5- Férias

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Era o último dia de aula antes das férias de julho e a única pergunta que me rondava era "Vou passar o mês inteiro sem encontrar a insuportável da Valentina?"

O professor terminou de corrigir as provas e passou as notas. Era o único que tinha feito isso, ele se recusava a passar qualquer minuto trabalhando no tempo livre.

"Valentina, 21h36: Parece que você vai se livrar de mim."

"Luiza, 21h38: Finalmente!"

Meu coração ficou apertado assim que enviei a mensagem. Não parecia mais tão legal provocá-la dessa forma. Ela olhou para trás para saber se eu estava sendo irônica ou não. Valentina tinha demonstrado insegurança nos últimos dias quando falava comigo. Sempre confirmava se eu estava sendo séria ou não sobre o que eu falava.

Depois do dia da chuva, Valentina começou a me enviar mensagens de "boa noite", e por mais que eu não respondesse, ela não parou.

Quando o professor avisou que a gente podia sair, levantei imediatamente impedindo Valentina de passar pela porta.

- Não falei sério. - Avisei. Ela pareceu feliz em ouvir.

- Queria muito poder te ver nas férias, mesmo se for para essas atividades extracurriculares. - Concordei. As pessoas da sala tentavam passar pelo corredor onde a gente estava, mas nenhuma de nós se mexeu. - Eu não quero ir embora.

A gente ficou ali se olhando por tempo o bastante para que a sala se esvaziasse e o professor pedisse para a gente sair, pois ele precisava trancá-la. Pegamos nossas coisas e descemos as escadas.

- Posso te levar? - Encostou em uma das mesas da cafeteria e esperou eu responder.

- Só se você ficar lá essa noite.

- Vai devolver a roupa que eu te emprestei da primeira vez que você foi lá em casa?

- Claro que não. Fica melhor em mim. - Valentina riu.

- Não posso discordar. Vamos? - Colocou a mochila no ombro e esperou eu confirmar.

- Vamos.

Valentina grudou o braço dela no meu, enquanto a gente andava até o estacionamento. Peguei a mochila dela e coloquei nas minhas costas, para eu poder segurar nela direito. Segurei o capacete, mas não o coloquei. Valentina esperou para colocar o dela também. Ela estava de um lado da moto e eu do outro.

- O que foi? - Perguntou.

- Você é linda. - Mordi o canto da boca e me inclinei um pouco para frente. Valentina abriu um leve sorriso e repetiu meu movimento.

Eu queria tanto beijá-la e ao mesmo tempo todo o meu bom senso me dizia para ficar longe. Ela pareceu ler em mim o que eu queria e o quão nervosa eu estava. Apoiei uma das mãos na moto e Valentina deu um passo à frente. Eu não ia conseguir fazer o que eu queria, do jeito que eu queria, mas eu queria aproveitar esse micro segundo de quase coragem. Aproximei meu rosto do dela e roubei um beijo rápido. Valentina permaneceu imóvel, com os olhos fechados por mais alguns segundos. Senti meu rosto ficar quente imediatamente.

- Se você falar qualquer uma das suas gracinhas, daqui você vai para a sua casa. - Informei, colocando meu capacete. Ela riu e fez o mesmo.

- Só acho que vai ser um pouco difícil me concentrar agora. - Subimos na moto e eu a abracei, mais do que era necessário, mas eu precisava daquilo.

Foi se tornando tão tão fácil ficar perto dela. Apesar das pequenas implicâncias, era outro ambiente, outro clima. Ela fazia questão de mostrar que me queria por perto e, apesar de não ter rolado nada entre a gente, em todo o tempo de flertes com olhares, Valentina dispensava quem dava em cima dela, dando a entender que estávamos juntas. Por um lado eu morria de vergonha, mas por outro ela parecia respeitar o que estava acontecendo. Era possível ver o quanto ela se esforçava para que eu confiasse nela. Eu ficava esperando suas mensagens de boa noite, que às vezes vinham com algum complemento aleatório. No começo eu tentei não responder, tinha medo de virar rotina e eu me acostumar com aquilo e depois ela me decepcionar. Só que ao contrário do que eu pensava, Valentina não tinha me dado motivo nenhum para me decepcionar e a cada dia eu gostava mais da pessoa que ela realmente era. Tinha sido um processo longo e até agora eu não tinha me arrependido de ter dado uma oportunidade para ela, mesmo que ela não soubesse.

Reconstruindo Luiza - Stupid wifeOnde histórias criam vida. Descubra agora