Fingindo

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Alojamento feminino do campus, quarto FCG Nº68

Carlos

A Bela sempre demora pra sair de cima de mim depois. Às vezes eu me pergunto se ela faz isso só porque fica cansada, ou se ela gosta de me ver tentando virar nós dois de lado. Pelo jeito que ela pressiona o corpo dela em cima do meu, eu acho que é a segunda opção.

— Eu não te levei pra puxar peso esses dias? — Ela riu e beijou meu rosto, finalmente tirando de dentro.

— Você pesa mais do que 10 quilos... — Respirei fundo, suando.

Ela deitou do meu lado e me puxou, me beijando em seguida.

No começo, era estranho ser o passivo 90% das vezes, mas eu peguei o jeito logo. Mas, não acho que deixaria se fosse outra pessoa. A Bela só age como um homem, e eu gosto disso, mesmo ainda sendo hétero. Ela também fala que eu pareço uma mocinha gemendo, e isso sim incomoda um pouco.

Ela apertou ainda mais o abraço e agarrou a minha bunda, me fazendo soltar um gemido abafado.

Mas errada, ela não tá.

Nós ficamos deitados um pouco mais, até decidirmos começar a nos arrumar para sair. Eu tinha pedido para ela escolher um lugar para sairmos a noite, e ela encontrou um restaurante noturno, e eu vi na internet que caberia toda a comida no meu cartão. Não que a Bela seja pão duro, e sim porque de início ela não parecia querer tanto, então eu quero fazer o máximo para ela gostar.

Ela foi para o banheiro terminar de arrumar o cabelo, e eu fiquei no quarto dela esperando. Resolvi mandar mensagem para o Luciano, já que não falei com ele o dia inteiro.

Eu: fez alguma coisa hj?

Lu: *foto*

Eu: vsfd

Lu: n é oq a Bela faz com vc?

Apaguei a foto e joguei o celular na cama, esfregando os olhos. Espero não lembrar dessa foto quando estiver comendo.

Centro da região urbana

00:00

(Isa)Bela


Meia noite em ponto.

Sinceramente, eu não achei que a cidade ficava tão lotada no período noturno, mas faz sentido pelo fato de que a cidade é bem mais vazia no período diurno. Ou, essas pessoas só estão saindo também, mas nunca se sabe.

Nós andamos um pouco pelo centro até chegarmos no restaurante. Olhando pelas janelas, ele estava com muitas mesas vagas.

— Torcer para ninguém ter reservado todas — Eu ri um pouco, mas, na verdade, torcendo para que tenham reservado pelo mês inteiro.

— É difícil, restaurantes menores não lotam de reserva desse jeito — Ele falou enquanto nós estávamos.

Eu olhei para a recepcionista, que escutou ele falando, e mordeu o lábio inferior e franziu a testa. Ufa.

— Boa noite, ainda tem alguma mesa livre? — Carlos perguntou, dando um sorriso de canto.

00:21

Carlos sempre fez de tudo para me agradar, mas, ele exagera algumas vezes, e fica chateado quando algo dá errado. Essa foi uma delas.

— Aquele restaurante não vai ser demolido quando amanhecer — Abracei ele por trás enquanto andamos pela rua, já um pouco mais vazia.

— Mas eu fiz você sair tarde por nada — Ele suspirou, segurando as minhas mãos.

— Nem ia ser grande coisa. E também, você viu o cardápio deles? — Eu ri, tentando animar ele.

— Carne de soja... — Ele riu um pouco também — Mas não é ruim, só fica com um gosto estranho depois.

— É horrível sim, eu passo mal só de pensar — Esfreguei meu rosto na nuca dele, rindo mais.

— Você que é frescurenta com comida. E você nunca comeu do tipo certo então — Ele se virou para mim, me abraçando pela cintura.

— O tipo certo seria, o mais passado de todos? — Passei os braços ao redor do pescoço dele.

— Tsc, eu vou comprar carne de soja e cozinhar pra você ver como é bom — Ele beijou o meu rosto de leve.

— Se você fizer isso eu arranco a sua mão — Beijei o pescoço dele, e ele ronronou.

— Mas então... Você quer voltar? — Ele soltou o abraço um pouco.

— Por que a gente não procura alguma coisa mais legal pra fazer? A noite não acabou só por causa de um restaurante lotado — Esfreguei meu nariz no dele, sorrindo — Que tal um barzinho ou um rave?

— Você falou que nem o Luciano agora — Ele suspirou de novo, olhando para o lado — Mas... Pode ser, se você quiser.

— Ei, desfaz essa cara emburrada — Dei um tapinha leve e um selinho nele — Quer mesmo ir, ou prefere ir pro meu dormitório?

— Se você achar melhor a gente ir beber, eu quero — Ele sorriu de canto.

Eu bufei baixo. Ele não queria de verdade.

— Não, mudei de ideia, é melhor a gente voltar mesmo. Já que você não quer — Cruzei os braços e virei o rosto — Essa sua mania de sempre concordar com tudo irrita. Se você não quer, só falar.

— Quem disse que eu não quero? — Ele segurou meus ombros de leve.

— A sua cara. E você é péssimo mentindo. E outra, eu ouvi você falando "A Bela me chamou pra comer em um lugar que ela encontrou", sendo que a ideia foi sua a gente sair pra comer. Sabe, você podia escrever ao invés de mandar áudio pras pessoas — Respirei fundo, olhando para ele.

É... O Carlos é uma mocinha, eu levanto um pouquinho a voz e ele faz cara de choro. Por outro lado, ele faz bem o papel de homem da relação de vez em quando. O problema é ele sempre escolher o que vamos fazer, e me deixar escolher, mas sempre é uma coisa que ele quer fazer, e eu acabo escolhendo alguma coisa que nenhum dos dois quer no final.

Porra, eu também tô fingindo gostar disso.

Passei a mão no rosto, me acalmando um pouco.

— Quando... Foi a última vez que nós dois escolhemos alguma coisa juntos? — Perguntei, alisando o rosto dele — Não tipo, você escolhe fazer uma coisa, e eu onde, eu quero dizer nós dois decidirmos juntos.

— Foi quando... — Ele demorou um pouco para pensar — No dia em que a gente decidiu namorar de verdade, depois da festa do mês passado.

— Há quanto tempo a gente se conhecia?

— Umas... Duas semanas — Ele secou os olhos — Tsc, por que você... Nunca falou nada?

— Porque você ia chorar que nem agora — Eu ri de leve e beijei ele de novo, separando o beijo um pouco depois — Mas, falando sério agora, é porque no começo até era legal sair pra lugares diferentes às vezes, mas, eu não sou tão frufru quanto você, e você sempre quer... Comer num restaurante de soja, ver um filme de comédia romântica, fazer pilates...

— Que implicância é essa com carne de soja?!

— Tsc, a questão é, um acaba arruinando a diversão do outro quase toda vez, entende?

— Sim... Desculpa por não ter reparado nisso antes — Ele me abraçou de novo e beijou meu pescoço — Eu sempre esqueço que você tem a mesma cabeça que o Luciano, ele que me arrasta pra fazer merda por aí.

— Você me comparou com o seu melhor amigo, e falou que eu gosto de fazer merda? — levantei uma sobrancelha — Eu não esqueci a erva que eu achei na sua bolsa, tá?

— Que tal a gente ir naquela rave que você mencionou? Eu gosto, e juro que tô falando sério. Claro, se você ainda quiser.

— Tsc... Você não prefere procurar um motel e ser o ativo dessa vez?

Ilusões, ato 2 (furry yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora