E se...? - Reddie

VII - Lovers

Eddie ainda não fazia ideia do que Richie pretendia quando ambos chegaram (ofegantes graças à caminhada) ao Parque Bassey, onde se situava a ponte do beijo – ponto famoso em Derry para casais apaixonados, usuários de drogas e também para os infelizes casos de homofobia (Eddie se arrepiou ao se lembrar do mais recente, Mike os contou sobre: o espancamento e morte de um dos rapazes do casal foi causado por um grupo de jovens babacas com um acréscimo de Pennywise).

Eddie não sabia o que eles fariam ali, entalhariam suas iniciais na madeira da ponte? Usariam drogas? Ou esperariam algum louco com ideais ultrapassados de fundamentação científica nula (a homossexualidade era comum e natural dentre diversas espécies, ser humano incluso, Eddie havia pesquisado) tentar os matar? Richie havia dito que mostraria a ele algo do passado, Eddie forçava sua mente tentando adivinhar o que poderia ser.

De repente, um pensamento correu pela mente de Eddie – "Será que..."– Mas sua linha de raciocínio foi interrompida quando Richie o puxou até a ponte do beijo.

Richie parou por alguns instantes, encarando a madeira,  até que pareceu encontrar o que procurava. Ele agachou-se, bloqueando com seu corpo a visão de Eddie de forma a parecer proposital, e tirou um canivete do bolso.

Eddie teve certeza de que seu pensamento anterior – aquele que ele não havia acabado de formular – estava certo quando Richie terminou de ajeitar o entalhe das iniciais, entalhe esse que, Eddie sabia, estava lá há muito tempo.

Eddie se agachou ao lado de Richie, passando os dedos delicadamente pelo "R+E" entalhado de forma apressada e desajeitada por (agora Eddie sabia por quem) um Richie bem mais novo e com muito mais medo de assumir seus sentimentos. Lágrimas se formaram nos olhos de Eddie, mas elas se recusavam a escorrer. Ele pensava em um de seus segredos jamais contados.

Por volta de vinte e poucos anos atrás, Eddie estava pedalando sozinho pela cidade quando o pneu de sua bicicleta furou próximo ao Parque Bassey (isso foi pouco antes de Eddie decidir passar algum tempo no parque). O tédio o estava consumindo, ele não queria voltar para casa pois não queria ver sua mãe, mas também não havia nada para fazer ali. Por fim, como forma de passatempo, Eddie optou por ficar olhando os entalhes da ponte do beijo, – talvez ele achasse algo interessante, quem poderia saber? – e foi nesse momento que Eddie viu pela primeira vez aquelas duas letras, 'R' e 'E', entalhadas na madeira.

Até saber a verdade há poucos segundos atrás, Eddie achava que eram as iniciais de algum casal hétero, livre e apaixonado. Riley e Evan. Robert e Emma. Raymond e Emily. Poderiam ser quais quer nomes, mas com certeza deveriam ser nomes de um homem e uma mulher. Apesar disso, – Eddie nunca pensaria que admitiria isso um dia embora estivesse prestes a admitir agora – ele gostava de encarar as iniciais e imaginar durante horas dos seus dias que os verdadeiros nomes por trás daquele 'R+E' desajeitadamente entalhado eram Richard e Edward. E embora Eddie quisesse muito acreditar nisso, nunca, em nenhum momento, ele pensou que as iniciais realmente poderiam significar "Richie + Eddie". – Era impossível – Mas agora, vinte e sete anos depois, vejam só: no final das contas elas realmente significavam "Richie + Eddie".

O coração de Eddie estava descompassadamente acelerado, descompasso esse causado por uma pilha de sentimentos escondidos durante anos vindo à tona muito de repente e fazendo uma festa em seu coração.

—Eu... – Richie começou, ajeitou os óculos, olhou para Eddie, seu tom de voz era atipicamente baixo e envergonhado – fiz isso quando a gente era criança, – Richie olhou para a mão de Eddie sobre o entalhe, levando sua própria mão até a dele e entrelaçando seus mindinhos um no outro – Eddie, eu sempre gostei tanto de você.

Richie tentava manter a compostura, mas sua voz trêmula deixava óbvio que ele estava prestes a chorar.

Uma silenciosa pausa de segundos que pareciam eternos se instalou entre os dois antes de Richie voltar a falar: