Necessidade

841 64 15
                                    

Ele não sabia para onde correr, apenas sabia que devia, por isso correu a plenos pulmões.

A família de Ian não era das melhores, mas muitas vezes era tudo que ele tinha.

Quando até isso fora ameaçado ser tirado de si, fora como o chão ruindo sob seus pés.

Naquele bairro, não haviam muitos lugares capazes de faze-lo sentir-se seguro, mas o que Ian procurava não era um lugar, mas seria capaz de fazê-lo se sentir em casa.

Quando as lágrimas começaram a rolar e o calor subir por todo seu corpo, Ian não pôde evitar o instinto em sair correndo, mas quando saiu de casa, não esperava acabar indo em direção aquela rua e em especial aquela casa que costumava ser pior que a sua própria.

Bateu na porta com toda a força que restara, que não era muita, e os segundos sem que ela fosse aberta pareceram uma eternidade, tamanho desespero.

As batidas não melhoraram o dia de Mickey, que dentro da casa entrava em mais uma discussão com seu velho pai, que acordara de mau humor e resolvera deixar o humor de todos da casa no mesmo estado.

Quando seu pai estava em um daqueles dias, Mickey entrava em estado de alerta máximo: "Não o deixe chegar perto da sua irmã", "Esconda as facas da cozinha", "Não fale sobre sua mãe", entre outros pensamentos que dirigiam seus próximos atos.

Normalmente, Ian melhorava muito o dia de Mickey, mas não quando o ruivo estava plantado em frente a sua casa e batia na porta como se alguém houvesse morrido.

A irritação de Mickey não era por vê-lo, mas por medo de haver mais um gatilho para o mais novo surto do seu pai.

Mas a irritação não fora capaz de evitar que Ian suspirasse de alívio em vê-lo.

Ver Mickey, mesmo sabendo que ele não estava em condições de recepcionar alguém, fora como ter nadado os sete mares e finalmente encontrado uma praia.

Mickey era o porto seguro de Ian, e seu olhar o denunciara.

– Mas que porra? – Mickey conseguiu soltar. Normalmente, Ian não fazia aquele tipo de coisa, aparecer em sua casa sem um aviso prévio, pelo menos desde que pegara a arma de volta, o que significava que o menor poderia estar em apuros.

– Eu preciso te ver. – Fora a única coisa que Ian conseguira dizer, e era a mais pura verdade.

– Não é uma boa hora. – Na verdade, Mickey queria poder dizer-lhe para entrar, para irem conversar em seu quarto, pedir uma pizza barata e tomar Coca-Cola no chão do quarto enquanto conversavam sobre seus problemas e os deixavam ir embora com a neve que derretia na calçada lá fora, longe do calor que se formava em volta dos dois, mas tudo que Mickey poderia fazer era afastá-lo, para seu próprio bem.

Dentro da casa, o pai de Mickey gritava coisas inaudíveis, e Ian sabia que não podia ficar, muito menos atrapalhar Mickey, mas ao olhar em volta, para aquelas ruas vazias e frias de Chicago, o desespero aumentava.

– Eu não sei mais pra onde ir. – A voz embargada de Ian matava Mickey. Ian nunca o pedia nada, evitava incomodá-lo, a insistência era um péssimo sinal.

Os olhos marejados também não ajudavam. Ian não tinha onde ficar, mas queria tanto estar com Mickey, de forma tão angustiante que chegou a implorar.

Mickey o olhava de cima a baixo, queria pegá-lo no colo e levar para dentro, e de repente uma certa culpa o assolou. Deveria estar com ele desde o princípio, também o queria ver desde o momento que acordou, e talvez se o tivesse procurado, não estaria em tal situação.

– Pensei que estivesse no trabalho. – Disse, sem deixar de analisá-lo.

Faltar também não era um bom sinal, não para Ian.

