Acordado

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O coração de Mickey estava tão acelerado que o fazia incapaz de dormir.

Os rapazes do centro juvenil estavam barulhentos como sempre, os odores de urina e cigarro se espalhavam pelo ambiente todo, mesmo assim, não era nenhuma dessas coisas que o fazia estar com os olhos arregalados em plena 2:55 da madrugada.

Havia se arrependido de ter tomado a decisão de não dizer a verdade sobre o que aconteceu naquele dia na mercearia, mas já era tarde para isto, entraria na condicional logo no dia seguinte.

 Ian até tentou dizer a ele para culpar Kash, falar a verdade aos policiais, que dessa vez não estava roubando. 

Mas Chicago era como uma cidade pequena quando se tratava de fofocas, e em questão de semanas sua família inteira saberia que Mick fora baleado pois Kash estava com ciúmes de Ian. 

Ian.

E seu cabelo de fogo.

Ian.

E seu gosto de menta.

Ian.

E seu cheiro de colônia.

Ian.

E suas histórias sobre sua família.

Ian.

E os planos de ir para o exército.

Ian.

Ian.

Ian.

O que o mantinha são naquela cela era Ian.

Mas as coisas haviam piorado nas últimas semanas após a visita de Ian. 

Se envolveu em algumas brigas, discutiu com um guarda, bateu em um cara de 1,98 por meio cigarro e duas gelatinas. Estava com abstinência, não de nicotina, não (apenas) de sexo, mas de Ian.

Mas pelo menos estava preso.

Mickey nunca se sentiu em casa quando não estava preso. 

Quando era moleque, os constantes abusos do pai e dos tios o faziam ficar longe de casa e frequentemente sair com pessoas erradas. 

Por mais que os tios e pai fossem exemplos piores que os garotos que fumavam escondido debaixo dos trilhos do trem, pelo menos eles eram mais espertos e experientes, e assim quase nunca eram presos por crimes pequenos.

Ao contrário dos moleques, que sempre eram pegos pela polícia pelos menores inconvenientes que causavam.

As primeiras duas vezes em uma delegacia foram aterrorizantes para Mickey, mas na terceira ele já havia percebido que nenhum policial o bateria até ele desmaiar como seu pai sempre fazia quando Mickey fazia qualquer coisa que saía do controle de Terry.

Não que Mickey gostasse de policiais ou os achasse bonzinhos, eles só eram menos piores na maioria das vezes.

Os crimes de Mickey nunca eram graves a ponto de ser levado ao centro juvenil, mas isso foi até conhecer Michael.

Certa vez, quando tinha 13 anos, prestes a completar 14, Mickey estava indo ao ponto de encontro dos moleques como de costume, um sofá abandonado debaixo dos trilhos a apenas três ou quatro quadras de sua casa.  Já achava que era adulto e fumava a primeira coisa que havia achado na carteira de Terry, que estava adormecido a dois dias no chão da sala e não notara Mandy pegando o dinheiro e dando o restante para Mickey.

Junto dos garotos de sempre, sentado no meio do sofá com todos a sua volta, estava Michael.

16 anos, quase fazendo 17, os olhos puxados fazendo menção a uma etnia e a pele parda a outra, os cabelos pretos até o ombro e a regata branca. Só podia ser Michael.

O garoto era uma espécie de lenda nas redondezas, a fama dizia que a mãe era parte de uma gangue mexicana perigosa e o pai ja fora membro da Yakuza, mas havia feito algo tão errado no Japão que teve de fugir para o México.

De alguma forma, o casal se conheceu e foram parar em Chicago, onde Michael nasceu.

Mickey estava hipnotizado. 

Aquele garoto era superior a qualquer outro. Havia parado no Juvie umas quatro vezes em apenas 2 anos, sua fama era notória até mesmo em um bairro onde nada surpreendia mais ninguém. Até mesmo adultos barbados atravessavam a rua quando Michael estava na calçada. 

Não demorou para que Mickey tentasse a todo custo impressionar Michael. Queria andar com ele e ser como ele. Mas Michael era como um lobo solitário na selva de Chicago, e raramente era visto com mais pessoas no seu dia-a-dia, por isso vê-lo junto com os outros membros do grupo era raro.

Mas Mickey conseguiu.

Os garotos queimavam lixo em uma grande lata para se esquentar e bebiam em volta da fogueira improvisada, alguns assavam marshmallows, mas nem todos tinham a coragem de colocar o doce sobre aquelas labaredas fedorentas.

Contavam histórias sobre suas famílias e sobre suas experiências, Mickey era um dos mais novos ali e mesmo assim contava as histórias mais assustadoras sobre a família Milkovich. 

Nevava quando Michael chegou próximo de Mickey e lhe ofereceu um cigarro. A proposta seguinte mudaria Mickey para sempre.

"Preciso comprar  mais bebida, quer vir junto comigo?"

Mickey sentiu que seu estômago seria capaz de derreter.

Um pedido formal de Michael. Era tudo que precisava para poder se aproximar.

"C-claro" Foi a única coisa que conseguiu falar antes de ser dirigido ao carro que os levaria até lá.

Mickey até achou que realmente comprariam bebidas, até que se lembrou que Michael não tinha idade ainda. 

"Você tem uma identidade falsa?" Pediu Mickey. Michael apenas riu, falou para Mickey esperar no carro que ele ja voltava. Tirou uma arma de dentro do porta-luvas e entrou na loja de bebidas.

A lembrança  rasgava a memória de Mickey, que já não dormia pela ansiedade de sair no outro dia.

Será que se não tivesse conhecido Michael, estaria em um lugar diferente?

Melhor não estaria

Talvez as ruas de Chicago o teriam engolido de vez, teria sucumbido a vida de seu pai, estaria casado com alguma prostituta russa. A possibilidade o atormentava, assim como a lembrança da época em que conheceu Michael.

Lembrava-se a todo instante do sorriso de Ian pelo outro lado do vidro, não queria arrastar Ian para aquilo assim como Michael o arrastou. Queria que Ian fosse ser brilhante lá  fora, e não que ficasse o visitando em uma cadeia.

E no outro dia sairia de condicional. Será que alguém o visitaria? 

Talvez.

Ficou pensando nisso atém dormir. Adormeceu pensando em que tipo de piscina os Gallagher teriam para aproveitar o verão e que talvez seria uma boa ideia.

* NOTAS FINAIS *

Oiiii pessoal, tudo bem? Me desculpem pela demora, estava ocupadíssima e queria dar uma atenção especial a esta fic, mas se for assim eu fico muito tempo sem postar, por isso vou voltar aos meus planos de fazer caps mais curtos e mais frequentes! 

(por isso que o cap anterior saiu tão corrido e mal formatado, tive que escrever pelo celular porque eu só conseguia escrever quando tava deitada pra ir dormir)

O que acharam do Michael? Talvez teremos personagem novo por aqui hehe Ele veio pra traduzir alguns comportamentos do Mickey que não são explorados na série. O que vocês acham que vai acontecer entre eles?

Tão com saudade de ver a história pelo ponto de vista do Ian? Porque eu to e to achando que o próximo cap vai ter uma visão do outro lado da história ein.

Não se esqueçam de comentar pelo cap pra eu saber se vocês tão gostando/se identificando! 

Até o próximo cap! XOXO

Gallavich Before The StormOnde histórias criam vida. Descubra agora