ChicoCantarolo baixinho para a bebe em meu colo. Não sei se já entende o que eu falo, mas ela aparenta se acalmar ao ouvir minha voz. Só tem três meses e é tão frágil que eu tenho medo de pegá-la no colo e acabar a esmagando, ao contrário de suas tias, exceto Maria Flor. Ana é a que fica mais tempo com ela no colo. Vai acostumá-la mal e eu que vou ter que lidar com isso depois. Iracema adora apertá-la, tanto as bochechas quanto o corpinho e eu quase tenho um treco toda vez que a vejo fazendo isso. Iara quase não abre a boca pra falar nada, mas se for pra fazer vozinha infantil para se comunicar com a sobrinha, ela é a primeira. Como eu já mencionei, Maria Flor nem se atreve a chegar perto. Acho que ela tem um certo asco da minha bebe por saber de quem ela é filha, mas Ana disse que já a viu com a pequena no colo.
Ponho a bebe sentada em minhas pernas e olho para o horizonte, dando um mínimo sorriso enquanto lembro de tudo que aconteceu no verão passado. Não é algo que eu deva me orgulhar, mas confesso que o resultado das ações inconsequentes que tomei até que trouxeram o mínimo de alegria na minha vida. Sinto o vento bagunçar meus cabelos e jogá-los todo em meu rosto. Preciso fechar os olhos para arrumá-los, e quando os abro novamente, não acredito no que vejo. No horizonte, tão lindo quanto um dia chegou e foi embora, eu vi a imagem de Benício. Não pude acreditar.
Me levantei, ajeitando a pequena em meus braços. Fiquei estatico enquanto o percebia se aproximar. Que epoca do ano era mesmo? Ele sempre vinha nos visitar no verao. É possivvel que o tempo tenha se passado tao rapido assim e ja estavamos na epoca de nos vermos de novo? O cheiro dele era inconfundivel, e continuava tao forte quanto. Percebo que o cheiro de lavanda da bebe tambem se intensifica. Ela estava detectando a presença do outro.
— Como assim o meu bebe ja tem um bebe? — O desgraçado teve a audácia de perguntar com um enorme sorriso enquanto se aproximava de mim. Como se ele não tivesse feito ela junto comigo.
— É. — Confesso que me envergonho um pouco. Se nao fosse dele, a situação seria pior. Eu sempre fui o pequeno, o caçula da família. E de repente quebrar toda essa imagem aparecendo prenho em casa é um pouco degradante.
— Dona Raimunda disse pra minha mãe que o pai do bebe é o boto. — Ele deu uma risada sarcástica.
Franzo o cenho ao ouvir aquilo, mas entendo. Eu contei pra ela que o pai era o Benício, mas não era justo a mãe dele receber a notícia tão repentinamente assim.
— Pelo visto esse boto é muito covarde. De ter ido embora e te deixado assim. — Ele fala parecendo melancólico. — Mas ele voltou pra te pedir desculpas, e pra dizer que sabia que essa fofinha é filha dele.
O alfa desvia o olhar da menina pra mim. Seu cheiro parece transmitir arrependimento. Me surpreendo um pouco com aquilo. Então ele sabia? Tento segurar o choro, mas não consigo. Vários sentimentos tomam conta de mim. Felicidade, surpresa, angústia … Por que ele foi embora mesmo sabendo disso? Por que não voltou no meio do ano? Por que não me disse nada?
— Então por que você deixou meu pai fazer aquilo comigo? Por que não voltou depois? — Falei tentando controlar meus sentimentos para manter minha filha calma.
— Eu me divorciei. — É tudo que ele diz, me deixando boquiaberto. — Quando retornei e resolvi as coisas da empresa, percebi a burrada que tinha feito tanto com você tanto com Stephanie. Nenhuma das duas merecia isso.
Ele fez uma pausa, fazendo uma expressão cômica e eu segurei a risada, me sentindo mais relaxado com a confissão.
— Tá, talvez a Stephanie, mas eu já te conto essa história. Enfim, eu pedi o divórcio e fiquei lá agilizando os papéis, por isso não falei nada. Eu vi as fotos que vocês postavam da bebê e eu não pude acreditar que essa coisinha tão fofa saiu do meu saco.
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É do boto
RomanceTanto eu quanto Benício crescemos, evoluímos e nos tornamos homens. Seguimos caminhos diferentes, mas todos os anos eles se cruzam no verão. Entretanto, dessa vez, o cruzamento do meu destino com o de Chico pode mudar nossas vidas pra sempre. child...