09 | familiaridade e confortabilidade

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     CONSIGO OUVIR A MISTURA DE VOZES, MÚSICA, risadas, taças e talheres tilintando ao longe. Também posso sentir o cheiro de bebidas e variados perfumes de maneira leve no ar. Tudo está muito distante porque eu estou distante. O que há de mais próximo a mim é o mar, o céu azul escuro que cobre minha cabeça como se fosse um manto cheio de brilho, a areia e algumas graminhas que cercam o espaço vazio onde estou sentada.

Depois de passar quase meia hora conversando com Marie, Océane, Kayla, Bean e Minnie, as três últimas sendo garotas que conhecemos na festa e parecem ser extremamente legais, resolvi me afastar da multidão para pegar um pouco de ar fresco. Caminhei na direção oposta ao deck principal e encontrei uma espécie de barranco que não é muito alto e tem um bom lugar para sentar, o que me abre a possibilidade de ir para a areia da praia em um único pulo.

Encaro a imensidão azul, a lua refletindo nas águas calmas do Atlântico. Aspiro o cheiro de água salgada, animais e algas marinhas, de pés afundando na areia, de natureza, de vida.

É reconfortante estar aqui, porque é como se eu estivesse em casa, embora centenas de quilômetros me separem de minha residência e do mar ao qual costumo visitar sempre que posso. Penso em diversas coisas enquanto mexo meus pés sob o vazio e passo as mãos na grama rala que me cerca. Os minutos continuam passando e nada parece mudar até alguém aparecer em minha visão periférica. Eu não me movo, apenas deixo-a se aproximar cada vez mais e preencher meu campo de visão.

Max se senta em um espaço vazio ao meu lado sem dizer nada.

— O que faz aqui? — pergunto a ele sem tirar os olhos da paisagem.

— Estava te procurando — ele confessa. Acho que também está admirando a vista em nossa frente. — E você? O que faz aqui?

Dou de ombros.

— Pegando um ar, pensando na vida. Acho que a minha bateria social está quase acabando.

Ele dá um risinho, então o encaro. Max está tão relaxado, e o vento bagunça um pouco seu cabelo. Penso em como ele continua bonito no mesmo nível de beleza em que se encontrava após a corrida.

Maldito.

— Você olha para tudo isso — ele aponta na direção do mar e depois torna a olhar para mim — com um apreço tão grande. É quase como uma parte de você fora do seu corpo.

— E eu acho que é — dou risada. — Eu me sinto relaxada quando fico perto de "tudo isso". Algumas pessoas relaxam lendo, outras ouvindo música, já outras chorando… Eu relaxo assistindo as ondas quebrarem e sentindo o cheiro de água salgada e ressaca. E às vezes pegando uma onda ou outra. E você, Max?

— Ah… bom… — ele hesita. Está visivelmente confuso e até coça a nuca. — Não sei bem. Acho que só de estar em casa eu relaxo. Ou então na casa da minha mãe, ou com meu melhor amigo… Essas coisas, sabe.

Aquiesço.

— São lugares onde você se sente confortável. Protegido. — afirmo e ele arregala os olhos um pouco. Abraço meu corpo quando o vento sopra frio demais. — Nunca tinha percebido isso?

— Não — Max dá uma risadinha outra vez. — Eu só achava que eram lugares conhecidos, familiares!

— A gente tem a tendência de associar familiaridade a proteção, confortabilidade e relaxamento. Por que você acha que é mais fácil continuar jantando naquele restaurante que conhece e vai há anos do que visitar um novo?

O piloto parece estupefato, o que me arranca um riso. Seus olhos brilham e ele me encara sem piscar. Sentindo minhas bochechas ruborizarem, desvio minha atenção para o chão alguns metros abaixo dos meus pés. Ser observada assim é bom, mas também é estranho.

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