VI

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Depois de matar o Bruno, o David e o Carl pensava que tudo iria acabar, mas enganei-me. Matar passou a ser uma necessidade e catártico depois de tudo o que aconteceu.

Eu precisava de voltar a matar. Tinha que voltar a fazê-lo.

Ao contrário das últimas mortes, decidi escolher alguém ao acaso; alguém sem ligação a mim. Queria alguma coisa mais arriscada, mas estava sem ideias. Até que, enquanto passava de carro, vi uma feira que se fazia todas as semanas, relativamente perto de casa.

E se matasse no meio de todas estas pessoas?

Seria demasiado arriscado e era isso que eu procurava. Além disso não tinha nada a perder; já não tenho emprego ou família, estou desfeito, se me apanhassem, não me importava.

Mas, como iria matar sem que toda a gente desse conta?

Lembrei-me então de uma maneira que, se bem executada, seria infalível e era impossível apanhar-me.
O primeiro passo seria visitar a feira. Já fazia algum tempo que não visitava, mesmo sendo perto de casa; umas vezes porque a rotina me impedia, outras porque eu próprio fazia questão de me impedir.

Aquela semana passou e era, novamente, dia de feira.

Saí de casa, a pé. Demorei cerca de dez minutos a chegar ao local, o que me dava tempo mais que suficiente para desaparecer antes que alguém chegasse lá no dia do homicídio.

Percorri a feira de um lado ao outro. Tinha encontrado o sítio perfeito, uma pequena zona onde faziam uma espécie de leilão de antiguidades. Naquele dia, havia cerca de cinquenta pessoas: eram cinquenta potenciais vítimas, quarenta e nove testemunhas e quarenta e nove suspeitos. Seria ali que iria matar, mas precisava ainda de mais visitas ao sítio para evitar erros.

Nas duas semanas seguintes segui a rotina daquele dia e fui até lá. Comecei a misturar-me nas pessoas. Muitas caras já me eram familiares, pois eram pessoas assíduas ali, pelo menos nestas três semanas.

A semana que se seguiu foi, então, a semana para matar.

Tinha tudo o que precisava. Tudo pronto para matar e escapar.

Aquela manhã de Primavera mostrava-se propícia para matar, não pelo sol abundante, mas pela falta dele, pelo céu cinzento que ameaçava chover e por uma cortina de nevoeiro que se fazia sentir.

Saí de casa com tudo pronto, com o plano revisto, pelo menos, cinquenta vezes na minha cabeça.

Coloquei umas luvas, não só pelo frio incomum que se fazia sentir, mas também, e principalmente, para evitar impressões digitais. Levava um boné preto, liso, uma casaca preta, uma camisa branca de punhos e colarinho pretos, por dentro, umas calças de ganga e umas botas. Não seria o disfarce perfeito, mas servia.

Cheguei à feira.

Estavam mais pessoas que o habitual o que tornaria mais fácil misturar-me, mas as possibilidades de ser visto eram maiores.

Começou a chover.

Parecia que todos esperavam por isso. Um a um começaram a abrir e levantar os guarda-chuvas.

Fui-me metendo no meio do grupo até escolher a vítima.

Parei, atrás de um homem, da minha altura. Este seria a minha vítima.

Encostei-me o mais que pude a ele. Tirei do bolso uma seringa com uma pequena quantidade de líquido. Esperei ele mexer-se e injectei-lhe o líquido rapidamente. Deslizei a seringa para dentro da manga esquerda do casaco e, quando ele se virou, tudo o que eu tinha na mão era um porta-chaves com forma de uma lâmina. Pedi desculpa, alegando descuido e que, sem querer, lhe tinha encostado a ponta da lâmina às costas. Voltou-se novamente para a frente e eu saí dali.

O líquido que lhe injectei era uma toxina capaz de provocar um ataque cardíaco fatal, sem deixar vestígios, a menos que soubessem o que procurar.

Passados dez minutos estava em casa, pronto para mudar de roupa. Ouvi as sirenes aproximarem-se.

No dia seguinte, no jornal, uma pequena secção fazia evidência à morte de um homem no leilão da feira de antiguidades. Falava de um ataque cardíaco fulminante e mais nada.

Parece que o plano correu como eu queria, mas fez-me pensar.

No que me estaria eu a tornar? Numa espécie de toxicodependente? Se bem que a minha droga é outra... 

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⏰ Última atualização: Sep 03, 2022 ⏰

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Crónicas de um Serial KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora