Boris era o nome do chefe do clã dos ciganos que estava em Rheun, um pequeno lugarejo a algumas horas de Craig.
Henriet compareceu na primeira noite da apresentação cigana, e ficou encantada com a música desconhecida e com a dança exótica apresentada pelos homens e mulheres do clã.
Henriet achou tudo muito sensual e diferente e se sentiu tentada a dançar junto com eles. Mas quando adentrou na roda cigana, as mulheres imediatamente a expulsaram cuspindo no chão e falando agressivamente com ela, numa língua estranha.
Boris interviu de imediato e calou a boca das mulheres falando no seu dialeto com uma voz enérgica, fazendo com que elas se afastassem olhando Henriet com raiva nos olhos.
-As mulheres do meu povo são ciumentas gadji.
Henriet não estava assustada. Ela já havia sido muito maltratada na vida e sabia muito bem se defender sozinha.
-Gadji? Isso é um insulto senhor?
Boris sorriu e ela viu que ele não era um homem bonito. Seu nariz era meio torto, tinha uma barba falhada e um dente de ouro.
-Não minha bela. Gadji é uma mulher que não faz parte da cultura romani, que é meu povo.
Henriet levantou o rosto e o olhou sedutoramente para o homem de tez morena.
-E você? Gosta de mulheres Gadji?
O cigano a olhou com seus olhos escuros que eram perigosamente estranhos e sedutores.
-Gosto muito. Mas uma mulher branca como você dormiria com um homem romani?
Atrevida, Henriet passou a mão pelos seios que saltavam do corpete apertado.
-Só durmo com homens que fazem o que eu quero.
Boris a olhou de cima em baixo, seu corpo inteiro latejava por ela. Queria muito aquela mulher, mas os negócios falavam mais alto.
-Se tiver como pagar, sou capaz de fazer tudo o que a senhora quiser.
Henriet sorriu para o homem. Sim! Eles se dariam muito bem.
...
Graças as moedas de prata que a estrangeira tinha feito questão de lhe dar e junto com o anel que havia ganhado do o rei, agora ela podia pagar para Boris realizar a sua vingança final conta a princesa de Havema.
Nas semanas seguintes, a caravana romani permaneceu acampada na floresta próxima ao vilarejo e Henriet frequentou a cama de Boris quase todas as noites, e foi assim que conseguiram elaborar um plano para entrar em Craig e fazer o que tinha que ser feito.
Mas Henriet tinha um desejo oculto: ela queria estar presente, queria ter o prazer de presenciar a agonia da estrangeira. Queria ve-la tremer de medo, queria muito vê-la gritando pela própria vida!
Porém, sabia que com a cor da sua pele e de seu cabelo, ela seria imediatamente reconhecida pelos moradores e soldados de Craig, que certamente iriam avisar ao rei de sua presença na vila.
E como o rei a ameaçou de forca em praça pública, ela não iria se arriscar de forma nenhuma a perder a sua vida daquela maneira. Pois, era o rei era reconhecido por cumprir com a palavra dada.
Esse era um ponto de honra para ele. Tanto pelo fato da sua criação como por ser um cavaleiro legítimo que obedecia a um rígido código de honra.
Então... teria que ter um plano. Mas ela ainda não sabia como.
Deitada ao lado de Boris ela comentou de seu desejo de participar do atentado contra a rainha.
- Quero ir com vocês. Mas como vou fazer? Com esses cabelos vermelhos eles irão saber que sou eu.
-Se pagar a Velha, ela te ensina a colorir seu cabelo com uma mistura de plantas e ervas, que dificilmente alguém te reconhecerá.
Henriet estava surpresa com aquela possibilidade. A Velha era a matriarca do clã. Era o olho que tudo via e o oráculo de toda a grande família cigana.
-Ela pode fazer isso?
Boris riu e tossiu um pouco ao mesmo tempo. Henriet não suportava mais aquele homem com seus escarros constantes e o seu cheiro de cavalo, mas precisava aturá-lo para conseguir o que queria.
-A Velha pode fazer o que você quiser. Basta colocar na mesa um agrado para ela.
Henriet suspirou. Essa vingança estava saindo cara demais. Do jeito que estava gastando, ficaria sem nenhuma reserva para o futuro.