Mickey ignorou a desculpa dada, decidiu que iria ignorar o humor do pai, mas precisava se certificar que o velho não seria preso de novo, e pediu 20 minutos para Ian, que iria encontra-lo lá na loja.

Mickey precisava estar com Ian tanto quanto Ian precisava estar com Mickey.

-

A loja estava fechada quando Mickey chegou, e lá dentro estava Ian, chorando.

– O que houve? – Pediu o Milkovich, preocupado, assim que Ian abriu a porta para ele.

– Tudo lá em casa está uma bagunça agora que a Monica voltou.

– Mais do que já era? – Mickey não conseguiu se conter, o que arrancou imediatamente um sorriso de Ian.

– Mães são uma merda mesmo, eu não conheço a minha, mas a de Mandy é a pior de todas.

– Eu só quero sumir daqui, fugir pra bem longe.

A ideia de Ian fugir pareceu boba para Mickey, fazendo-o soltar uma risada nasalar. Não por achar que a vontade não era genuína, mas por saber que seria quase impossível tal coisa acontecer.

O garoto era novo demais, sensível demais, frágil demais. Era muito esperto, de fato, e daria conta, mas Mickey sabia que ele era apegado demais aos irmãos e até mesmo a si, o que o fazia ficar tranquilo. Não, Ian não podia fugir.

– Qual é, e para onde você iria?

– Sei lá, exército eu acho. – Mickey riu.

– Falta uns bons anos ainda, cabelo de fogo – Disse Mickey, aproveitando o momento de fragilidade para bagunçar os cabelos de Ian.

Mickey não costumava perder uma oportunidade de bagunçar os cabelos de Ian, pois adorava ter os fios ruivos entre os seus dedos, e quando Mickey fazia isso, mesmo que muitas vezes de forma ríspida e agitada, Ian fechava os olhos e aproveitava o momento em que Mickey o tocava de forma não agressiva.

– Eu só não sei o que fazer quando essas coisas acontecem. – Disse, ainda de olhos fechados.

– Acho que ninguém sabe. – Disse Mickey, com uma atípica voz doce e paciente, que nunca havia sido usada com Ian antes. Então, Ian sorriu.

O ruivo abriu os olhos e inesperadamente encontrou com os de Mickey, que o olhava de forma intrigante e profunda.

O Milkovich havia se aproximado de Ian nesse tempo, de forma inconsciente, até o ponto de conseguir sentir o cheiro do desodorante da colônia do ruivo. Ian achou que seria um excelente momento para se inclinar e beijá-lo, mas isso fez com que o Mickey acordasse do seu transe momentâneo e recuasse dois passos.

– Venha, sei de uma coisa que vai te deixar animado. – Disse, sorrindo e dirigindo-se até os fundos da loja.

Ian sorriu também. Não queria ir direto para esse ponto, mas era impossível negar um convite de Mickey.

Sem dizer nada, Mickey abaixou as calças, e Ian aproximou-se. Tocou as costelas do moreno e o puxou mais para si.

Queria um momento mais íntimo, um abraço talvez, mas aquilo bastaria, estava até de pau duro.

Estar com Mickey era como finalmente soltar uma corrente presa por todo seu corpo, como soltar o mundo de suas costas, era libertador. Em partes, pois era livre e finalmente poderia agir normalmente, em partes, pois dessa forma tinha liberdade para tocar Mickey onde normalmente não poderia. Era libertador pra Mickey também.

Bastaria por enquanto, se não tivessem sido interrompidos por Kash, parado na porta.

Ian estava ferrado, e sabia disso.

* NOTAS FINAIS *

Oi gente, me perdoem pelo atraso! Eu não tenho um histórico muito bom em atualizar fics, mas essa é diferente! Enfim, esse fim de ano foi muito conturbado pra mim e só agora consegui dar atenção as minhas obras, tanto fics quanto originais! Me digam o que acharam desse cap! Bjs XOXO

Gallavich Before The StormOnde histórias criam vida. Descubra agora