Entre duas vidas

CAPÍTULO 2 - GUERRA

"- Sou como uma estrela, posso explodir a qualquer momento; talvez quando você menos imaginar, meu brilho te fará lembrar de mim. -disse ele antes de virar o terceiro copo de vinho ."

  Exausto, quase se arrastando, com as botas atoladas na neve, passos lentos e pesados, o soldado Reynish retornava à sua casa, carregando uma enorme mochila sobre as costas, o olhar sombrio e entreaberto deixava claro a sua insatisfação.
  Nevava muito, o frio intenso quase imobilizava seu corpo, o nariz estava extremamente vermelho e seus lábios tremiam, sua visão estava ficando cada vez mais turva, e não havia ninguém ao redor para o ajudar. Parecia estar perdido em meio ao nevoeiro branco; como num "deserto congelado"; se esforçava para continuar a caminhar, com a respiração ofegante e o corpo debilitado. Já não conseguia ver mais nada, estava passando sobre um lago congelado, em apenas alguns segundos ouviu-se um barulho de algo se partindo lentamente. Seus pés vacilaram e em alguns segundos estava submerso na água congelante.
  Sentia-se imóvel, sem poder se mexer, como se um choque tivesse o paralisado, estava ficando sem ar e sua visão cada vez mais escura...

- "Será que cheguei ao fim"? -pensou ele.

  Abriu os olhos de repente, o coração acelerado e o corpo coberto de suor demonstrava o seu pavor, ele se sentou na cama. Passou as mãos pelos cabelos lisos, olhou para o espelho oval ao lado e disse para si mesmo:

- Ainda bem que foi só um sonho.

  Ao seu lado, sua esposa dormia profundamente. Ele se aproximou dela e lhe deu um leve beijo sobre a testa, saiu da cama, calçou seus chinelos e seguiu até o banheiro. Era de madrugada e um friozinho tomava conta do local. Reynish tomou um banho bem demorado e saiu para o trabalho.
   Durante o caminho, ligou o rádio num tom médio enquanto escutava uma música antiga e fumava seu cigarro eletrônico.
  Há dois anos Reynish trabalhava como fotógrafo de eventos, sempre gostara do que fazia, mas estava se tornando exaustivo a cada dia.
  Ao chegar, encontrou seu líder (fotógrafo chefe), o cumprimentou e disse:

- Hoje é meu último dia aqui, senhor.

  Albeny ficou muito surpreso e decepcionado, então disse:

- Você não pode fazer isso! É um dos melhores fotógrafos que eu já conheci.

- Sinto muito Albeny, mas já fiz minha escolha.

  Albeny olhou para ele incrédulo e indagou:

- É uma pegadinha, né?

  Reynish o olhou com seriedade e disse:

- Não, não é uma pegadinha.

- Reynish, por que tomou essa decisão de repente?

  Ele pensou por um instante e respondeu:

- Assunto pessoal, não quero falar sobre isso.

- Ok, sentiremos sua falta aqui parceiro.

  O dia se passou normalmente, mas para Reynish parecia ter sido mais de um dia. Estava exausto, o que mais queria era chegar em casa. Estava arrumando suas coisas em sua sala, quando de repente, Albeny apareceu e disse:

- Reunião agora! É indispensável a presença de todos.

- Ok!

  Ele soltou um suspiro e seguiu Albeny pelo longo corredor até o final. Ao chegarem na sala de reunião, Albeny abriu a porta e entrou primeiro, o local estava completamente escuro, Reynish esperou na entrada, de repente seu chefe acendeu a luz, seus olhos se arregalaram, ficou completamente surpreso com o que encontrou, em meio ao nervosismo começou a rir.