Depois

1.1K 88 11
                                    

Ian estava mais do que apaixonado, o que ele sentia beirava a obsessão.

Não era fácil ser um garoto gay naquela região de Chicago, mas ele sempre deu um jeito.

Quando começou a aceitar sua sexualidade, percebeu que ele não era o único na sua rua, bairro ou escola que gostasse de homens. Entretanto, ter que se esconder no armário não era fácil.

Comumente aceitava muito menos do que merecia pois não sabia quando encontraria outra oportunidade de ter relações com homens, por isso trabalhar no Kash n' Grab era como ser um macaco trabalhando em uma plantação de banana.

Se relacionar com Kash foi, de início, como um sonho se tornando realidade: Um cara mais velho, maduro e com experiencia, o ensinando e o dando atenção como nunca antes recebera de ninguém. Apesar dos encontros terem de ser discretos e em horário de pouco movimento na mercearia, Ian achava que não poderia melhorar.

E então o episódio na casa de Mickey aconteceu, e tudo que Ian sabia sobre amar alguém, mudou.

Não que Mickey o assumisse e o tratasse bem, na verdade era o extremo oposto disso.

Ao sair da casa de Mickey naquele dia, Ian não sabia se voltaria a ter uma experiência como aquela novamente. Ele nunca havia experimentado nada parecido com aquilo, nunca tivera uma conexão tão forte com alguém como tivera naquele momento em que ambos falaram tudo sem dizer uma palavra.

Com Kash sempre fora tudo dito, pedido, com calma e cautela, como uma dança orquestrada, guiada, enquanto com Mickey fora diferente.

Não precisavam ser guiados por lugar nenhum pois sabiam onde estavam, nada precisou ser dito porque conheciam o caminho que estavam a trilhar.

Naquela noite, Ian não dormiu. As imagens de Mickey tirando a roupa, se entregando em seu quarto, um lugar tão hostil – para não chamar de insalubre ou coisa pior – não saiam de sua mente, afinal, tudo o que Ian sabia sobre Mickey Milkovich estava errado.

A imagem do garoto durão era cultivada não apenas por Mickey, mas também por seus irmãos e restante dos familiares. O garoto estava sempre cantando mulheres na rua, soltava comentários deploráveis o tempo todo.

Todos tinham medo de Mickey, e Mickey gostava de afastar todo mundo.

Mas Ian havia se tornado a exceção, e ele gostava disso.

Na visão de Ian, não importava que Mickey fosse um brutamontes mal-educado e criminoso, pois foi para Ian que Mickey se abriu e se permitiu ser ele mesmo.

O som das arfadas de Mickey enquanto implorava por mais do ruivo ecoavam em sua mente, bem como a imagem do moreno gozando nos lençóis antes mesmo de Ian o fazer. Tampouco saia da sua mente a sensação de ter Mickey o chupando¹. Mickey Milkovich, ajoelhado no chão do próprio quarto entre as pernas de Ian.

Ian conseguiu, e sabia disso.

Mickey também não dormira naquela noite.

Suas relações sexuais sempre foram, no mínimo, conturbadas.

Relacionamentos com primas e prostitutas era comum na família, por conta disso ele achava comum não se excitar quando estava tendo relações.

Foi no reformatório que descobriu que transar com homens era muito mais prazeroso, mesmo com todo o preconceito que carregava de berço.

Seu pai e tios o aconselhavam a comer primeiro, assim estabeleceria quem mandava na cadeia e acabaria não sendo alvo de abusos enquanto estivesse preso, coisa que era inevitável na família, mas por um deslize cometido, acabou se tornando a tão temível "mulherzinha" da cadeia.

Ser a "mulherzinha" era horrível, mas fora assim que Mickey descobriu do que realmente gostava.

Ele sabia que acabaria retornando a prisão eventualmente e por isso prometeu a si mesmo que deixaria suas relações dentro das grades. Mickey fora das grades manteria as impressões de homem da família. Mickey fora das grades era macho e comia mulheres. Mickey dentro das grades dava a bunda. Mas ninguém podia saber.

