OITO ou OITENTA

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Florence

O mundo parecia girar devagar. Tudo ao meu redor parecia estar em um slow eterno. Eu não conseguia focar em nada. Meu corpo parecia cair... cair e cair...

Oton parecia ter enlouquecido. Seu rosto parecia que iria pegar em chamas a qualquer momento de tão avermelhado que estava. Seu corpo todo expressava a raiva que ele sentia. A veia sobressaltada do pescoço, as mangas da sua blusa social sendo arregaçadas até o bíceps. Seu grito e seu autoritarismo... Meu nome sendo esbravejando através da sua boca, seus olhos congelados sobre mim enquanto meu corpo parecia cair, cair, cair, cair.

Tudo em mim parecia anestesiado.

Minhas expressões.

Meus sentimentos.

A dançarina que habitava em mim não parecia ter mais controle e equilíbrio de nada enquanto eu caia, caia, caia em um verdadeiro colapso emocional.

Pela fresta de sanidade que ainda parecia ter restado em mim, notei Karim, que parecia completamente confuso enquanto ouvia da boca de Oton histórias sobre Serena e Florence... e enquanto isso acontecia eu só caia, caia, caia.

Meu corpo queimava de raiva. Mas queimava muito mais em arrependimento.

Meu corpo ardia pelas atitudes irracionais de Oton, mas também ardia pelo o que eu tinha feito: beijado Karim.

E eu tinha gostado.

Muito.

Aquilo não parecia ser uma atitude da dançarina Serena. Nem da Florence...

Quem eu estava me tornando?

Então tudo tornou-se um silêncio perturbador.

Oton não estava vociferando mais.

Suas palavras não atingiam mais os meus tímpanos.

Foi então que eu vi seu corpo ajoelhado em minha frente, com alguém que suplica clemência.

Ele parecia ter sido derrotado.

Eu nunca tinha visto aquilo na vida e foi então que eu caí pra valer no meu próprio colapso emocional. Haviam me golpeado e assim como Oton eu também estava derrotada.

Karim se moveu para tentar ajudar Oton, entretanto, eu sabia o que exatamente tiraria aquele homem dali. Estiquei minha mão até o peitoral de Karim, impedindo seu ato de ajuda e dei um passo em direção ao corpo de Oton.

– Levanta. – supliquei, com minha voz trêmula. – Oton, levanta dai, por favor.

Senti uma mão firme girar meu corpo.

Os olhos negros de Karim fixaram sobre os meus. Sua boca abriu, mas antes que alguma palavra saísse dali eu pedi, sem tirar meus olhos dos seus.

– Vá embora. – minha voz saiu fraca.

– O que? Eu não vou te deixar aqui com esse homem.

– Vai embora, Karim! Eu sei me cuidar.

Seu olhar me fitou sério. Ele parecia pensar em mil coisas em uma velocidade absurda a ponto de lhe fazer enlouquecer. Sua respiração estava entrecortada e logo ele me beijou.

Seus lábios tocaram os meus outra vez.

E em questão de segundos vi seu corpo se desequilibrar sobre o capô do seu carro. Oton desferiu outro soco contra o jogador, que ainda perturbado, tentava entender o que se passava.

– PAREEEE! – gritei.

Karim revidou. Lançou seu punho fechado sobre o rosto de Oton, que caiu de uma vez no chão, completamente apagado.

Privacy | Karim BenzemaOnde histórias criam vida. Descubra agora