Prólogo

90 7 1
                                    

– Prólogo –

O medo do desconhecido é muito mais comum do que se pensa. Então, acordar em um lugar desconhecido não é o sonho de qualquer pessoa. Talvez até de ninguém.

Chrissy Cunningham não fazia a menor ideia de onde estava e nem como havia parado ali. Na verdade, não era nem ao menos capaz de lembrar dos últimos dias. Sua mente pairava em vagas memórias sobre ter saído em missão de reconhecimento e ter encontrado com um grupo de bárbaros. Além disso tudo parecia uma nuvem cinzenta sem muito conteúdo, o ferimento em sua costela e a dor sendo um lembrete sem muito propósito.

Mesmo andando por um bom tempo, ou pelo menos o que seu machucado permitia, Chrissy não parecia nem ao menos ter saído do lugar. Ela era uma boa rastreadora e sabia bem fazer reconhecimento de lugares, então se perder não era corriqueiro para si. Só que ali, ela estava em um estado que ia muito além do que definição de perdida.

Olhando ao redor, estava em uma floresta. Uma floresta muito estranha. As árvores e arbustos eram retorcidas de maneira totalmente fora do comum, além de serem muito cinzas. Sim, cinzas. Ou melhor acinzentadas. Todas as cores ainda estavam lá, mas eram desbotadas. Tudo parecia uma pintura velha que apenas não havia sido esquecida pelo tempo.

E tinha outra coisa que inundava tudo à sua volta: silêncio.

As florestas são barulhentas. São vivas. Mas esta não. Nenhum farfalhar de folhas. Nenhum burburio de animais. Nenhum sussurro do vento. Nenhum som. Apenas silêncio, um solitário e incômodo silêncio.

Até que finalmente ouviu um barulho. Um pequeno som que se aproximava cada vez mais, ficando cada vez mais alto.

Rapidamente procurou se esgueirar para um arbusto, a respiração sendo apreendida, os olhos atentos. Não estava em condições de lidar com nada, nem se tivesse metade do seu tamanho. Sendo assim, esperou.

Ao passar de alguns segundos, algo apareceu. Era do tamanho de um guaxinim, mas decididamente não era um. Parecia um corvo, a cabeça, as penas pretas e as asas. E seria uma ave perfeita, se não tivesse também patas semelhantes a um gato. A estranha criatura se assemelhava a um grifo em miniatura. E era inexplicavelmente familiar.

Sem cerimônias, o animal caminhou até o arbusto onde a garota se escondia, parando ali e se sentando sobre as pernas traseiras. A cabeça fazendo um movimento típico de um pássaro curioso, antes de apenas inclinar para o lado, encarando. A ruiva suspirou, soltando todo ar que havia prendido. O bicho não parecia perigoso e claramente sabia onde ela estava. Então se levantou devagar tentando não assustar o pequeno monstro. O que não parecia fazer muita diferença, já que ele nem se mexeu.

– Maat? – um chamado emergiu das árvores. Uma voz conhecida.

Chrissy se ergueu assustada, estava desarmada e em um local desconhecido. Correr não era uma boa ideia por causa do fermento. Mesmo assim assumiu uma posição que a permitisse ver formas de escapar dali, por mais que estivesse curiosa para descobrir a quem pertencia a voz familiar.

Sem ter tempo real de reação, a pessoa por trás do chamado se revelou. A garota nem sequer ouviu seus passos.

Então, para sua surpresa e até mesmo alívio, o que surgiu por entre as árvores foi ninguém menos do que Steve Harrington.

—____________—____________—

— Então quer dizer que você não faz a menor ideia de como veio parar aqui? — Steve perguntou após ouvir toda sua história, ou falta dela.

A garota acenou levemente a cabeça. Ela não sabia bem como se portar na frente dele. Claro que Chrissy já tinha ouvido falar do grande Steve Harrington, era quase impossível não o conhecer quando estudava na Academia. O melhor desempenho em campo e o único integrante da casa Boreus, a reputação o precede.

Aqueles que olham para a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora