Capítulo 9

6 0 1
                                    

- E agora, sem mais delongas, o príncipe e futuro rei de Illéa, o senhor Felip irá dançar com cada uma das selecionadas. 

Quando Anthony diz isso todos os presentes no baile começam a aplaudir. 

Todas as selecionadas começam a ficar eufóricas e começam a se sobrepor umas contra as outras para ficarem na frente e terem mais chance de serem notadas pelo príncipe. 

Eu faço exatamente o contrário. 

Quando ele começa a vir ao nosso encontro, eu automaticamente vou para o lugar mais distante que eu consigo encontrar. 

Até que ele para a nossa frente e começa a nos encarar. 

- Gostaria de dançar, vossa alteza? - Britney, uma menina metidinha começa a falar por cima das outras garotas. 

Alguém avisa? 

Ele que continua nos encarando com desdém, dá um sorrisinho irônico ao pousar os olhos em mim. 

- Eu adoraria. - ele diz - Senhorita Isabelly, me concede essa dança? 

Quando ele diz isso todas as meninas ficam em choque, mas eu fico irritada porque sei que ele me chamou de propósito. 

- Eu... 

- Ah, é mesmo. Eu sou o príncipe. Meu jogo, minhas regras. - ele pisca pra mim e me estende a mão. 

Suspiro. 

- Você me paga. - digo baixo enquanto ele solta um riso nasalado. 

Ao chegarmos na pista de dança vejo que a maioria dos fotógrafos tiram fotos da gente, e nesse momento eu fico mais desconfortável do que eu já estava. 

- Não sei dançar. - digo quando o encaro.  

- Pode começar colocando suas mãos aqui. - ele coloca os meus braços em volta do seu pescoço e me puxa pra mais perto, apertando suas mãos em minha cintura. 

Meu. 

Deus. 

- E agora, o que eu faço? - pergunto. 

- Nada. Deixe que eu te conduzo. 

E assim ele começa a me "arrasar" pela pista de dança. Ou a dançar comigo. Não sei a diferença. 

- Você não tem ritmo. - ele constata. 

- Só percebeu agora? - pergunto olhando pros meus pés para não me embaralhar. 

- Pare. - ele diz - Seus pés sabem o que estão fazendo, você é quem não sabe. - ele tira uma mão da minha cintura e a coloca no meu queixo, o levantando e me fazendo olhar pra ele. 

E ele consegue ser mais bonito de perto. 

Pena que continua sendo um babaca. 

- No que está pensando? - ele me pergunta. 

- Em como eu vim parar aqui. 

- Não queria vir? 

- Claro que eu queria. Afinal, quem não gostaria de ficar lado a lado com o príncipe mais bonito do mundo? É uma honra. - digo sarcástica e ele revira os olhos. 

- Você é impossível. 

A música mudou para uma mais lenta e, de alguma forma, ficamos ainda mais perto. 

- Como você consegue fazer isso? - pergunto a ele.

- Dançar? - ele pergunta de volta - Tenho muitos dons. 

- Não, alteza. Como você consegue viver sendo que a sua vida parece um reality? Sabe? Eu não fiquei nem uma noite aqui mas, se me permite dizer, aqui é impossível de respirar. Você está sempre coberto de pessoas que sempre te dizem o que fazer e te cobram cada vez mais, mas ao mesmo tempo tem os paparazzi e o povo que acredita em você e que quer ver o seu melhor. Isso não é...exaustivo? 

Ele fica um tempo em silêncio e depois volta o seu olhar pro meu. 

- Quando se é um príncipe de nada importa os seus sentimentos. A realeza não é um conto de fadas. Aqui é o fim do poço. Parece que, por mais que eu tente ao máximo, eu sempre seriei jogado pra baixo mostrando insuficiência. Mas do que importa? Nada. Porque no fim do dia o que vocês veem de fora desses muros são fotos e rumores, e quando a poeira abaixa, o que vocês querem não é me conhecer, é apontar todos os defeitos que vocês já conhecem; porque dentro ou fora desse palácio eu nunca vou ser o bastante. 

Quando o príncipe termina de dizer isso eu fico extremamente surpresa por ele ter se aberto comigo, mas ao mesmo tempo fico triste por ele.

- Porque está me olhando com pena? - ele pergunta rouco. 

- Não estou com pena de você, majestade. 

- Porque? 

- Porque eu passo pela mesma coisa. Só que sem a parte do palácio e das câmeras. - tento dar um sorrisinho. 

- Porque você passa por tudo isso? 

- Porque o mundo lá fora é cruel. Pode não parecer, vossa alteza, mas mesmo as pessoas desprovidas de recursos e até as mais complicadas são cobradas o tempo inteiro. - digo voltando a olhar pros meus pés - Quando você cresce você passa a enxergar a vida como algo diferente do que você estava acostumado. Você percebe que nem todos querem te ver feliz; eles querem te derrubar. A luz que brilhava todo dia é tomada por uma escuridão interminável. Mas eu acho que se a gente deixar toda essa escuridão da vida tampar nossos olhos, nós nunca vamos enxergar um sentido real para continuarmos firmes. Bom...eu não sou muito boa em concelhos mas... se eu pudesse lhe dar um, seria nunca deixar o mundo te cegar porque se não você nunca vai conseguir ver as coisas boas que ele tem a te oferecer.

Quando termino de dizer isso o príncipe não diz nada. De novo. 

- Eu sinto muito. 

Quando volto a encará-lo, digo: 

- Não sinta, alteza. Depois de tudo isso eu aprendi que é impossível agradar todo mundo, e que mesmo se agradar nunca vai ser suficiente. Então eu que te pergunto. Do que importa? Nada. E sabe o porque? Porque eu fui presenteada com essa vida e ela está em meu nome. Então eu vou vivê-la da maneira que eu acreditar que é certo. Da maneira que me trás felicidade. - digo e percebo que se olhar penetrante parece querer enxergar minha alma. - Estou em um processo de descobertas ainda. O próximo passo é descobrir como eu posso ser suficiente pra mim mesma. Estou remando, alteza. Algum dia chego do outro lado. - dou um sorriso fraco e percebo que a música acabou. 

- Senhor, hora de dançar com a próxima selecionada. 

Quando escuto isso me solto dele e faço uma reverência atrapalhada. 

Quando passo por ele, eu escuto:

- Vai chegar lá. 

Me viro e o encaro. 

- Então você também vai. 


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 20, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Entre a espada e a coroa - O herdeiro cruelOnde histórias criam vida. Descubra agora