Manaus

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Chico

Benício iria embora antes do esperado. O nosso verão tinha encurtado, e o meu sofrimento prolongado. Meu pai me expulsou de casa por eu ter engravidado de "um qualquer". Ana disse que eu moraria com ela até que ele se acalmasse e eu tinha certeza que Benício sabia que o filho era dele. Ele tentou me dar suporte e conversar com meu pai, mas ele estava irredutível. Passaram-se apenas alguns dias e o alfa mais velho agia como se tentasse esquecer o assunto, mesmo que só me manteria em sua casa até Benício ir embora. Seu vôo já estava marcado e meu pai decidiu fazer uma festa de despedida para o garoto, como se ele não fosse voltar no verão que vem e estivesse indo embora pra sempre. Eu só esperava que já estivesse tudo bem para o recebermos novamente, porque apesar de tudo, eu considerava muito Benício, mas não tinha condições de sair de Manaus para ir até o Rio vê-lo. Quer dizer, eu até tinha um pouco. O marido de Ana era rico e tenho certeza que ele não se importaria de pagar a viagem pra mim, mas não acho que vá ser muito confortável ficar sobre o mesmo teto que Stephanie, ainda mais depois de tudo que fiz e de estar grávido do marido dela.

Balancei a cabeça levemente para afastar os pensamentos e tentei me concentrar no que fazia. Enrolava alguns docinhos para a festa do alfa, que seria no fim da tarde. Mais parecia uma festa de aniversário do que tudo, e isso foi erro de Benício. Ele havia tido que estava com saudade de festas de criança, então minha mãe teve a brilhante ideia de fazer comidinhas de festa de criança para ele, como se o alfa não fosse um marmanjo de quase trinta anos.

Dona Raimunda estava empenhada em fazer o bolo perfeito juntamente à Maria Flor. Iara e Iracema faziam os salgadinhos, enquanto Ana tinha ido buscar os refrigerantes com nosso pai num depósito no centro da cidade. Benício arrumava suas coisas no quarto, e eu queria ir até lá. Desde que isso tudo aconteceu, eu não pude ficar sozinho com ele. Parecia que ninguém queria deixar. Sempre tinha alguém para nos atrapalhar, inclusive à noite. Aceitei a situação como o castigo que eu merecia.

Logo o homem apareceu e eu sorri para ele. O alfa beijou o topo da minha cabeça e eu senti meu coração se aquecer, liberando um pouco do meu cheiro e do da criança que eu carregava. Desde que eu descobri que estava realmente grávido, eu me sentia um pouco diferente. Não só por causa de toda a confusão que rolou em casa, mas também por conta das mudanças hormonais e físicas que estavam acontecendo. Eu ainda não tinha barriga e nem nada, mas o cheiro do feto já despontava juntamente ao meu e eu conseguia sentir que eu não estava mais sozinho 24 horas por dia.

— Vejo que estão se empenhando. Sabem que eu vou voltar ano que vem, né? — Benício riu, se afastando de mim e indo até minha mãe e Maria que estavam sentadas a mesa começando a confeitar o bolo.

— É um pedido de desculpas, fio. — Ouvi minha mãe dizer e olhei para ela por cima dos ombros.

A mulher olhava nos olhos de Benício e ela parecia saber de alguma coisa. Ergui a sobrancelha mas logo voltei a fazer o que eu estava fazendo quando recebi um olhar de desprezo de Maria Flor.

— Desculpas? Pelo que? — Ele pareceu não entender o que a mulher queria dizer e eu me senti um pouco aliviado. Provavelmente era só impressão minha e não havia nada que ela soubesse.

— Por aquela cena que o Quinho fez quando descobriu sobre Chico. Foi desnecessário fazer aquilo na sua frente. Ele podia ter chamado nosso fio no canto e ter brigado com ele, não precisava fazer um estardalhaço.

— Não tem problema. Nenhum dos dois tem culpa de nada. O que aconteceu foi só uma infelicidade do destino, mas eu espero que Chico fique bem.

Ele olhou para mim e eu lhe dei um sorriso. Vi a outra fazer cara de nojo mas logo minha mãe a repreendeu, e então as duas voltaram a fazer o que estavam fazendo antes de Benício as interromper.

É do botoOnde histórias criam vida. Descubra agora