Especial True Color, parte 1: Branco e amarelo

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7 de outubro de 2022, sexta feira

Estúdio de dublagem Nº3

13:33 pm

— Judy, porque você não só termina esse desenho logo? É muito simples! — Olhei para a tela, e esperei minha próxima fala — Se quiser minha opinião, ficou sim muito bom, mas eu acho que você poderia engrossar mais os traços, ou sumir com eles e mudar um pouco a pintura — Outra espera — Não! Não não, não deleta, eu posso ajudar se você quiser — Engoli seco, já era a terceira vez que eu dublava esse trecho — *suspiro* Certo, por que a gente não vai comer alguma coisa agora?

Olhei pelo vidro da sala, direto para a professora. Seria uma boa ideia agora, não acha?

A cena corta, e ela abre o microfone para dentro da sala.

— Já pode sair, Judy vai ser a próxima — Ela fala, depois olhando para outra aluna.

Eu saí da sala, e entreguei o roteiro para Judy.

Ela faz praticamente todas as aulas comigo, menos a terceira, que é de edição.

— Foi bem gatinho — Ela riu de leve — Que bom que na terceira vez você acertou o suspiro — Judy entrou na sala.

Esse era um projeto que começamos para concorrer com os clubes de teatro e cinema no fim do ano, para chamar atenção para o curso, que teve uma boa queda de alunos nos últimos anos, segundo os professores.

— Você quer dizer que minha pintura tá ruim?! Quer saber, eu vou deletar isso e começar do zero *bufando* — Judy gritou no microfone, respondendo à minha terceira fala.

Sala Nº53

14:57 pm

A próxima aula era de geometria. Eu me arrependo de colocar essa matéria na minha grade, mas não por ser difícil, e sim por ser chato. Por outro lado, a Judy era um alívio por perto, já que ela sempre puxa assunto e tenta fazer graça com tudo.

Isso quando ela não decide ser insuportável.

Ela sentou no lugar atrás de mim, e apoiou os dois pés no encosto da minha cadeira no começo da aula, e começou a empurrar minha cadeira, e ainda tem mais meia hora de aula pela frente. Eu nem estava mais prestando atenção na aula, só abaixei a cabeça e encarei a lousa, torcendo para alguém entrar e dizer que algum produto químico dos laboratórios começou um incêndio. Seria mais provável o Carlos acabar fazendo isso, mas ele não apareceu pra aula hoje.

Quando eu já estava começando a repensar a minha existência, recebi duas mensagens. Tirei o celular do bolso e coloquei ele em cima da mesa, abrindo o whatsapp.

Yuri: Quer fazer alguma coisa de noite?

---

Carlos: *foto*

Ouvi Judy rindo quando eu abri a foto que o Carlos mandou. Eu apaguei a foto e desliguei a tela, lembrando depois da mensagem do Yuri.

— Esse é o carinha que você gosta? — Judy decidiu voltar a ser normal.

— Fala mais alto pro Fagner ouvir — Me virei para ela, bufando — É, é sim — Falei baixo e virei os olhos.

Ela riu baixo, pegando o celular dela.

Judisgraça: E quem mais já sabe?

Eu: Carlos, Bela, Marc, Kyle, eu acho que só

Judisgraça: E o Fagner

Meu coração pulsou forte.

Judisgraça: Brincadeira, calma

Judisgraça: Seu rabo tá arrepiado

Eu: Tira essa pata imunda da minha cadeira, sua cadela desgraçada

Me virei pra ela, suando frio.

Ela mordeu o lábio e abaixou os pés.

Dormitório MCM Nº 57

18:27 pm

Voltei direto para o dormitório depois de terminar o reforço em inglês. Mesmo que já fale mais inglês que português recentemente, eu tenho medo de alguma hora me perder em alguma frase.

Só o Marc tá aqui essa hora, e ele passa o resto da noite estudando no quarto, então eu fico vendo TV até mais alguém chegar.

Era uma reprise do episódio dessa semana de Chicago Fire. Foi aí que eu me lembrei que não assistimos a série faz um bom tempo, nós ficamos saindo quase todo dia depois da aula, e nunca paramos no dormitório nos fins de semana.

Menos o Marc, ele sempre tá aqui.

Suspirei, pegando o celular na mesinha de centro. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Eu tinha um tempinho livre agora. Eu queria pegar minhas tintas para terminar o grafite atrás do prédio das salas de aula, mas o pessoal do noturno deve estar por perto agora. Fora que essa semana foi puxada, então talvez eu só termine ela domingo mesmo.

Já que eu não posso pintar paredes...

Me levantei e fui até o banheiro. Abri o armário embaixo da pia e tirei duas caixas de descolorante para pelo, e uma caixa de tinta de pelo amarela.

Eu me pinto

Tirei a roupa e fui até o chuveiro, para lavar o pelo antes e pintar tudo.

19:37 pm

Kyle

Klyde: Se cuida *emoji de coração*

Te amo

Eu: Você também *emoji de beijo*

Também te amo

Entrei no dormitório e fui direto para o quarto.

— Oi Ma... — Olhei ao redor, vendo que Marc não estava lá — Hm...

Estranhei um pouco, já que ele nunca sai de noite. Ele também não estava no banheiro, só o Luciano toca música enquanto toma banho. Mas não era ruim o Marc sair de vez em quando, pelo menos.

Deixei minha bolsa do lado da minha cama e troquei de roupa, deixando a roupa suja no pé da cama, depois fui até a sala. Só quando eu liguei a televisão eu percebi que fiz a mesma coisa que o Klyde faz. Suspirei, depois ri de leve.

Luciano saiu do banheiro um tempinho depois. Só que eu quase não reconheci ele.

Antes, o pelo do corpo e o cabelo dele tinham um tom de branco puxado para bege, e o rosto dele era marrom escuro, da mesma cor que as mãos e pés. Agora, o pelo dele era completamente branco, tirando o cabelo e ao redor dos olhos, e mais algumas manchas pelo resto do corpo inteiro, que agora eram em um tom amarelo suave.

— Ficou bom? — Ele perguntou, dando um sorriso leve.

— Vai demorar um pouco pra me acostumar, mas sim, ficou legal — Sorri de volta, mas levantando uma sobrancelha — Vai fugir da polícia?

— Não, só queria perturbar meus pais um pouco quando eles ligarem de novo. Fora que tá na moda — Ele alisou o cabelo para trás, mas só ficou mais bagunçado ainda.

— Enfim... Você viu que horas o Marc saiu? — Perguntei, dando de ombros de leve.

— Ele não tá ai? — Luciano levantou uma sobrancelha — Nem entrei no quarto hoje.

— Não, até estranhei, ele nunca sai — Olhei para a porta do quarto, depois balancei a cabeça — Ele deve tá com a Lanna, ouvi ele marcando de sair com ela — Olhei de novo para Luciano — Por falar em sair, cadê o Yuri também?

— Então... — Ele coçou a nuca e olhou para baixo, rindo um pouco.

Ilusões, ato 2 (furry yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora