Chapter one: Under Pressure

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O amor me confunde.

Nunca senti o amor. Ou talvez tenha. Mas não sei o que ele é. Não sei se senti certo ou quando ele aconteceu. Ele será como o amor dos filmes e dos livros? Ele é o amor que vai além do instinto animal e nos transforma em indivíduos maternais, contrariando a normalidade da existência até então irracional? Ele é um momento tranquilo, sem aquela tamanha euforia que tanto lemos e que nos faz sentir que nos enganamos? Ou talvez o fogo a nossas histórias nessa igreja de romances queimados pelo ódio constantemente confundindo e disfarçado de crença e sabedoria? É esse sentimento familiar que te mantém pressionado até que você não suporte mais e decepcione todos eles apenas por tentar seguir seu próprio caminho? Ele é o medo e a agitação da liberdade ao fugir, ou é o comodismo de tal casal que matou seu amor a tanto tempo, mas que não tem coragem de sair e que provavelmente vai se manter infeliz até a morte por medo da solidão?

Há alguns anos atrás, minha mãe enfim parou de dizer que amava meu pai e que era apenas uma fase difícil para eles.

Essa fase nunca passou. Eles já não se amavam a muito tempo, não me lembro de vê-los felizes no mesmo lugar. Eu só era pequeno demais para desacreditar tão facilmente assim como agora e ela acreditava firmemente que estava me protegendo.

Ao crescer, eu só pedia que ela não mentisse para mim. E sempre perguntava:

— Se você não ama mais meu pai, por que você só não se separa dele?

E sua resposta era sempre a mesma:

— Você vai entender quando for mais velho que não se pode destruir um casamento assim. Nós não podemos.

Minha resposta estava sempre na ponta da língua: o casamento de vocês já está destruído a muito tempo. Mas eu nunca dizia, porque não queria deixá-la triste.

Não sei se meus pais, em algum momento, realmente se amaram. Ao vê-los agora, parece que não. Mas precisam ter amado, não é? Por que começariam tudo isso sem amar? Talvez tivessem se enganado tanto quanto eu? 

Eu não sei. Não tenho resposta alguma. Quando tiver, volto para contar. Talvez conte a eles. Talvez eles estejam perdidos como eu, mas não importa. Não é justo. Eu só não aguentava mais aquele inferno em que vivíamos. Eles poderiam estar acomodados, mas eu não estava.

Todos os dias era a mesma coisa. Todos.

— Você é tão estúpida! — Meu pai gritou a última palavra. — Que burrice.

— Não, burrice é o que você faz! — Minha mãe devolveu, batendo no balcão da cozinha. Os cabelos se agitavam conforme ela gesticulava enquanto andava pelo ambiente. — Eu só estou tentando nos manter firmes.

— Ah, pois não está conseguindo. — Ele riu irônico, apontando para mim com raiva. — Ele não passou na faculdade. Eu trabalho o dia todo para sustentar essa casa e quando chego só tenho desaforo. Eu não mereço isso.

— Somos uma família, Anthony. — Minha mãe quase sussurrou, lançando um olhar triste na minha direção. — E Harry ainda tem tempo para decidir o que quer fazer.

— Eu sei o que quero fazer.

— Ele nunca decide. — Meu pai bateu as mãos na mesa, bufando alto. — Já deveria estar indo para a faculdade, se casando em breve e tendo filhos. Mas ele está aqui, escrevendo essas baboseiras.

Não respondi suas palavras. Eles começaram discordando do lugar onde o pote de biscoitos deveria ficar e agora estavam ali. Eu sempre acabava no meio, meu pai jogava a culpa na minha mãe porque eu era um "adolescente decepcionante que vivia no mundo da lua e nunca se tornaria um adulto decente", e, segundo ele, isso era porque minha mãe me mimou demais.

Under Pressure || l.s. Onde histórias criam vida. Descubra agora