Mesmo com receio e principalmente medo de fazer essa viagem com o Playboy, não dei pra trás. Resolvi tudo com a minha patroa Beatriz, falei que precisava ir para o nordeste cuidar de uma tia minha que estava doente e não tinha ninguém além de mim para a ajudar, e acabei sendo liberada. Fiquei muito mal por mentir para minhas amigas, mas não tive escolha. Não poderia contar a verdade para ninguém, o Playboy deixou isso bem claro.
Como esperado, nós nos vimos ontem a noite e conversamos mais uma vez para eu ter certeza que a promessa dele estava de pé. Ele não pôde ficar por muito tempo, mas me assegurou que sim, sua promessa estava de pé e falou o que eu precisava saber sobre a viagem.
Hoje, por volta das onze e meia da noite, como o combinado, sai de casa com as minhas coisas e desci até o ponto onde o Uber pode entrar na favela. Lá havia um vapor que me levaria até o Playboy.
Ao entrar no carro, cumprimentei o homem e como sempre, o caminho foi silencioso. Ele dirigiu até um lugar que não conheço e de longe, antes mesmo dele parar, vi um carro preto na esquina e presumi que fosse o Playboy. Logo o vapor confirmou minha suspeita e eu respirei fundo, o agradeci, depois desci do automóvel e fui até seu chefe. Conforme me aproximei, o vidro do banco do passageiro desceu e eu vi o Playboy se inclinar, me chamando, então andei mais rápido.
— Coloca atrás mesmo, eu não posso descer.
Abri a porta de trás, coloquei minha mala sob o banco e depois entrei no carro sentando no banco do passageiro. Eu estava muito nervosa, meus batimentos cardíacos estavam acelerados e eu só conseguia pensar no pior.
— Coloca o cinto. — Ele pede e eu assinto, o obedecendo.
Fiquei quieta devido ao nervosismo e suspirei devagar, tentando ficar calma. Um tempo depois, mesmo com receio, virei o rosto para o lado devagar e fiquei encarando o Playboy. Ele parecia tranquilo, não demostrava estar nervoso e eu não entendia como o mesmo conseguia ser assim.
— Oi... — Chamei a atenção dele, que olhou em meus olhos antes de me responder.
— Oi. — Desviou o olhar para frente e eu fiz o mesmo, engolindo a saliva — Tá nervosa?
— Uhum...
— Relaxa po, vai dar tudo certo.
— Eu não sei... É arriscado. E se nós formos parados?
Ouvi ele suspirar e arqueei uma sobrancelha, direcionando meu olhar para seu rosto mais uma vez. Acho que ele não gosta do meu pessimismo.
— Eu não posso assegurar que não vamos ser parados, mas você tem que acreditar que isso não vai acontecer. Negatividade não vai ajudar a gente agora. Tenta relaxar... — Falou com mansidão, olhando para mim.
— Eu não vou conseguir, Playboy...
Cruzei os braços, virando para frente, soltando um suspiro. Meu coração estava apertado, eu sentia que algo de ruim iria acontecer, por isso estava tão apreensiva.
— Então tenta dormir... Vai demorar pra gente chegar.
Também não iria conseguir fazer isso, mas mesmo assim assenti, murmurando "Uhum". Direcionei o olhar para a janela e observei a estrada enquanto pensava. O clima estava tão estranho... Um estranho diferente do que estou acostumada. Ele não falou mais nada e eu muito menos, o que não era nada bom. Não se nós fossemos passar horas no carro, então tentei pensar em algo para puxar assunto. Nesse momento, lembrei de uma coisa que sempre quis saber sobre ele e que só descobri quando o mesmo foi preso; o seu nome. Eu não sabia, sempre o chamei pelo vulgo e nunca tive coragem de perguntar seu nome verdadeiro, por isso quando descobri fiquei bastante surpresa.
— O seu nome é Carlos, né? — Perguntei olhando para seu rosto com as sobrancelhas arqueadas e um leve sorriso.
Ele me olhou rapidamente e só assentiu, suspirando. Eu abri mais o sorriso, soltando um ar pela boca e desviei o olhar para frente.
— Caraca, eu nunca adivinharia que esse era seu nome. Mas acho que combina com você... É um nome forte. Você só não tem cara de Carlos. — Soltei o ar pelo nariz e depois olhei para ele de novo, com um sorriso singelo nos lábios — Posso te chamar assim?
— Não.
Meu sorriso se desmanchou na hora. Foi um não tão seco que eu o encarei perplexa.
— Por quê?
— Porque eu não gosto desse nome.
— Mas é um pouco estranho te chamar de Playboy. — Cerrei os olhos e franzi levemente o nariz, pensando o quão estranho era.
— Então me chama de Filipe.
— Filipe? Por que Filipe?
— Porque eu gosto.
Arqueei as sobrancelhas abrindo um sorriso e soltei um riso anasalado quando virei a cabeça para frente, a balançando de modo negativo, achando engraçado o jeito dele. "Porque eu gosto." Simples assim.
— Tá. E... Por que você não gosta de Carlos e sim de Filipe? — Olhei para ele, curiosa.
— Filipe era o nome que eu usava antes de me tornam o Playboy. Já Carlos é o nome que meu pai escolheu pra mim.
— Ah... — Ainda estava com dúvida. Ele não gostava do nome porque não gostava do pai? É isso? Não sei, mas irei perguntar outra hora. Tenho medo disso ser um assunto delicado e ele me mandar calar a boca e não responder mais nada, o que eu não desejo, já que quero descobrir mais coisas sobre ele. — E por que Playboy? Também nunca entendi.
Fiquei surpresa ao ver ele abrir um sorrisinho no canto dos lábios e soltar o ar pelo nariz quando ouviu a minha pergunta, então o encarei, mais curiosa.
— Quando eu comecei a ganhar muito dinheiro com o tráfico, comecei a crescer..., eu só queria saber de andar trajado de Nike, no estilo. Com várias joias, relógio, tá ligado? Com moto bacana... Aí colocaram esse apelido em mim.
— Entendi... E você gosta mesmo disso, né? De andar assim.
Era nítido que sim. Ele tinha muitos cordões de ouro, anéis e alguns relógios, pelo que lembro. As poucas vezes que entrei no closet dele vi muita roupa de marca, vários perfumes e sapatos.
— Gosto mesmo. E não é por ostentação. Quer dizer, talvez seja um pouco, mas tipo... Eu já passei muita dificuldade na vida, agora que eu tenho condição de andar assim, eu vou andar, tá ligado?
— Uhum, eu tô entendendo o que você tá falando. — Puxei o ar pelo nariz e respirei fundo, pressionando levemente meus lábios, sem desviar o olhar dele. — Tem... algum problema... a gente falar sobre seu pai?
Eu tentei, eu juro que tentei não tocar nesse assunto agora, mas o silêncio estava me matando. Eu não iria conseguir ficar quieta e de boca fechada num carro quando não tinha nada para fazer. Sem contar que precisava distrair a minha cabeça para não ficar pensando no que pode dar errado.
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Menina do chefe
RomanceMaria Antonieta é uma jovem humilde, nascida e criada no complexo da penha. Era uma moça ingênua, que levava uma vida pacata, até que uma doença obrigou ela a se submeter a uma situação que nunca imaginou que iria passar. A sua escolha a fez conhece...