Mudanças

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Acordei com calor, sentindo falta do típico vento do meu ventilador, mas com uma dor horrível nas parte superior das minhas costas, então percebi que acabei por dormir no chão da sala e rapidamente retomei a lembrança da noite anterior. Levantei-me um pouco tonto, me apoiando no sofá da sala e sentando no mesmo depois. O sofá estofado de cor bege escura levantou uma pequena onda de poeira com o peso do meu corpo sobre ele, ainda não tive tempo de desempacotar todas as coisas para limpar a casa completamente, e sendo sincero, depois de ontem, não sinto vontade de fazer mais nada além de deitar e dormir. Procuro meu celular ao redor, e sinto ele vibrando no meu bolso com dezenas de mensagens de Kakashi e Rin, mas não tenho cabeça para falar com nenhum dos dois agora.

Fui para o quarto, peguei uma toalha e tomei um banho rápido. Olhei rapidamente no espelho e sinto uma dor descomunal, mas não física, uma dor emocional, meus olhos parecem refletir um abismo profundo e vazio, como se minha alma já não mais existisse. Nada mais existe, além de vazio.

O brilho de uma tesoura em cima da pia reflete em minha visão periférica e em um surto de adrenalina e em um movimento rápido, cortei mechas e mais mechas do meu cabelo, totalmente desigual e muito curto. Os fios caem em minha volta, na pia, no chão, por todos os lados, como se um peso tivesse saído de cima de mim, mas eu sei que não é por causa do cabelo.

 Os fios caem em minha volta, na pia, no chão, por todos os lados, como se um peso tivesse saído de cima de mim, mas eu sei que não é por causa do cabelo

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Pisco um pouco, passando a mão pelo pescoço para tirar o excesso de fios e vou no armario buscar uma blusa de manga longa e uma calça cinza para vestir. Olha novamente para o espelho, agora um pouco longe, e respiro fundo caminhando até ele e abrindo o compartimento que tem atrás. A cartela de cigarros Treasure lacrada e um pouco empoeirada se destaca entre os outros pacotes e recipientes. Sua caixa em tom dourado parece me chamar, me atrair. Desde que Deidara se foi, eu venho afogando minhas mágoas nisso, gastando boa parte do meu dinheiro apenas para não sentir aquela dor. A um ano atrás, eu me conformei e aceitei sua perda, e senti como se ele não fosse querer que eu continuasse nisso. Mas a dor voltou, dez vezes pior, e eu sei que não vou suportar saber que ele está vivo, VIVO!, e não tê-lo em meus braços.

O alarme do meu celular toca, me fazendo saltar de meus pensamentos. Coloco a caixa em meu bolso, junto com um isqueiro da mesma cor e vou para cozinha. Sem muita fome, preparo apenas um suco de goiaba sem açúcar e saio de casa em direção ao parque mais próximo. Os vizinhos, que ontem sorriam e acenavam para mim, pareciam um pouco chateados e um tanto surpresos com o meu novo cabelo e não fizeram nenhum gesto quando saí pela porta com um acesso sutil.

Já no parque, sentei em um local mais afastado e puxei a cartela e o isqueiro. Fitei novamente a caixa, que refletia uma luz dourada, e abri-a. Os cigarros se debatiam entre si à medida que eu mexia a caixa, e eu puxei um do meio. Acendi o isqueiro, colocando a ponta do cigarro, revestida com cores douradas, na boca e aproximando o fogo da outra parte. Com uma puxada profunda, sinto a fumaça preencher os meus pulmões, impregnando-se nas paredes dos meus órgãos. E então, aquela sensação deliciosa. Todo meu corpo se relaxou, recebendo em segundos o efeito da nicotina e todos os outros componentes que eu não faço questão de saber quais são, a única coisa que quero saber é dessa sensação, de estar flutuando, de não ter que pensar em nada. Mas nem tudo são flores de um jardim encantado. Abri meus olhos e avistei os típicos cabelos brancos, que se destacam entre os demais, vindo em minha direção.

_ Fã ou hater? - digo como em um sussuro.
_ Paparazzi. - Ele me dá um abraço - Ficamos preocupados com você, principalmente a Rin

_ Foi mal sair daquele jeito. Eu...enfim.

_ De onde conhece o Sasori? Vocês claramente se conhecem. Ele não me falou nada depois que saiu

_ Ensino Médio. Nós não nos dávamos bem. Não imaginei que iria reencontrar ele logo aqui.

_ Entendo. Eh, bem chato isso. A Rin acabou ficando amiga dele durante a faculdade, nunca imaginaria que..

_ Tá tranquilo. - Interrompi-o e me levantei - Eu tenho que terminar de arrumar as caixas e tudo mais. Só vim caminhar um pouco antes. - Ele parece só perceber agora o cigarro em minha mão. Sua feição surpresa e meio desapontada é difícil de esconder.

_ Se quiser ajuda, sabe onde me encontrar.

_ É pouca coisa, consigo me virar. Diz para Rin que mandei um oi.

Ele apenas dá um sorriso gentil e coloca as mão no bolso, indo na direção oposta a minha.

P.O.V Kakashi

Cheguei em casa ainda meio confuso, nunca imaginaria ver o Obito assim, mas logo as risadas do pequeno Hoki enche meus ouvidos, me fazendo esquecer de tudo e só ter atenção voltada para ele. Suas pequenas perninhas engatinham desengonçadas, e até engraçadas, em minha direção, que abro os braços para recebê-lo com o maior dos meus sorrisos para recebe-lo.

_ Eita coisa linda do pai - beijo sua testa e aliso um montante de cabelo branco de sua cabeça.
_ Bem vindo amor, achou ele?

_ Sim, mas não parecia nada bem.
_ O que aconteceu?
_ Você já viu ele fumar alguma vez?

_ Meu deus, não, nunca vi. O que será que aconteceu?
_ Seja lá o que foi, seu amigo Sasori deve saber. Viu como ele ficou ontem né.

_ Sim - Seu rosto se fecha em uma expressão preocupada e aflita, como se procurasse respostas para perguntas que eu não sei se quero descobrir quais são.

O dia a dia da minha vida como pai não é tão fácil. Mesmo num dia de sábado, tem coisas do trabalho que preciso resolver, planilhas e documentos e tudo fica mais complicado quando uma pequena criaturinha fica passeando por cima da minha mesa, bagunçando meus papéis e só parando quando recebe minha total atenção.
_ Oh meu filho, papai tem que trabalhar. Amor, pode levar ele para passear um pouco?
_ Não acha que está trabalhando demais?

_ É só esses papeis, prometo que irei fazer uma pausa.
Um sorriso gentil se forma em seus lábios, e sinto eles em minha bochecha. O pequeno Hoki entende os braços para a mãe, que sai levando ele pelo corredor. Terminei de arrumar tudo e resolvo tomar um banho enquanto a Rin não volta. Antes disso, meu celular toca.
_ Oi Sasori - Atendo.

P.O.V Obito

Encaro as caixas restantes no meio da sala, com uma preguiça descomunal. Passo por elas, desejando que, se forem ignoradas, irão sumir, mas não somem e eu respiro fundo, juntando forças e indo terminar de desempacotar e arrumar tudo. Subo para meu quarto, cansado e dolorido, e parto para um banho demorado e quentinho. Encho a banheira e coloco uma das essências que mais gosto: lavanda.
Alguns minutos se passam, meu alarme das 18 horas toca, e eu desperto de um longo cochilo. Meu reflexo no espelho me chama atenção, esse cabelo realmente ainda não está legal. Pego a tesoura novamente e começo a cortar ainda mais meu cabelo, de forma desigual e sem me preocupar com o formato, ele vai crescer e ficar bonito de qualquer modo. A lâmina escorrega e eu corto minha bochecha com o susto da campainha tocando. Eu levanto o rosto olhando para o corte.

 Eu levanto o rosto olhando para o corte

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_ Maldito seja. Quem quer me perturbar uma hora dessas?
Limpo o sangue e arrumo o cabelo, enrolando uma toalha em volta da minha cintura, deixando meu peitoral à mostra. Desço até a porta, abrindo-a sem paciência.

_ Olá!

_ Seu filha da puta.

❝ 𝕃𝐨𝐯𝐞 𝐈𝐬 𝐀 𝐄𝐱𝐩𝐥𝐨𝐬𝐢𝐨𝐧 | ᴛᴏʙɪ x ᴅᴇɪᴅᴀʀᴀ ❞Onde histórias criam vida. Descubra agora