Olho para a rua e vejo as gotas de chuva caindo, as nuvens tomando conta do céu ofuscando o brilho da lua e os caminhos de asfalto de uma cidade média úmidos e vazios na calada da noite, onde a vontade deixou-me voar com os prédios da cidade média passando junto com as gotas da chuva. Mas a lua ainda não aparece, e já começo a sentir a falta de sua presença: das vezes que desabafei sobre os meus problemas naquela maldita escola, do quanto achava que precisava de uma pessoa parecida com aquela que ajudou-me a enfrentar o ambiente com pessoas que não queriam muito fazê-lo de lá um ambiente aconchegante; que, diferente do que pensava, desejou o meu bem enquanto fosse seguir o rumo em um outro canto da cidade. Mas tudo bem, eu consigo seguir a minha vida sem precisar de uma companhia humana, consigo viver sem ter a pessoa para poder conversar sobre assuntos alheios. Às vezes é até melhor assim, já que agora posso ler sem ter que parar enquanto o ser cantarolava suavemente entre assovios. Mas não é dessa pessoa que sinto falta, e sim da lua que ainda não voltou a brilhar.
Passando pelo centro da cidade, vejo vários jovens se divertindo em restaurantes ou clubes que parecem terem sido feitos para esse tipo de gente; gente que não liga para as intensas gotas da chuva ou que estão pouco se importando se a lua está lá ou não; afinal, eles estão se divertindo com seus amigos ou seus amores, nada mais além do que um jovem costuma viver. Bem, eu também sou jovem e poderia estar vivendo como uma deles. Então por qual motivo ao invés de me divertir, estou sentindo-me solitária simplesmente porque a lua não está ali pra me acompanhar?
Já passou da uma da madrugada, e a chuva continua caindo sobre a cidade rodeada por prédios, restaurantes, clubes e jovens; jovens que provavelmente só irão sair de sua segunda casa ao amanhecer para retornar aos seus lares que rodeiam a cidade. Jovens que provavelmente não precisam preocupar-se com o vazio adeus da pessoa especial ou da lua que não irá brilhar pela noite; mas se essas forem as principais características de um jovem, então sou um corpo de uma garota de quinze anos guardando a alma de uma pessoa de trinta anos. Sou como os prédios guardando os espíritos juvenis que faz a cidade festejar, sou como o vazio adeus guardando um profundo sentimento de agradecimento e carinho, sou como as nuvens guardando a luz da lua.
Se pudesse agradecer por tudo que o ser cantarolante fez por mim ou até mesmo conseguir dar um adeus cheio de sentimento ao invés de um inaudível adeus, talvez a dor da saudade, saudade essa na qual recuso-me a sentir mesmo estando lá, não estaria tão intensa como agora. Talvez a lua estaria brilhando e eu não estaria sofrendo com a ausência de ambos; mas sei que ele não voltará, a lua ainda está escondida nas lágrimas do céu nublado e eu ainda estou acompanhando as lágrimas fluviais com saudades da luz da lua; de saber que eu não estava sozinha nem nos céus e nem na terra. Os jovens estão se divertindo sem a lua, mas não consigo ser como eles; porque sinto a solidão da lua, que ainda não voltou.
São José dos Campos, 3 de janeiro de 2020
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São José das Angústias - Uma Coletânea de Textos de uma Joseense Solitária
PoesíaDe felicidade à melancolia, de paixão à decepção e de sofrimento à superação: tudo está reunido na mais nova coletânea de textos de uma pessoa angustiada entre lágrimas, chuvas, jovens e bolinho caipira. No aniversário de 255 anos de sua cidade nata...