Isso durou até o dia em que Ian invadiu seu quarto.

Mickey estava indo tão bem, mas Ian não colaborou.

Quem que Ian achava que era para entrar naquele quarto exigindo a arma de volta... O moleque era mais novo e já era todo cheio de si, toda aquela arrogância, aquele cabelo ruivo... As sardas vermelhas... Os olhos de garoto assustado... Mas o pior era o cheiro... O cheiro que ainda estava no travesseiro de Mickey.

Virou-se de bruços a fim de abraçar o travesseiro e sentir mais o cheiro de colônia barata que já deixava o ambiente.

– Porra – Sussurrou com a cara enfiada no travesseiro, dando um soco no colchão. Não sabia o que sentir, por isso sentiu raiva.

Debaixo das mesmas estrelas, divididos por poucas quadras, desejavam a mesma coisa: estarem um com o outro mais uma vez.

***

Mickey sabia que Ian também queria o mesmo, inclusive com um que de romance. Mas isso era demais.

Ficou mais de 20 minutos parado do lado de fora da mercearia no horário em que ele sabia que Ian trabalhava, em local que ele sabia que Kash não o veria, esperando o momento dele sair.

Quando viu o homem saindo, provavelmente para buscar as crianças em alguma atividade extracurricular, além de sentir repulsa, tomou coragem para entrar no estabelecimento.

Mickey não viu Ian de imediato, o que lhe causou uma leve pontada no coração, mas logo o ruivo apareceu.

Ian também não esperava Mickey ali, achou que não o veria mais com a mesma frequência, mas ali ele estava.

Ian se assustou, não conseguiu esconder o sorriso. A última coisa que ouviu de Mickey foi um lembrete de não explanar o que havia ocorrido caso contrário acabaria amarrado sobre os trilhos do trem, não imaginara que Mickey voltaria a frequentar o Kash n' Grab, mas ali estava.

– Oi! – Disse enquanto limpava as mãos na calça. As mãos estavam limpas, mas ele não sabia o que fazer com elas.

– Vai querer de novo? – Mickey não sabia o que dizer, as palavras só saíram de sua boca. Ian pareceu assustado e sem entender. – Eu não vou fazer um convite especial com rosas.

– Ahn... S-sim! – Ian não sabia o que falar.

A interação foi cortada por uma senhora procurando por açúcar que Ian teve de atender.

Mickey esperou que ela saísse para dar o recado:

– A gente se vê então. – Pegou um chocolate do balcão e saiu da loja.

Ian não sabia o que fazer, mas o sorriso não saía de seu rosto.

Mickey até queria levá-lo para os fundos da loja e abaixar suas calças no mesmo momento, mas seria muita confiança depositada no moleque, ele só tinha 15 anos, era muito fácil para ele se apaixonar.

Em vez disso fora embora comendo o chocolate, desejando estar com outra coisa na boca, e essa coisa era Ian Gallagher.

---

Oiii Povo! Vamos as explicações:

¹: Na cena que os dois transam pela primeira vez e o Mickey devolve a arma, ele limpa o canto da boca e PRA MIM isso foi porque o Mickey deu um glub glub no Ian.

Além disso o Mickey só tem restrição de beijar na boca, nunca foi citado nenhuma outra restrição sexual, apenas romântica (e o Mickey comer o Ian). Chupar o pau do Ian? Sim, beijar a boca do Ian? Aí não porque é coisa de viado. (lógica do Mickey)

Outra coisa: Eu me senti bem desconfortável com as descrições como "mulherrzinha" e coisas do gênero, mas como a série e o próprio Mickey retratam assim esse momento, eu quis deixar fiel as descrições pra deixar a experiencia lendo essa fic mais próximas a assistir a série, mas deixo aqui meu descontentamento com isso e pedido de desculpa porque eu sei que é muito desrespeitoso.

Até o próximo cap <3 xoxo

Gallavich Before The StormOnde histórias criam vida. Descubra agora