XI: Meu boss final é de borracha.

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Quando se param pra pensar o que seria apropriado para um demônio da luxúria, todo mundo pensa em um Íncubo ou uma Súcubo, entretanto, o que eu iria encarar talvez não tivesse nada a ver com esses seres em específico, afinal, já tinha derrotado a rainha deles logo antes de conhecer Gwyn. Meus passos ecoaram pelo ambiente escurecido e pude ouvir a respiração pesada da bruxa em minha mente enquanto podia jurar que a mesma transformada naquele florete estaria tremendo dentro de sua bainha. O ambiente ao meu redor começou a se revelar graças à minha adaptação visual, mais uma vez o vampirismo se tornando incrivelmente útil. A porta para o quarto de Gwyn simplesmente desapareceu, deixando o breu profundo ser instaurado no grande salão, adornado de esculturas e no centro daquele esplendoroso local, tinha um palco, aparentemente feito de madeira e circular, coberto por uma cortina de cor indescritível no momento por culpa da falta de iluminação.

— Espera, são que horas? — Gwyn pareceu mais se perguntar do que dirigir a pergunta a mim, por reflexo, tateei os bolsos a procura do meu celular, e assim como o Ofanim, ele não estava comigo, as projeções astrais são um saco!

Como se fosse um gatilho para algo acontecer, no fim da mensagem telepática de Gwyn, o badalar de um enorme sino ecoou pelo ambiente, me obrigando a levar as mãos aos ouvidos, sentindo um zumbido enorme em minha cabeça. Gwyn pareceu dizer algo mas, não consegui descrever seus dizeres, mas o tom de sua "voz" estava com tensão estampada nelas, se uma bruxa estava apreensiva com alguma coisa, era porque provavelmente aquilo era realmente ameaçador.

— SEJAM BEM VINDA, MINHA FIEL AUDIÊNCIA. — Um tom de voz suave e autoritário continuou a ecoar pelo ambiente, pelo soar meio mecânico e abafado do som parecia que quem quer que estivesse no interior das cortinas fazia uso de microfones e alto falantes.

As luzes acenderam em globos flutuantes próximos ao telhado, que tinha um aspecto arquitetônico similar à um set, ou seja, ferragens e estruturas que tinham criaturas diminutas, duendes, controlando cordas e orquestrando aquela definitiva entrada triunfal, quando as cortinas se abriram me deparei com algo que com certeza iria me fazer rir, se não fosse o fato de estar literalmente no purgatório. Era uma figura humanoide, que trajava roupas apertadas e brilhantes num tom preto e amarelo, feito uma abelha, uma coroa incandescente flutua em sua própria cabeça enquanto um dos globos disparou um feixe luminoso em minha direção, iluminando um círculo consideravelmente grande ao meu redor o ser apontou seu braço e achei meio estranho seu movimento, parecia que ele não tinha articulações.

— OLHA SÓ, PARECE QUE DEPOIS DE TANTO TEMPO, TEMOS UM DE OLHOS ESCARLATES PARA FAZER PARTE DESTA ESPLENDOROSA APRESENTAÇÃO! — A criatura gesticulou para me aproximar, assim eu o fiz, mantendo a mão no cabo do florete e pude sentir o temor que Gwyn sentia, provavelmente ela estaria nervosa caso eu perdesse e ela ficasse condenada a manter-se ali até o próximo que fizer o teste chegar até ela.

— Apresentação? — Levantei apenas a sobrancelha esquerda.

— AH, JOVEM VAMPIRO... VOCÊ ESTÁ OFICIALMENTE FAZENDO PARTE DO... SEXTÃO DO CALDEIRÃO!

Contive uma risada, subindo ao palco por uma escadinha de madeira adornada com peças de veludo vermelhas, no instante em que dei os primeiros passos acima daquela plataforma amadeirada, o ambiente fora do palco se transformou em uma literal arquibancada circular, lotada dos mais variados tipos de seres, desde humanos que provavelmente estariam fadados ao limbo, até outras criaturas sub mundanas nas quais nunca nem havia visto anteriormente.

— Sextão do Caldeirão, que original. — Disse com desdém.

— EU QUERIA COLOCAR DOMINGÃO, MAS TODO MUNDO IA CONFUNDIR COM AQUELE PROGRAMA QUE TEM OLIMPÍADAS DE GENTE CORRENDO EM UNS TRECO ESTRANHO, PEGADINHAS SEM GRAÇA E QUADROS COM GENTE CONSERTANDO CARROS! — A voz do indivíduo reverberou pelo ambiente e seu público respondeu com salvas de aplausos.

Os Contos de Nova Atlântica I: O Culto InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora