Chapter twelve: Radio Gaga

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Rádio, o que há de novo?

"Eu choro e me arrependo. O peito arde em dor e eu estou implorando por perdão, escondido embaixo da cama, por dentro do guarda-roupas, feito criança. Eu nem mesmo tinha corpo de jovem e os joelhos já estavam machucados dos tombos na trilha. E não pensei que haviam curativos."

— Onde você vai, Hazz? — Liz entrou em meu quarto enquanto eu arrumava minha mochila.

— Vou dormir na casa do Louis. — Ela sentou na cama e me observou. Os cabelos estavam presos recheados de presilhas, muitas delas. E de todas as cores possíveis. Os fios estavam para todos os lados. Usava uma calça verde com uma saia de tule rosa que provavelmente fazia parte de alguma fantasia. Uma camiseta minha, enorme sobre seu tronco, do Kiss.

— Quando Louis vai nos visitar?

— Eu não sei, princesa. — Dei de ombros, tentando me manter calmo. — Quem sabe semana que vem.

— Você vai estar de volta para a missa? — Um suspiro insatisfeito escapou dos meus lábios ao me lembrar da igreja, mas não a deixei perceber isso. Acenei. — Hazz, posso te perguntar algo?

— Claro. O que há? — Continuei enfiando coisas na bolsa distraidamente.

— Por que vamos à missa? — Liz chamou minha atenção, distraída com os próprios pés cobertos por meias azuis.

— Hum… Papai e mamãe acreditam em Deus, Liz. Por isso vão até lá.

— Mas eu não gosto de ir à missa. Se eu não for, então eu não posso acreditar em Deus?

— Não. — Me sentei ao seu lado, tomando conta do que tinha acabado de dizer. — Você pode só acreditar em Deus, desculpe, eu errei. Eles só vão à missa… eu não sei. Eles vão porque gostam. Mas por que você não gosta?

— Algumas crianças são más.

— Más?

— É. Elas falam coisas que eu não gosto. — Liz mexia nos próprios dedos, sem me olhar.

— Que coisas?

— Brian disse que meu cabelo era feio e que minha voz era muito alta. E eles falam coisas sobre as pessoas. Eu acho isso feio. Mamãe não me deixa vestir como eu gosto para ir à missa. E eles ficam diferentes.

Passei minha mão pelos cachos alheios, respirando frustradamente. Liz estava crescendo e tinha consciência do mundo a sua volta. Eu não conseguia mais guardá-la agora. Protegê-la. Era cada vez mais impotente. Não estive lá o tempo todo. Não vi isso acontecer.

— Liz, seu cabelo e sua voz são as coisas mais lindas do mundo. — Estiquei minha mão, esperando que ela pegasse. — Eu amo como você se veste, embora nem todos possam ver isso. E, carinha, não deixe que falem de você. Não deixe que isso te machuque, ok? Você é maior.

— Deus vai me machucar se eu namorar uma menina?

— O que?

Meu. Deus.

Ela se envergonhou de repetir e se alertou a porta do meu quarto. Meu coração se partiu em mais pedaços do que pude contar quando seus olhos se encheram de água e as bochechas ficaram mais vermelhas do que seu comum. Apertei sua mão mais forte.

— Você tem alguém, princesa?

— Eu não tenho. Mas… — Liz respirou fundo, e de repente pareceu muito mais velha do que realmente era. Me olhou nos olhos pela primeira vez, sem conseguir manter. — Se eu tivesse, Deus me machucaria?

— Não, meu pombinho. Ele jamais machucaria você. — Alisei seus cabelos, tirando-os do rosto, escutando seu primeiro soluço. Liz agarrou a minha camiseta com as mãos e respirou fundo. — Você pode me contar qualquer coisa que estiver acontecendo.

Under Pressure || l.s. Onde histórias criam vida. Descubra agora