-Irei conversar com ela. Também Preciso de um nome novo.
Boris coçou a barba, e falou sem olhar para ela.
-Vai se esconder conosco Gadji? Porque precisaria de um novo nome?
-Porque sim.
O cigano se sentou na cama e vestiu sua túnica. Estava na hora de voltar para sua esposa que deveria estar esperando por ele com uma panela de madeira na mão para lhe dar umas boas pancadas.A esposa sabia que ele dormia com Henriet e sempre que chegava em casa, era uma grande briga e ela o fazia tomar banho para se limpar da sujeira da mulher branca.
-Então vou lhe dar um nome. Autora. A deusa da manhã.
Henriet sorriu.
-Aurora... gostei. Então serei Aurora a partir de agora.
...
Na semana seguinte, a caravana partiu Rheun antes do sol nascer rumo ao reino de Craig.
A presença de Henriet acompanhando o grupo gerou brigas e discussões que duraram dias , atravessando os dias e as noites.
Foi preciso Boris reunir todo o clã na beira da fogueira e dizer que Henriet estava pagando para ele fazer um serviço em Craig, e que isso era um segredo que não podia sair daquele grupo.
Com essa conversa e a possibilidade de ganhos extras, os ânimos amenizaram, mas as injúrias das mulheres eram constantes e ameaçadoras.
Mas Henriet se convenceu que passaria por aquilo até sua vingança se realizar. Depois deixaria esse povo para trás e nunca mais colocará os seus olhos nessa gente imunda.
Numa das paradas da caravana para descansar, Henriet decidiu que estava na hora de falar com a Velha em sua carroça.
Estavam a poucos dias de Craig, e dali a pouco, iniciaria a ronda sentinela do castelo e ela precisava estar pronta para entrar na vila sem que ninguém desconfiasse de sua presença.
Quando adentrou a carroça, Henriet se deu conta que falar com a Velha seria uma tarefa quase impossível, pois a mulher só falava romani. Henriet começou a fazer gestos para que ela entendesse que queria mudar a cor dos cabelos. Então a velha mulher estendeu a mão. Henriet tirou de seu alforge uma moeda de prata e colocou sobre a palma da mão da mulher.
Ela continuou com a mão estendida, e a contragosto, Henriet colocou mais uma moeda em suas mãos.
A Velha guardou as moedas num alforge pendurado em sua cintura e se aproximou de um cesto grande que ficava no fundo da carroça,
Com suas mãos enrugadas e com unhas muito grandes que pareciam garras de gavião, ela pegou dentro do cesto, uma pequena bacia de madeira e vários panos onde ela guardava, as ervas e os extratos de plantas.
Em silêncio e devagar, ela macerou as ervas até que se formou uma pasta na cor preta esverdeada. A mulher fez um gesto para que Henriet se sentasse e começou a passar a pasta em seus cabelos, puxando -os com um pouco mais de força do que o necessário.
Em pouco tempo, caiam sob seus ombros, cachos de cabelos molhados e completamente escuros.
Henriet ficou extasiada ao se ver num pequeno espelho de lata que a velha lhe ofereceu para ver o resultado.
Em seguida, a velha pegou um pote dentro do cesto e nele tinha um pó cinza. Ela fez um gesto para que ela passasse nos braços e no rosto.
A jovem agradeceu entre dentes aquele pó que serviria para escurecer a sua pele.
Não ousou perguntar do que era feito, mas provavelmente de cinzas de animais mortos.
Quando ia saindo, aVelha a segurou pelos cotovelos. Aquelas garras deixariam marcas no seu corpo! Henriet a olhou com raiva e deu lhe um safanão. Mas a velha insistiu e pegou em suas mãos.
Henriet sabia que corria boatos que a velha via o futuro na palma das mãos. Ela era incrédula nessas coisas de magia, mas por curiosidade, decidiu aceitar que a velhota fizesse uma leitura de suas mãos.
Ao virar as palmas para cima, a velha ficou calada e seus olhos estavam assustados. Num tom baixo e assertivo, ela falou:
-Desista.
Henriet demorou um pouco para entender o que ela falava. A cigana então fechou a palma de sua mão, e repetiu:
-Desista.
Mas Henriet estava cega pela vingança e cansada daquela gente suja. Queria sair dali o mais rápido possível. Quando a velha finalmente soltou suas mãos, ela as limpou em seu avental, com nojo.
-Jamais.
....
A chegada nos portões de Craig se deu no início da tarde. Dentro de uma carroça, Henriet entrava em Craig depois de muitos meses e sentiu um júbilo maravilhoso.
Era muito bom voltar ao lugar onde fora tão feliz!
De repente tudo parou.
Henriet sentiu seu coração disparar. Ajeitou o lenço no cabelo que cobria as raizes ruivas e olhou para fora com curiosidade.
A caravana tinha que esperar a permissão para entrar, e depois de algum tempo, chegou uma comitiva de cavaleiros para fazer a inspeção e pegar os nomes das pessoas que compunham a caravana.
Boris com sua voz de trovão bradou:
-Somos rom, milorde! Nossos nomes são segredos ditos apenas ao vento.
Os cavaleiros conheciam muito bem as caravanas ciganas e suas idiossincrasias. Mas aquela era a primeira vez que aportava ali e precisavam saber a que vieram.
-Vamos nos apresentar milorde. Temos muitas moças bonitas. Vejam! Aurora!
Henriet tremeu de medo, ao ver aqueles homens que conhecia tão bem.
Porque esse maldito cigano chamou justamente ela?
O que ele estava pensando?
Desconfiada Henriet chegou perto deles e ficou de olhos baixos para que não vissem seus olhos verdes.
Porém a figura de Henriet não chamou atenção dos guardas, que olharam para a mulher e achavam que ela estava doente pelo tom acinzentado da sua pele.
-Devem ficar na floresta. E pessoas doentes serão proibidas de entrar no reino.
O guarda falou isso olhando para Henriet com desprezo e se afastaram.
Boris enrolou o bigode e sussurrou:
-Passou no teste Gadji.
Henriet o olhou com ódio.
-Se eles descobrissem que era eu, eu estaria morta, seu imbecil!
Boris pegou no seu braço e o torceu.
-Olha como fala comigo Gadji, sou capaz de cortar sua garganta e jogar aos porcos.
A jovem suspirou fundo. Estava com os nervos a flor da pele e não conseguia sequer pensar direito. Tinha que manter uma boa relação com aquele maldito cigano!
-O melhor disfarce é aquele que não parece disfarce. Enfrente seus inimigos de frente Gadji. Agora, eles ja sabem sua existência Aurora. Poderá transitar livremente.
-Até que esse cigano é inteligente! Era verdade! Poderia andar livremente por Craig graças ao seu disfarce!
A caravana teve permissão para ficar na floresta por cinco dias apenas, devido a grande movimentação causada pelas novas construções e instalações que estavam sendo feitas em Craig. Henriet olhou e notou um grande amontoado de toras de madeira perto da praia, provavelmente os barcos já estavam sendo construídos! Na estrada para o castelo ela viu homens desconhecidos com blocos fazendo anotações e medindo lugares.
Parece que Craig estava sendo remodelado. E as pessoas como sempre estavam felizes, rosadas e com as barrigas grandes da fartura que o rei proporcionava.- Pensou, cheia de rancor no coração.
Nisso, ela viu na estradinha do castelo para a praia, uma pequena fileira de cavaleiros e a frente a bandeira real.
Era o rei!!!!
Mesmo de longe Henriet viu o quanto ele estava bonito e imponente em seu cavalo de guerra branco. Seus cabelos estavam voando e ele usava a túnica de linho com seu gibão de couro aberto. Um pouco atrás, estava o rei Theobald, o Bastardo, e cavalgando ao lado do rei, ninguém menos do que a maldita estrangeira.
O rei equiparou seu cavalo junto ao dela e lhe estendeu a mão e então ele depositou um beijo na palma da sua mão.Henriet viu o sorriso cúmplice dos dois, e o gesto de amor cortês, a irritou tão profundamente, que ela bateu os pés com raiva no chão de barro e pedras.
-Vocês hão de me pagar!!!!
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O Rei Profano
RomantizmDerek é o rei de Craig, também conhecido como o Rei Profano porque vive sua vida, da maneira que ele gosta sem se importar com o que a sociedade pensa: mulheres, bebidas, orgias e batalhas, muitas batalhas. Ao conhecer a princesa Roshlyn de maneira...