Medo

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Mickey já sabia como faria:

Seus primos e ele fariam uma emboscada assim que Frank saísse bêbado do Álibi, ofereceriam uma carona e depois o levariam até um terreno baldio afastado da cidade, talvez um ferro velho ou um lixão, depois o bateriam até morrer, ou o drogariam tanto que a overdose seria certeira, os policiais nem desconfiariam, afinal, era Frank Gallagher.

Planejou mentalmente e até mesmo colocou um ou dois planos no papel durante toda a semana.

Toda vez que algum parente ou amigo de seu pai entrava em sua casa, Mickey sentia que poderia ser seu fim.

Não saberia se Frank seria capaz de falar algo para alguém nos bares de Chicago e então a fofoca chegaria de uma forma ou outra nos ouvidos de seu pai, ou se ele apenas contaria mesmo. De verdade, Mickey apenas não queria arriscar.

Sair do armário não era uma opção nem para si, muito menos para toda a cidade.

Entretanto, haviam partes de si mesmo que petrificavam na hora de imaginar ter que simplesmente apagar Frank.

Temia também que Ian não o perdoaria.

Não que Ian ligasse muito para Frank, Mickey até checou, mas a prática poderia ser diferente.

"Merda, isso não aconteceria se a gente não estivesse trepando justo naquela hora" Mickey pensava sempre que terminava de passar o plano em sua cabeça. "Se eu não tivesse ido atrás dele aquela hora, eu não teria visto ele me provocar..."

Na cabeça dele, a culpa era toda de Ian. Ignorou a realidade em que fora Mickey que o provocou primeiro, que fora Mickey que o prendeu contra a parede e o empurrou para baixo a fim de que o ruivo entendesse que deveria começar o chupando e acima de tudo ignorou que praticamente implorou assim que abaixou totalmente a calça para que Ian o fizesse gozar enquanto o comia de costas.

Frequentemente Mickey criava realidades paralelas em que ele não era daquela forma totalmente quebrada.

As vezes, antes de dormir, imaginava um futuro em que ele se apaixonava por uma bela garota da vizinhança, praticariam pequenos delitos, casariam-se na igreja local, teriam 5 filhos e Mickey poderia contar para seu pai com quem ele dormia durante a noite.

Nessa fantasia, Mickey não conhecia Ian ou Michael.

Michael o havia feito abrir a mente para coisas que Mickey tinha medo de se abrir.

Na época, Mickey ainda não havia se dado a liberdade para descobrir sobre sua sexualidade, mas Michael o apresentou a duas coisas que corroboraram para tal:

A primeira fora a ousadia necessária para demonstrar ao mundo seu verdadeiro interior.

Michael era quieto, mas era autentico, e Mickey gostava disso.

Apesar do medo de seu pai, que o podava o suficiente para que ele não se assumisse, fora com a ousadia herdada de Michael que Mickey aceitou que poderia sim gostar de qualquer coisa.

A segunda fora o assalto aquela mercearia que deu errado, levando-o para o centro de detenção juvenil, onde experimentou sexo gay pela primeira vez.

"É só não beijar na boca, se beijar é gay, se dar a bunda é só sexo, todo mundo faz isso, mas quase nenhum preso gosta de admitir." Foi o que o rapaz que transou com Mickey pela primeira vez o disse. E Mickey levou isso a sério.

Se não fosse o modelo que projetara em Michael mais o tempo em que passou na cadeia junto daquele rapaz (que ele não lembrava do nome), talvez Mickey jamais teria experimentado estar com outro homem e poderia seguir seu plano de vida, casado na zona sul com a primeira russa buscando um green card que aparecesse.

Gallavich Before The StormOnde histórias criam vida. Descubra agora