mas você estava dormindo. -disse.
- Agora a culpa é minha? -perguntei com ironia.
- Sara, eu gosto muito de você. Eu ia te contar, só estava esperando o momento certo. -respondeu.
- Momento certo? Quando? Fala tio!
Vejo uma sombra no corredor e de repente Patrícia entra no quarto com uma expressão confusa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu tio, minha paixão
Romance"Ele é o homem com quem sempre sonhei, seu sorriso, sua voz, seus olhos... A cada toque meu corpo arrepia, só de estarmos no mesmo ambiente eu já fico tomada de um desejo que jamais senti. Seria normal dizer essas palavras sobre qualquer um, mas...