Capitulo 6: Aysha

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-Como assim você cedeu toda as suas terras na parte setentrional como dote para o Rei de Havema? Você está louco Derek? Tudo isso por causa de...uma mulher?
Derek sorriu, enquanto cavalgava deitado no seu imenso cavalo de guerra. Esse hábito adquirido nos campos de batalha, o acompanhava mesmo em suas rotinas diárias de volta ao seu reino.
-Uma mulher não, uma lady, uma princesa.
Cornell balançou a cabeça. Quando Derek iria finalmente amadurecer?
-Você deveria ter deixado o acordo com os seus ministros, porque eles com certeza não iriam ceder aquelas terras tão produtivas para um outro reino tão próximo, que pode colocar o seu em risco.
Derek se levantou e puxou as rédeas de seu cavalo branco.
-Eu não tive culpa se fui naquele maldito banquete e vi a mulher mais linda que Deus colocou na face da terra, bem diante dos meus olhos. Eu a quis. E pronto.
Cornell desceu de cavalo.
Derek também desmontou de Sefton, seu corcel branco de batalha.
Gostava de apreciar seu reino e muito de seu trabalho árduo estava ali. E esperava realizar muito mais nos próximos anos.
-Impulsos.-Ele ouviu Cornell falar irônico.
Derek se deitou  na ravina verde e cruzou os braços olhando para o céu.
-Você me conhece meu caro e nobre amigo: meu fraco são as batalhas e as mulheres. Além do mais, quando vi a princesa Roshlyn, vi que ela é extremamente pudica, e...
Cornell sorriu. Derek o olhou com a sobrancelha arqueada. Há muito tempo não via o amigo sorrir.
-O que? Você escolheu uma princesa pudica?
Derek o olhou divertido.
-Porque com ela vou cumprir a missão de gerar um herdeiro e ela não me fará ter vontade de abandonar minhas batalhas e amantes...principalmente Henriett...ah Henriett! Aquela sim saber servir seu rei.
Cornell assentiu.
-E as terras, Derek?
- As terras voltam a ser minhas assim que meu sogro Roland morrer...
Derek lembrou-se de Roland e sabia que aquele velho não morreria tão rápido assim. Mas ele não precisava das terras de Havema. Por enquanto lhe bastava sua vassalagem.
-Notícias de Theo?
Derek sorriu.
-Sim, me mandou um mensageiro. Nesse momento deve estar em Brugnaro organizando o seu reino recém tomado. Por nós...
Olhando seu amigo, o Rei Derek notou que Cornell estava tenso.
-E por falar nisso, você não deveria estar em Dalibor? Sua mãe e sua noiva ainda não chegaram?
Cornell revirou os olhos.
-Sim devem ter chegado.
Derek jogou um punhado de grama seca na armadura têxtil do amigo, que o olhou irritado.
-E o que trás vossa majestade aqui? Sei que meu ferreiros fazem as melhores armaduras, e minha forja é a melhor de todos os treze reinos...mas... os seus também não ficam atrás. Que  real motivo  que o trouxe a Craig, bom amigo?
O Rei Cornell se levantou.
Derek desconfiava que o segundo casamento amigo devia estar mexendo com suas emoções. Ele havia agonizado durante todos aqueles anos, devido a morte trágica da esposa e da filha natimorta.
Por isso ele estava ali. Fugindo do que parecia ser um pesadelo para ele.
Derek  procurou aliviar um pouco a tensão do amigo falando divertido:
-Fugindo de suas obrigações matrimoniais, meu rei?
Cornell o fuzilou com os olhos.
-Você sabe muito bem que não!
-Sim eu sei. E por isso escolhi minha esposa.
Cornell baixou os olhos.
Havia uma aura de... derrota?
Derek levantou-se e deu a mão para que o amigo fizesse o mesmo.
Ele aceitou.
Ambos os homens se olharam. Dois fortes guerreiros. Dois Reis. Dois amigos.
-Eu não deveria ter tido isso. Sei o quanto isso o comove.
Cornell subiu em seu cavalo, Amis.
-Pronto?
Derek subiu em Sefton. Os longos cabelos negros ao vento.
-Sempre.
E ambos saíram em disparada em seus cavalos, cada um, pensando a sua maneira, que aquela sensação era a mais poderosa de todas.
Um homem e seu cavalo.
...

-Milady sabe que o inverno está próximo e não seria nada agradável termos em nossas trilhas carros de boi e carroças atolados na lama e na neve.
Aysha sorriu para o irmão que estava sentado no meio de uma mesa semi oval com seus conselheiros e ministros.
-Realmente Vossa Majestade, devo concordar com milorde. Mas...
Derek revirou os olhos. Mas... sempre havia um mas naquela família que se diferenciava de muitas, já que as mulheres não eram submissas em relação aos homens. Muito pelo contrário eram autônomas e independentes. Na sociedade feudal em que viviam, isso não era visto com bons olhos. Mas na corte de Craig, só permanecia quem respeitava essa condição.
Seu pai havia criado suas filhas com a mentalidade diferenciada para a época.
Alguns reinos viam isso com bons olhos, outros não. Mas em Craig, decisões e opiniões das princesas eram apreciamos e muitas vezes, esperadas.
-Mas seria muito importante para nosso povo ter uma diversão antes do confinamento. E há de convir que uma feira é um evento maravilhoso e agrada a todos, desde os nobres até o humilde camponês.
Derek olhou para seus conselheiros e viu que a ideia de Aysha agradava a maioria.
Seu conselho era muito conservador, porém eram muito astutos e justos.
A maioria dos presentes haviam sido conselheiros de seu pai e formavam uma rede de apoio na administração e funcionamento do reino de Craig.
Aliás, Derek devia a eles as boas decisões que vinha tomando desde a morte de seu pai.
Ao mesmo tempo que eles eram benevolentes com atitudes pessoais do rei, eram ordenadores do bom andamento das políticas militares e econômicas, fazendo com que o reino funcionasse quando Derek se entregava algumas vezes, aos prazeres da vida.
-Vossa Majestade deve saber que além do teatro e programas culturais, também haverá negócios em jogo. Alguns comerciantes estarão presentes com mercadorias vindas do Oriente e creio que será uma excelente oportunidade para termos acesso a essas mercadorias e incontáveis novidades dos mundos que desconhecemos.
Aysha era uma grande negociadora. Através de seu incentivo, alguns vassalos de menor porte, abriram no vilarejo pequenos negócios e através de empréstimos que ela também financiou, ocasionaram melhoria de pequenos negócios como os sapateiros, ferreiros e costureiras.
Ela seria uma excelente rainha, se tivesse a oportunidade de sê-lo.
Derek se orgulhava de sua irmã e sua visão de futuro lhe era muito interessante, já que acreditava também que o futuro estava na venda de mercadorias.
-Creio que se conseguir organizar tudo antes do inverno e desde de que não tenha nenhum carro de boi atrapalhando meu caminho, creio que podemos receber uma feira em Craig.
O conselho assentiu e Aysha sentiu-se profundamente recompensada pelo irmão e o conselho entenderem o mecanismo das novidades que surgiam a galope.
Ela era uma mulher emancipada sim. E devia isso, a educação que tivera de seu pai Zeferin e sua mãe Margot, que por ser uma mulher nórdica, tinha convívio desde cedo com sua ancestralidade comerciante e aventureira. Sofria muito por sua mãe, hoje em dia viver no limbo da melancolia, mas era preciso continuar vivendo e realizando. Ela ficaria orgulhosa dela.
-Lhe agradeço Vossa Majestade e milordes. Não irão se arrepender. Como sempre digo: É preciso que todos vivam bem para termos um reino pacífico e desenvolvido.
Antes que Aysha saísse, Derek falou:
-Gostaria de falar a sós com Vossa Alteza.
Os conselheiros fizeram uma longa reverência e deixaram o rei sozinho com a irmã.
Aysha o olhou curiosa.
Derek olhou a irmã a sua frente.Ela era uma mulher encantadora. Seus longos cabelos negros agora viviam cobertos pelo véu e pelo biggonet, o que deixava  seu rosto afilado  é bonito á mostra. Sua irmã era encantadora, e estava muito elegante num vestido verde  solto no corpo, de mangas largas com uma  camisa por baixo com tingimento marrom.
-Milady, quero lhe fazer um pedido muito especial e espero que dedique um pouco de seu tempo a isso.
Aysha estava muitíssimo interessada nesse pedido. Ela, como irmã mais velha havia cuidado do pequeno príncipe com dedicação e amor, e foi com  ela que o pequeno príncipe aprendeu a usar o arco, a galopar pelos campos planos de Craig e a fazer algumas travessuras como correr atrás dos porcos e colher maçãs nas macieiras. Ela tinha uma verdadeira devoção ao irmão mais novo.
-Farei o impossível para cumprir com seu pedido milorde.
Derek levantou e andando com as mãos pra trás, parou em frente a sua irmã.
-Dê um jeito na princesa Roshlyn.
Aysha o olhou incrédula.
-Como assim, meu irmão? Como darei um jeito em vossa alteza?
Derek suspirou.
-Convide-a para ajudá-la na organização da feira, leve-a a costureira para que tenha vestidos novos e coloridos... enfim. Você saberá o que fazer.
Aysha olhou para o irmão,
-Milorde deve saber que já tentei de tudo. Ela comparece ao salão de refeições, mas é muito tímida e quase não interage. Nem Felícia, consegue tirar mais do que meia dúzia de palavras. Da princesa.Além do mais, ela já tem 19 anos, já é uma mulher feita e não precisa de uma aia.
Derek estava incomodado. Seu casamento nem havia acontecido e ele já previa que seria como a maioria dos casamentos que conhecia: uma bela obrigação insossa.
-Está chamando minha noiva de velha?
Disse Derek sorrindo para descontrair seus pensamentos preocupantes.
Aysha o olhou com reprovação.
-Bem sabe que sou contra o casamento antes dos dezessete anos e também de acordos de casamento. Sou a favor do casamento com consentimento e nunca achei que você recorreria a esse tipo de aventura.
Derek estava pensativo, pois nem ele mesmo  acreditava que estava comprometido em um noivado negociado com uma noiva fora dos seus padrões tanto de beleza, quanto de comportamento.
Aysha o olhou com censura benevolente.
-Gostaria de saber quantas canecas de cerveja tomou antes de pedir a mão da princesa em casamento.
Derek gargalhou. Ela a conhecia tão bem!
-Xeque mate, milady! Mas agora já está feito.
Aysha  então continuou. Estava preocupada com aquele pedido. Possivelmente seria o primeiro que não conseguiria cumprir a pedido do irmão.
-Nao sei bem o que fazer, milorde.O padre Rochelius me falou que ela frequenta a missa todos os dias, e esse parece ser o único evento que ela aprecia deveras.
Sentando-se na ponta da longa mesa, Derek olhou para a irmã.
-Mesmo assim, reintero meu pedido milady.
Aysha sorriu para o charmoso irmão.
Ele era tão bonito e auto suficiente!
-Sabe que não fujo a um desafio.
Derek pegou as mãos da urna e as beijou.
-Eu sei. Por isso lhe confiei essa missão.

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