Chapter ten: Lazarus

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Uma cama branca e alta. De solteiro. Lençóis brancos e fronhas brancas e cobertores brancos. Um gaveteiro ao lado, com apenas uma gaveta em madeira fosca que abria com grande dificuldade e servia apenas para guardar o que eu não queria que ninguém achasse, porque eu sabia que qualquer um que estivesse vasculhando a procura de algo revelador não teria paciência o suficiente para abri-la. Em cima, um livro, um rádio e um retrato. Eles estavam ali, sorrindo logo depois que Liz nasceu. Algo nessa foto sempre me fez arrepiar. E ao lado, um copo usado que por ali ficou. Um espelho grande, de corpo todo, com a madeira gasta e muito sujo. Um tapete marrom no chão, felpudo o suficiente para competir com a cama. As paredes recém pintadas em branco acinzentado, uma janela pequena no centro e um armário preto.

O que eu gostava mesmo era a estante.

Os livros favoritos ficavam embaixo, os azuis escuro no meio, os com títulos de uma só palavra na segunda prateleira e os que eu nunca havia lido, na primeira. Os infantis que peguei da biblioteca e acidentalmente não devolvi ficavam ao lado dos de uma só palavra, e ao lado deles estavam os com ilustrações. Em cima desses, biografias (mas eu não possuía muitas) e embaixo da minha cama ficavam os que Louis me emprestou, junto com algumas fitas.

Não haviam quadros, nem cores chamativas, nem nada além de um quarto branco qualquer. Era assim que eu via. Nunca me via em nada. Louis passou pela porta pela primeira vez naquele sábado e observou em silêncio, e eu confesso ter esperado ele rir da minha falta de personalidade, mas ele levou aquilo um pouco a sério demais:

— Eu poderia jurar que a porta de seu guarda roupa dá direto para Nárnia.

— É o lugar menos desconfortável da casa. — Dei de ombros. — Para mim, pelo menos.

— Eu gostei da estante.

— Obrigado.

Louis se sentou no tapete e perguntou se poderia tirar os sapatos.

— Dizem que nosso quarto reflete nossa mente. — Ele murmurou.

— Talvez.

— Obrigado por me deixar vir aqui. É muito importante.

— É meio sem graça.

— Não, não é. — Louis bateu as mãos contra o tapete, me chamando para sentar ao seu lado. — Você pode me dizer como está hoje?

— Feliz porque você está aqui.

Ele não pôde conhecer meus pais. Haviam saído com Liz. Sabiam de sua vinda, mas chegariam mais tarde.

— Como tem sido para você? Sobre seus pais, e…

Pisquei uma ou duas vezes, tentando achar uma boa resposta. Não que o assunto mexesse comigo, já era apático, mas eu só não sabia. Era ruim? Era um nada? Era um pesadelo?

— Quando eles saem eu fico em silêncio e faço chocolate quente.

Louis fez um estalo com a boca e riu baixo, acenando com a cabeça e me encarando no que parecia um olhar carinhoso.

— Vamos fazer chocolate quente, então. 

Nós descemos as escadas de madeira e levei Louis até a cozinha. Ele se sentiu à vontade o suficiente para se sentar diante do balcão e me ver preparar dois chocolates.

— Eu tomava isso no meu ensino médio. — Ele contou. — Quando ainda não gostava de café.

Percebi que nunca escutei sobre a época de escola de Louis. Também raramente falei sobre a minha.

— Como era o ensino médio?

— Oh, caótico! — Louis se sentou de forma ereta, animado. — Eu gostava de redações e jogava bola na educação física, matava algumas aulas de química, usava gorros e me sentia o ser humano mais rebelde do mundo todo.

Under Pressure || l.s. Onde histórias criam vida. Descubra agora