III

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Allan Vieira.

Sou perfeccionista, sabem?

Se há coisa que eu detesto é erras, principalmente nos crimes que cometo afinal, qualquer que fosse o erro, podia levar-me até à prisão.

Desde que comecei a matar, senti necessidade de criar um processo para me ajudar a não falhar. Podem ser coisas simples mas, até agora, têm-me deixado longe das prisões.

O mais importante é, sem dúvida alguma, manter-nos longe do círculo das vítimas tornando-nos quase impossíveis de encontrar. Eu não sou nenhum fantasma no sistema, tenho uma vida e isso torna-me possível de encontrar mas, como disse, até hoje nada. Ninguém conseguiu.

Não comecei a matar por vício, antes, tinha uma razão, mas essa razão irei guardá-la para mim, pelo menos durante mais uns tempos.

Allan Vieira.

Consegui apanhá-lo. Pensei que seria mais difícil mas, quando se passa uma semana a vigiar uma pessoa e a prática já é alguma, rapidamente atingimos os podres e vícios da pessoa.

Para muitos o vício é o jogo, para outros é a bebida, para mim é matar e, para Allan, é a droga.

Numa semana pude vê-lo três vezes a comprar droga numa zona remota da cidade. Por isso, foi fácil de apanhá-lo. Arranjei um pouco do que ele usa e esperei por ele no sítio habitual para lhe passar o produto, o que ele não sabia é que, dentro do meu casaco, no bolso, estava uma seringa com um calmante forte o suficiente para pôr um cavalo a dormir. A dose teria que ser mais pequena, como é óbvio, pois eu só o queria a dormir por umas horas. Já não era a primeira vez que eu fazia isto, por isso foi fácil.

Eram dez da noite. O carro chegava-se cada vez mais perto, em marcha lenta. Preparei a seringa para que o golpe fosse preciso e o mais rápido possível. Allan saiu do carro. Chegou até mim e notou que eu não era o habitual vendedor.

-O Tomás? – perguntou-me.

-Overdose, ontem à noite. – Não lhe menti, o produto que eu tinha era o que tinha sobrado da noite de ontem depois de matar o Tomás.

-Mais um… Tens o que eu quero?

-Sim, tenho, mas primeiro quero revistar-te. Já ando nisto há mais tempo que o teu ex-amigo e não quero chuis atrás de mim, nem armas quando faço negócios.

-Mas ele nunca me pediu isso.

-Mas ele está morto e, além disso, ele não sou eu. Ou deixas-me revistar-te ou nada feito. Tu escolhes.

-Ok, revista.

Ele já não usava desde quinta-feira, hoje é sábado. O desespero era enorme, como eu esperava.

-Levanta os braços.

Eu estava atrás dele. Ele trazia apenas uma camisa a cobrir-lhe o tronco. Enquanto eu fingia revista-lo, tirei a seringa do bolso. Por trás dele, agarrei-o, cruzando o meu braço no peito dele e espetei a seringa no pescoço, junto ao cabelo, escondendo assim qualquer orifício.

Ele não teve oportunidade para ripostar, passados alguns segundos estava inconsciente.

Levei-o até à mala do meu carro e meti-o dentro.

Entrei no carro e conduzi em direcção a um barracão abandonado que fica a uma hora dali.

Já estava tudo preparado.

Crónicas de um Serial KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora