Allan Vieira.
Sou perfeccionista, sabem?
Se há coisa que eu detesto é erras, principalmente nos crimes que cometo afinal, qualquer que fosse o erro, podia levar-me até à prisão.
Desde que comecei a matar, senti necessidade de criar um processo para me ajudar a não falhar. Podem ser coisas simples mas, até agora, têm-me deixado longe das prisões.
O mais importante é, sem dúvida alguma, manter-nos longe do círculo das vítimas tornando-nos quase impossíveis de encontrar. Eu não sou nenhum fantasma no sistema, tenho uma vida e isso torna-me possível de encontrar mas, como disse, até hoje nada. Ninguém conseguiu.
Não comecei a matar por vício, antes, tinha uma razão, mas essa razão irei guardá-la para mim, pelo menos durante mais uns tempos.
Allan Vieira.
Consegui apanhá-lo. Pensei que seria mais difícil mas, quando se passa uma semana a vigiar uma pessoa e a prática já é alguma, rapidamente atingimos os podres e vícios da pessoa.
Para muitos o vício é o jogo, para outros é a bebida, para mim é matar e, para Allan, é a droga.
Numa semana pude vê-lo três vezes a comprar droga numa zona remota da cidade. Por isso, foi fácil de apanhá-lo. Arranjei um pouco do que ele usa e esperei por ele no sítio habitual para lhe passar o produto, o que ele não sabia é que, dentro do meu casaco, no bolso, estava uma seringa com um calmante forte o suficiente para pôr um cavalo a dormir. A dose teria que ser mais pequena, como é óbvio, pois eu só o queria a dormir por umas horas. Já não era a primeira vez que eu fazia isto, por isso foi fácil.
Eram dez da noite. O carro chegava-se cada vez mais perto, em marcha lenta. Preparei a seringa para que o golpe fosse preciso e o mais rápido possível. Allan saiu do carro. Chegou até mim e notou que eu não era o habitual vendedor.
-O Tomás? – perguntou-me.
-Overdose, ontem à noite. – Não lhe menti, o produto que eu tinha era o que tinha sobrado da noite de ontem depois de matar o Tomás.
-Mais um… Tens o que eu quero?
-Sim, tenho, mas primeiro quero revistar-te. Já ando nisto há mais tempo que o teu ex-amigo e não quero chuis atrás de mim, nem armas quando faço negócios.
-Mas ele nunca me pediu isso.
-Mas ele está morto e, além disso, ele não sou eu. Ou deixas-me revistar-te ou nada feito. Tu escolhes.
-Ok, revista.
Ele já não usava desde quinta-feira, hoje é sábado. O desespero era enorme, como eu esperava.
-Levanta os braços.
Eu estava atrás dele. Ele trazia apenas uma camisa a cobrir-lhe o tronco. Enquanto eu fingia revista-lo, tirei a seringa do bolso. Por trás dele, agarrei-o, cruzando o meu braço no peito dele e espetei a seringa no pescoço, junto ao cabelo, escondendo assim qualquer orifício.
Ele não teve oportunidade para ripostar, passados alguns segundos estava inconsciente.
Levei-o até à mala do meu carro e meti-o dentro.
Entrei no carro e conduzi em direcção a um barracão abandonado que fica a uma hora dali.
Já estava tudo preparado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crónicas de um Serial Killer
Fiksi UmumUm homem guiado pelos instintos, depois de uma tragédia, torna-se um serial killer. O que ele não esperava era que este seu novo hobby viesse a ser um novo vício.