Benício
Chico não mudou absolutamente nada e isso não me surpreende nenhum pouco. O conheço desde pequeno. Sei que o que mais detesta é mudanças, tanto que ficou bastante bravo quando eu cresci e o deixei para trás. Imaginei que fosse difícil manter a amizade já que eu sou um pouco mais velho que ele, mas a gente conseguiu se adaptar. Sinto que não o considero da mesma forma que ele me considera e isso me deixa um pouco mal mas eu preciso aprender a lidar com o fato de que um garoto ômega não é meu melhor amigo, e sim um parceiro em potencial. Não que a gente vá acontecer um dia, é só que eu infelizmente acredito na máxima de que ômegas e alfas não são amigos em hipótese alguma mas eu só aprendi isso depois que fiquei mais velho então desfazer meu relacionamento com ele se mantém fora de cogitação.
Depois que o tio Francisco chegou, tia Raimunda começou a fazer o almoço e as outras irmãs apareceram, menos Iracema, que como sempre, estava estudando em seu quarto. Ela só apareceria na hora da refeição e eu estava ansioso em vê-la. É a mais doce e quieta das irmãs depois de Iara. Maria Flor foi outra que não mudou nada, apenas amadureceu e se tornou uma mulher muito bonita. Ela era beta, então nunca me atraiu, mas até hoje não deixa de dar em cima de mim. Bom, isso até o atual momento.
— Bê, quanto tempo. — A garota adentrou a cozinha e veio até mim, passando o braço por cima dos meus ombros.
— Oi, Maria. — Sorri para ela percebendo que seu irmão havia acabado de entrar pela porta.
Seu shorts curto me chamou a atenção e a blusinha que usava deixava uma quantidade desnecessária de pele aparecendo. Ergui a sobrancelha diante daquelas vestimentas e voltei meu olhar para a garota antes que meu alfa entrasse no estranho modo de sentir que possui qualquer ômega que ele vê por aí. A mulher pareceu perceber meu "incômodo" e coçou a garganta. Dei uma risada sem graça me voltando a ela.
— Como vai a vida? — Ela colocou a mão no meu peito, circundando ele com o dedo indicador. — E o coraçãozinho, hm?
Levantei minha mão onde estava a aliança, mas antes dela vê-la, ouvi a voz de dona Raimunda.
— Minha filha, deixe de se jogar para cima de Benício. Esqueceu que agora ele é um homem casado? Vá ciscar em outro quintal. — Dei gargalhada de suas frases e vi a outra erguer a sobrancelha, ainda um pouco desacreditada.
— É, para de ser piranha, Maria Flor. — Chico deu língua para a garota que abriu a boca sentindo-se ofendida.
— Não fala assim da sua irmã. — A mãe dos dois interviu a possível briga, mas isso não foi o suficiente para deixar Maria calada.
— Como se você também não fosse uma. — Retrucou e Chico se aproximou da gente.
— O que ela tá falando? — Fiquei interessado. Então não eram só as roupas dele que eram de piranha?
— É o Chico que dá pra qualquer pescador que ele vê, não eu. — A irmã beta começou, mas foi impedida de me dar mais detalhes sobre porque o ômega tapou a boca dela com uma mão.
— É mentira. Ela tá inventando isso porque tá com inveja de mim. Enquanto eu atraio todos os olhares por ser um ômega, ela não atrai nenhum porque é só uma beta sem graça. — Aquelas palavras pareciam mais uma forma de censura do que uma opinião formada. Maria Flor é tão linda quanto qualquer ômega que exista por aí e eu sei que Chico admira isso nela, porque eu conheço ele tanto quanto ele conhece suas irmãs.
— Uhum, sei. — Franzi o cenho, cruzando os braços. — Depois você vai me contar essa história ai direitinho.
— Só se for depois do almoço, hein. — Ouvi dona Raimunda dizer e dei uma gargalhada. — Agora você precisa tomar um banho e descansar, meu filho. A viagem deve ter sido longa. Quando o almoço estiver pronto, você volta pra cá.
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É do boto
RomanceTanto eu quanto Benício crescemos, evoluímos e nos tornamos homens. Seguimos caminhos diferentes, mas todos os anos eles se cruzam no verão. Entretanto, dessa vez, o cruzamento do meu destino com o de Chico pode mudar nossas vidas pra sempre. child...