VI - Amor

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Eddie iria para onde quer que Richie quisesse ir, mas não antes de tomar um banho, escovar os dentes, descansar e se alimentar um pouco. Aquela madrugada/manhã havia sido realmente cheia, aspectos extremos do que se define por desagradável e agradável colidiram de forma rápida demais, Eddie precisava de pelo menos algumas horas de sono para ter certeza de que a vida dele não era um livro muito bagunçado escrito por algum drogado aleatório.

Eddie e Richie haviam saído do ginásio e caminhavam pela cidade, voltando para o hotel onde estavam hospedados. Eles não estavam conversando e não estavam de mãos dadas, embora agora fossem um casal – eram um casal? Eddie esperava que fossem, e achava que Richie também queria isso, embora nenhum dos dois parecesse muito confortável em entrar no assunto.

Eddie queria ser ele mesmo, é claro, passou a vida toda tentando ter coragem para isso, é claro, mas a prática nunca era tão fácil quanto a teoria. Eddie retribuiu o beijo de Richie e, de certa forma, admitiu ser apaixonado por ele. Aquele foi um dos poucos momentos em que Eddie teve a coragem necessária para fazer o que deveria ser feito, e ele ficou feliz com isso, mas essa coragem ia e voltava, e agora que ambos estavam num local mais público ela havia sumido. Eddie achava que, dentre eles dois, Richie teria menos dificuldade em se assumir publicamente, mas talvez fosse apenas a impressão que o seu humor excessivo deixava marcada, uma vez que Richie parecia tão aflito e sem saber o que fazer quanto Eddie em relação a situação atual.

Mas no fim, nada disso importava muito. Eddie estava decidido a não deixar mais seu medo interferir em sua vida, e ficava tranquilo quando pensava que se o seu medo não interferiria em nada, o de Richie também não ousaria, uma vez que ele sempre foi mais corajoso do que Eddie.

—Então... – Eddie se atreveu a falar algo, não aguentava mais o silêncio da caminhada, era constrangedor – Onde exatamente você quer me levar mais tarde? O que você quer me mostrar?

Richie estava com as mãos no bolso, andando de um jeito desleixado, ele olhou para Eddie e sorriu.

—Curioso, Sr. K? Eu sei que você gostaria muito, mas não vou te levar para a minha cama. Ainda.

Eddie corou, olhando irritado para Richie, que começou a gargalhar imediatamente.

—Você fica tão fofo quando eu flerto com você, Eds! Não tem como, desculpa! – Richie continuou rindo.

Eddie estava pensando no quanto Richie era inacreditável. Ele parecia estar prestes a morrer de medo antes e após o beijo, na verdade, mesmo enquanto eles se beijavam Eddie pôde sentir que Richie não parava de tremer, agora mesmo, inclusive, Richie não parecia ter coragem nem mesmo para tocar no assunto do beijo, dos sentimentos e nem para encostar na mão de Eddie (embora parecesse estar realmente com vontade de fazer isso tudo). Eddie sentia que Richie se assustava ao demonstrar afeto, – se assustava tanto que Pennywise conseguiria se aproveitar daquele medo muito fácil – mas mesmo com Richie tendo tanto medo, os flertes dele direcionados a Eddie permaneciam, talvez porque o próprio Richie tivesse se convencido ao longo dos anos de que essa não era uma demonstração de afeto direta ou algo do tipo, mas não havia como saber ao certo, ao mesmo tempo que Richard Tozier parecia ser um livro aberto, ele também era um mistério.

No fim das contas, Eddie não reclamaria dos flertes e das brincadeiras de Richie, ele ficava meio constrangido, é claro, mas gostava um pouco na verdade.

—O que eu quero te mostrar não vai sair de lá tão fácil, acredita em mim, é uma coisa que... – Richie ajeitou os óculos, talvez fosse apenas reflexo, mas Eddie pensou tê-lo visto corar – bem, é uma coisa que eu nunca teria pensado em te mostrar, na verdade, acho que é meio constrangedor, mas também acho que talvez você gostasse de ver. É algo do passado. Mas enfim, depois a gente pode falar sobre isso. Eu quero te mostrar de qualquer jeito, não vou te deixar escapar dessa, Eds.

E se...? - ReddieOnde histórias criam vida. Descubra agora