5- Só uma carona

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Não tinha vergonha de ser pobre, tinha era ódio mesmo.  E o ódio só crescia cada vez que via minha avó aguentar humilhação só para poder ter um teto. Graças a Deus faltava pouco tempo para o contrato de trabalho dela acabar e a gente sair dali, sem olhar para trás. Ainda não recebia muito, mas grande parte do meu dinheiro estava sendo guardado para investir na nossa casa, até dinheiro dos trabalhos que estava fazendo como digital influencer/ modelo estava sendo todo direcionado para esse objetivo. Ainda não era o suficiente, mas já estávamos mais perto do que longe.

- A loja fechou mais cedo hoje?- minha avó questionou ao me ver passar pela entrada lateral da casa.

- Sim, é aniversário da Débora e tá todo mundo indo pra festa.

- Você vai também?

- Uhum, vou só me arrumar, minha carona chega logo.

- É aquele menino do sorriso bonito que vai te levar?

- Não, é outro amigo, o João.

- Hmmmm, cheia amigos, jogador também?

- É sim, tô indo logo me arrumar para não deixar ele me esperando.

Na verdade eu e João nem éramos tão amigos, apenas conversávamos em eventos em que estávamos, mas ultimamente ele vinha frequentando bastante a casa de Débora e com isso, a gente se aproximou um pouco, mas nada parecido com o que eu e Andreas tínhamos. E para falar a verdade, foi Pedro quem "mandou" João me levar até a festa.

Depois de arrumada, caminhei até a entrada do condomínio e esperei por um pouco mais de cinto minutos, até o jogador chegar. Ele esperou que eu me acomodasse no carro, e então saiu em direção a casa de show.

- Você e o Andreas têm alguma coisa?- perguntou do nada.

Até ri.

- Somos amigos, por que?

- É que surgiu uma conversa de que talvez vocês estivessem juntos, sabe como é a língua do povo né?

- Sei bem, mas me conte mais sobre essa conversa, estou curiosa.

- Não vou dizer quem falou, mas além me mencionarem isso que eu disse, as pessoas pareciam preocupadas em relação a idade de vocês dois, não que seja um problema, mas acho que você tem noção da mídia nojenta que nos persegue.

- Eu tenho uma noção e entendo a preocupação das pessoas, mas a gente não tem nada mesmo, a gente só se aproximou pelo réveillon e somos amigos.

Ser famoso deve ser um saco as vezes, você não pode fazer nada, que eles estão lá igual urubu na carniça, prontos para te arruinarem de todas as formas.

- Desculpa minha curiosidade.

- Tá tudo bem, mas é eu também quero te fazer uma pergunta.

- Faça.

- Por que o pessoal anda preocupado com você? Perguntei a Débora, mas ela disse que não podia falar.

- É bobagem.

- Bobagem sei que não é, senão o pessoal não estaria preocupado e não estariam se revezando pra te dar apoio, seja lá o que for, quero saber, é justo, já que te respondi algo da minha vida.

- Você vai rir.

- Não vou, juro, promessa de dedinho.

- Até o começo do ano, eu tinha uma namorada.

- A Carla?

- Sim, mas como você sabe, ela foi embora pra estudar medicina na Argentina e  preferiu terminar pra não ter que manter um relacionamento a distância, mesmo não querendo, tive que respeitar a decisão dela. É isso, acho exagero a preocupação do pessoal, eu tô lidando com isso melhor do que eu imaginei, embora a saudade seja grande.

Inesquecível // Andreas Pereira ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora